Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 24 de março de 2010

A classe se levanta (2)

(Movimento na web que vem ganhando força entre os artistas)



DIA 27 DE MARÇO DIA MUNDIAL DO TEATRO
DIA NACIONAL DO CIRCO


MANIFESTAÇÃO

CONTRA O DESCASO COM A CULTURA

No dia 27 de março, dia mundial do teatro e dia nacional do circo não temos muito o que comemorar. Muitos são os ataques aos direitos dos artistas e da população. Em Belo Horizonte, recentemente, vimos parte dos recursos do fundo municipal de cultura serem cortados, a proibição de uso do espaço publico, a praça da estação que é também um bem cultural publico da cidade e que infelizmente é visto como um espaço privado. Isso se deu também com o FIT-BH – Festival Internacional de Teatro de Palco e Rua de BH. Na quinta-feira 18 de março numa coletiva com a imprensa a Fundação Municipal de Cultura anunciou o CANCELAMENTO do festival, alegando os motivos mais absurdo, dentre eles: A copa do mundo, eleições 2010 e uma crise criativa mundial que determinou a falta de espetáculos de qualidade para a realização do festival. Na manhã do dia seguinte (sexta-feira 19 de março) aproximadamente 200 artistas foram para a porta da fundação em uma manifestação exigindo um debate franco sobre o acontecido, pois o FIT-BH é também um patrimônio cultural da cidade garantido em lei (lei nº 9517, de 31 de janeiro de 2008). Como resultado à manifestação, foi recebido uma comissão com seis representantes da categoria para uma reunião e a FMC recuou na decisão, garantindo estudar a possibilidade de realização de um FIT menor. Entendemos isso como um primeiro passo para conquistas dos artistas, pois foi resultado da mobilização da pressão popular em um momento em que a atual administração dessa Fundação é marcada pela falta de dialogo e autoritarismo, o que vem resultando em decisões equivocadas sem a consulta previa da categoria.

Entendendo a importância da mobilização dos artistas e sociedade e que também devemos avançar para termos melhores conquistas. Propomos uma manifestação no dia 27 de março, a fim de denunciar todo o descaso com a cultura, exigir a realização do FIT-BH, melhores condições de trabalho para os artistas e de acesso para a população. Contra toda forma de mercantilização da cultura.



DIVULGUE, PARTICIPE, AJUDE A CONSTRUIR ESSE ATO!


DIA DA MANIFESTAÇÃO
27 DE MARÇO (SABADO)



● CONCENTRAÇÃO NA PRAÇA DA ESTAÇÃO A PARTIR DAS 13H
● PASSEATA ATÉ A PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE – SAIDA AS 15H.



ABAIXO MANIFESTO CONTRA A GESTÃO AUTORITÁRIA
NA CULTURA DE BELO HORIZONTE


No próximo dia 27 de março deveríamos comemorar o dia internacional do teatro, mas neste ano a data não é merecedora de celebração festiva. Afirmamos isso com total certeza frente ao momento crítico no âmbito da gestão pública da cultura que vive a capital mineira.

Após acompanharmos a extinção espúria e na “calada da noite” da Secretaria Municipal de Cultura em 2004, vimos surgir uma Fundação Cultural inóspita, inoperante e, mais recentemente, com uma administração autoritária. O esvaziamento conceitual e a irresponsabilidade política dessa gestão chegaram a tal ponto que programas estruturantes e bem sucedidos como o Arena da Cultura e o BH Cidadania foram repentinamente suspensos. Quando imaginávamos que a situação não poderia ser pior, fomos afrontados com uma súbita mudança no orçamento da Lei Municipal de 2009 e o conseqüente atraso na divulgação de seu resultado. Não obstante tudo isso, o resultado divulgado é incoerente com a regulamentação da lei: o Fundo Municipal não recebeu os sessenta por cento de recursos garantidos pelo edital. Continuando a seqüência de leviandades, recebemos o comunicado do cancelamento da 10ª edição do Festival Internacional de Teatro a cinco meses de sua realização, acompanhado de justificativas inconsistentes e que desconsideram a importância do evento já garantido por lei. O mesmo despotismo que levou o prefeito Márcio Lacerda a proibir manifestações artísticas na Praça da Estação se reflete na atual administração da Fundação de Cultura.

