Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

sábado, 31 de julho de 2010

Do lado de lá do espelho

Eleutério, o catador de latinhas, costumava passar horas diante do espelhinho velho de bolso. Não que se achasse belo ou coisa parecida – sabia-se bem comum para os miseráveis de meia-idade. O que fazia o sujeito viajar em tudo o que pudesse refleti-lo era aquele encontro mágico com o seu duplo. Era como se pudesse olhar para dentro e se ver do lado de fora.

Aquilo provocava no morador de rua capacidade descabida de amplitude. Homem de pouca sorte com os estudos, suas interrogações iam muito além do quase nada que conhecia. Perdia-se em pensamentos complexos, físicos e filosóficos, que só o outro, no espelhinho, dava conta de compreender. Desentendimentos banais também partiram de seu avesso. Deixar o cigarro e a bebida, por exemplo, foi sugestão do lado de lá a que ele não conseguiu dar ouvidos.

Às vezes confuso, embaçado, às vezes claro, quase transparente, Eleutério começou a gostar tanto do seu outro que resolveu se abrir com o tal duplo. Divertido e atento, passou a emprestar a orelha ao “sopro de voz da boca fechada” – era como nomeou o sussurro que vinha das entranhas. Contudo, Eleutério não era de muita conversa. Faltavam-lhe palavras que dessem concretude às próprias ideias.

E assim, sempre só (s), fez-se melhor amigo de si mesmo. Aprendia com seu outro a sublimar a carência. Fora as necessidades primárias, que o mantinham com um mínimo de saúde, o resto já não lhe fazia a menor diferença. Contentava-se em dormir no chão e contar estrelas. Numa madrugada de pouco sono, fez voto de silêncio porque seu externo entendeu que o planeta estava fora de prumo. Violência, cegueira, miséria e corrupção lhe distorciam a imagem de barba longa, pele e osso.

Se fora o universo rumava em desencanto, por dentro era puro encantamento. A dificuldade que lhe maltratava o corpo engrandecia-lhe ainda mais a alma. Absolutamente desgarrado do passado – tempo em que teve família, emprego e CPF –, Eleutério se sentia pronto para seguir de mãos dadas com seu duplo. Já não dependia de reflexo nem dos olhos abertos para enxergar a si mesmo.

Foi tudo muito rápido, ligeiro como a brevidade da vida. Estava na Avenida dos Andradas, sob o viaduto, a um passo da calçada, quando foi jogado para o alto por bêbado em carro barato. Latinhas espalhadas pelo asfalto, espelhinho de bolso quebrado, Eleutério e seu duplo não ficaram para esperar pelo Samu.


Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 31/7/10

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Felicidades, Violeta!

Marataízes, a “pérola capixaba”, está linda. Passei fim de semana inesquecível na pequena cidade praiana que marcou época de luz da minha adolescência. Levei os filhos para conhecerem a saudosa Barra do Itapemirim com suas águas – rio e mar – e gente hospitaleira. Fiz prece na simpática Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, erguida em 1771, de costas para o Atlântico. Que energia boa tem ali! O velho Botelho desde sempre fala que aquele não é um templo qualquer. Pedimos juntos pelos que amamos e pelos que amam quem amamos.

Pescamos sobre as pedras que dão para o encontro do rio com o mar. Foi uma farra! Deitamos o cabelo nos bagres e robalos que nos deram o almoço de domingo na casa do Luís, amigo das antigas, que nos recebeu com muita alegria. O Luís é comerciante de sucesso na terra do rei Roberto Carlos, Cachoeiro de Itapemirim, que fica a 46 quilômetros de Marataízes. Gosta tanto da “pérola capixaba” que vai e volta todos os dias. “Não abro mão do aconchego desse lugar, Josiel”, disse, feliz, de havaianas, na varandinha com vista para a Ilha do Farol. Obrigado pela receptividade, amigo!

Foi um passeio e tanto naquelas bandas do Espírito Santo. Sem pressa, visitamos de Itaoca a Lagoa Dantas. Esquadrinhamos Marataízes em linha, como quem gosta do que é bom em busca de paz. A família reunida, em seis, fez um pacto: “Nada de celular, computador ou televisão”. Gabriel e Tiago resistiram, claro, especialmente por causa dos games e da internet. Mas até que se comportaram muito bem. Do fim de semana inteiro, passaram apenas duas horas numa lan house – o que considero um feito extraordinário para mais de 60 horas de passeio.

O mais foi verdadeiro milagre: tempo real dedicado à presença. Ao olho no olho, como antigamente, quando as relações virtuais eram apenas coisa de ficção científica. A pé ou de bicicleta, longe dos automóveis e da poluição. Caminhadas sob o sol da manhã e pedaladas no descortinar da noite. Uma beleza! E a praia central de Marataízes, de fato, está até mais bonita do que vi nas fotos. O mar recuou com os espigões, criando muito espaço na areia e novas áreas de lazer. Parece que o mesmo trabalho feito ali está planejado para outros municípios do estado, ameaçados pelo avanço das marés.

O Luís, o velho Botelho e a Maria Helena comandaram conversa que não me sai da cabeça: trocar Santa Mônica por Marataízes. Fiquei de pensar no assunto, já que o pai está negociando um belo imóvel na Praia da Cruz. Fomos ver juntos e fiquei encantado com o casão, que fica perto do Iate Clube, na Avenida Miramar. Desde que está no Espírito Santo, casadão e feliz da vida, o velho Botelho remoçou, por baixo, uns 10 anos. Minha casinha está mesmo precisando de reforma. Quem sabe não é hora de erguer novo paraíso? Reunião urgente! Mulher e filhos amados… e então?

Por falar em mulher amada, feliz aniversário, Violeta! Muitas alegrias, sempre!

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 28/7/10

sábado, 24 de julho de 2010

Dionísio, o carregador de defuntos

Homem de vida dupla – motorista e ator de teatro –, Dionísio não conseguiu trocar plantão de 24 horas em plena temporada. Para evitar que a plateia ficasse na mão, não teve dúvida: estacionou o rabecão com sete presuntos na porta da pequena casa de espetáculo. Sala vazia, quatro pagantes e cinco cortesias. Mal dava para o café. Na polícia, ganhava o pão; com a arte, fazia valer a vida. Aos vinte e tantos anos, quase trintão, não havia o que lhe dava mais felicidade. Só sexo e chocolate para lhe dar tanto prazer. Vinho também: Dionísio era chegado numa festa. Contudo, seu negócio era o rito do palco. Sob as luzes, agigantava-se, virtuoso.

Artista amador desde garoto, decidiu se profissionalizar. Queria dar basta ao teatrinho raso, tão comum nas suas rodas cheias de graça. Procurou escola séria, na Praça da Liberdade, e gostou da doçura das duas secretárias. Também se entusiasmou com a fala macia do homem magro, alto, de barba, que estava do outro lado do balcão. “Parece mais dom Quixote”, pensou, encantado por Cervantes. Motivadíssimo, desceu a caneta na ficha de inscrição. Orgulhoso – emocionado até –, sorriu ao ver aquele movimento no corredor. Sentiu na pele contraste interessante: acostumado com os cadáveres no saco escuro, gostou de ver povo feliz vestido de preto.

Querido entre os companheiros de polícia, negociou escala de serviço para ter livres as noites das segundas, terças e quartas-feiras. Dias de estudo. Vez por outra, apenas, o esquema falhava. Aguerrido, dava seu jeito – já que estava decidido a não faltar às aulas. No primeiro encontro, com sala lotada, mandou logo recado para que todos soubessem: “Não estou aqui para ver qual é, professor. Quero o teatro para toda a vida”. Outra gente obstinada também falou com paixão. Mas em ninguém havia tanto brilho no olhar como em Dionísio. Ao longo de todo o curso, fez-se sempre presente, enquanto meia dúzia pingada e medíocre vacilava por preguiça ou absoluta falta de noção.

O trabalho com mortos de toda sorte e idade fez de Dionísio um sujeito raro. Conhecedor da brevidade da vida, aprendeu respeito com os segredos do silêncio. Por conta própria, observando homens de verdade em resgate, decifrou a disciplina que salva e faz diferença. Pertencia, humilde e soberbo, à força do empenho e da união dos que somam para dividir em igualdade. Na turma de jovens intérpretes em exercício, por obra do que é mais natural, Dionísio deu exemplo. Líder, levou adiante projeto de peça de formatura com dedicação que entrou para a história da instituição. Convenceu mestres e arrebatou seguidores.

Diplomado em arte, dinheirinho era pouco. Com o tempo, cada vez mais dedicado, Dionísio manteve vida profissional paralela para honrar os compromissos. De dia, seguia a viver recolhendo seus mortos. À noite, embevecido, nos braços da plateia.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 24/7/10

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Amanhã, no Aqui

"Dionísio, o carregador de defuntos".
Homenagem aos homens de vida dupla.
Sábado, nas melhores bancas de jornais da cidade.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Milagre em Marataízes

A praia central voltou a existir...


...depois que espigões foram construídos ao longo da orla, que...


...já esteve tomada pelas águas

Pausa para matar a saudade do pai, dos filhos e do mar. Em tempos conturbados, com Belo Horizonte na crista da onda nas páginas policiais de todo o Brasil e também no exterior, o corpo e a mente pedem socorro. Saudades da Belo Horizonte de paz. É muito para qualquer homem de bem: maníaco estuprador; bando da degola; Eliza Samudio. Chega! Um caso atrás do outro. Triste. Muito triste o terror dos últimos tempos. Nesse ritmo não sei aonde vamos parar, amigo leitor. A violência está por destruir o pouco da humanidade que ainda nos resta. É lamentável pensar assim. Fazer o quê? Veio na cabeça, desci a caneta e deixei a linha correr solta na caderneta. Mas, hoje, não toco mais em assunto ruim. Não é justo trazer as más notícias de BH para a casinha na praia.