O desrespeito com os artistas e trabalhadores da Cultura da cidade, sem a menor preocupação com a repercussão que tais fatos podem ter no trabalho e na sustentabilidade desse segmento, é recorrente nesta gestão. Não há mais como ficarmos calados e imóveis! Convocamos todos aqueles envolvidos com a Cultura da capital mineira, sejam profissionais da área e sociedade em geral, que distribuam esse manifesto pelo país.

Um comentário:

Walmir disse...

Mano blogueiro,
ao longo do tempo a organização política das classes artísticas se perdeu. Os sindicatos de jornalistas, de músicos, de artistas plásticos, de teatro deixaram de atuar em profundidade na formulação de políticas. Foi através da organização desses órgãos representativos que ao longo dos anos 1970/80 fez-se a redemocratização do país, conquistamos o ministério da cultura, a secretaria de estado da cultura, a secretaria municipal de cultura, conselhos consultivos e luta pelos conselhos deliberativos nos órgão públicos de cultura, acordos com o governo para que propaganda pública fosse feita por agências de publicidade mineiras e por artistas e profissionais de Minas, a implementação das leis de incentivo federal, estaduais, municipais, inúmeros teatros novos, grupos e empresas profissionais, escolas técnicas e superiores, publicações diversas, projetos como as Campánhas de Popularização, interiorização cultural abrangendo vastas regiões do estado,ampliadas possibilidades de trabalho e de acesso ao bem cultural e artístico.
Estas conquistas tiveram, no entanto, seu lado ruim.
Infelizmente.
O sentido de coletivo que havia e que possibilitou todas estas conquistas se perdeu.
Foi perdido em função de um olhar mercadológico onde os artistas, mesmo sem perceber, escolheram caminhos de puro individualismo que é a doença da individualidade. Os órgãos representativos foram abandonados, perderam força e credibilidade. Então surgiram grupamentos que lutam entre si (teatro de grupo x teatro empresarial, por exemplo, de tristes e vexatórios embates), cada qual querendo mesmo puxar as sardinhas de alguns benefícios conquistados para seu próprio proveito.
O poder público viu-se então à vontade para, diante da cisão, fazer o que diziam e hão de dizer sempre os "cabeças de planilha", administradores que olham os números e o débito/crédito sem levarem em conta que o retorno cultural é um bem inestimável em si, diverso e incompatível com o retorno fianceiro.
Onde a representação das categorias dentro desses órgãos? Tivesem representados lá, com poder de voz que fosse, não teria sido desmontada a SMC, o Arena da Cultura, o próprio FIT aconteceria de maneira diversa.
Tivessem as categorias força de representação, vontade representativa, isto não teria acontecido.
Por que, pois, protestar contra a ausência do evento agora, se o importante é que dentro do FIT, da Fundação, houvesse representação das categorias envolvidas? Representantes indicados pela categoria?
Mas não, o próprio FIT, sua estrutura, deixou de se referir às categorias.
Refere-se aos interesses dos "cabeças de planilha" do governo.
O FIT é distante, intocável e por isso anti-democrático em sua estrutura e gestão.
Sua estrutura é estrutura que não reflete o ambiente democrático.
Se fosse um estrutura democrática não teria suas ações manipuladas.
E quem aceita dirigir o FIT, ainda que oriundo da categoria artística, passa a responder ao poder dos "cabeças de planilha" que promofem seus "choques de gestão" à socapa.
Aceita e exercita-se nos meandros do populismo que tem raízes fincadas fundo em nossa cultura de apadrinhamentos.
Penso que a luta das categorias deve se fazer não em protestos pelo FIT adiado, mas por exigência de participação efetiva na gestão pública da arte e da cultura.
Vejo, assim, o adiamento do FIT, como oportunidade de redirecionar ações para algo que suplante a mesquinharia de um capitalismo que repete entre pares a nefasta guerra fiscal que presenciamos entre estados e municípios. E mais, vejo estes protestos, em sua essência, não como boa manifestação popular, mas como testemunho claro da falta de organização das classes artísticas.
Abraço, mano.