Então, diante do mar de Santa Mônica, renovo as minhas forças para dar conta das tribulações da capital mineira. É bem verdade que o Espírito Santo não é lá só calmaria. A barra por algumas dessas bandas é de fazer tremer os ossos. Mas é aqui que encontrei meu pequeno paraíso. Já cruzei muita areia desse chão. Fiz muitos amigos por aqui também. Semana passada, por ocasião do texto intitulado “Decepção no Espírito Santo”, os amigos escreveram dizendo que, quando leram o título, ficaram assustados, achando que eu estava falando mal da região. Depois, coluna lida, souberam que a questão era a tristeza dos meus garotos, flamenguistas, com a situação do ex-goleiro rubro-negro. Pouco a pouco, na medida do possível, estão deixando o assunto de lado.

Os dois ainda estão dormindo. São quase 8h e estão lá, apagadões. Também, pudera: ontem (sábado) foi uma farra. O primeiro dia de férias, com a família reunida, é sempre uma festa. O velho Botelho preparou jantar que mais parecia aniversário. O pai é incrível. Está com a mão cada vez mais acertada na cozinha. Fez peixada de fazer inveja em muito restaurante chique do Espírito Santo. Violeta disse que aprendeu. Quero só ver se ela vai dar conta de repetir o tempero do velho no almoço de amanhã. Quando estamos aqui, claro, comemos peixe todos os dias. É até maldade contar isso aqui, porque sei que a turma de Santa Efigênia é chegada num bom peroá e fica de água na boca. Mas fazer o quê? O peixe daqui é bom mesmo, uai. Vão ter é que esperar até 8 ou 9 de agosto, quando volto com o isopor carregado. Aí, vai ser uma beleza, pessoal!

Esta semana vamos visitar alguns amigos em Marataízes. Fica perto daqui. Pela Rodovia do Sol é um pulo. Estou curioso para ver de perto as imagens das fotos que me mandaram de lá. Inacreditável, amigo leitor. Verdadeiro milagre: alguns cientistas muito bons de ideias recuperaram a praia central de Marataízes. O lugar foi bela praia, aí a água avançou e chegou a destruir o calçadão e ameaçar toda a extensão à beira-mar. Agora, depois de dois anos de trabalho, construíram uns espigões, dragaram areia do fundo do mar e, assim, recuperaram a praia. Parece mentira, mas não é. Vi só por foto e por vídeos na internet. Quero ver ao vivo porque é difícil de acreditar. Fico contente porque tenho muito carinho pelo município. Lá, vivi momentos inesquecíveis com a família. Vou conferir e conto pra vocês.


Bandeira Dois - Josiel Botelho - 21/7/10

sábado, 17 de julho de 2010

O barraco de Sorocaba

O que mais chama a atenção no “barraco de Sorocaba” – como ficou conhecido na internet o caso da advogada que publicou vídeo amador de conversa, confissão e fúria em cima da comadre, rival, amante do marido – é a cara de pau do traíra, que, por cinco anos, levou vida dupla, passando a perna na mulher e no vizinho amigo. O vídeo, com pouco mais de 10 minutos, foi copiado e replicado na rede mundial de computadores. Está no YouTube para quem quiser ver e ganhou destaque em jornais e canais dos mais respeitados da televisão. E, claro, virou piada pronta para programas de humor.

Cícero, o galã traíra, 54 anos, embora reconheça que foi ridicularizado pelo episódio, vem dando entrevistas com pinta de celebridade, esbanjando oratória e charme em cima das entrevistadoras. Não é para menos: tipinho 171, cabelo acaju, mais parecido inventado, como os estereótipos de humorístico barato, o comerciante foi disputado a tapa por duas belas loiras de trinta e poucos anos, de classe média alta de cidade do interior de São Paulo. Disse que não se acha feio como o esculhambam os internautas e pede apenas 10 minutos de conversa para que fique bonito.

No Fantástico, em resposta à repórter Renata Ceribelli sobre o que falaria para o amigo traído, marido da amante, ele foi professoral: “Não digo para o marido dela, mas diria para todos os maridos: escute mais sua mulher, fique mais atento, elogie... perceba mais o que está em volta de você, porque, queira ou não queira, a traição, somente, num casamento mais duradouro, é ver a culpa de alguém. Alguém está faltando com alguma coisa pra alguém... então, alguém tem que repor isso daí”.

O fato é que ele, a mulher e o outro casal eram unha e carne. Companheiros de viagens, festas e programas de família. As fotos que circulam na internet, extraídas de páginas eletrônicas de rede social, são só sorrisos e abraços. Até que a casa caiu para o casal serelepe. A câmera-arapuca capturou uma hora e meia de barraco. Segundo a mulher traída, os 10 minutos e 18 segundos postados seriam para acesso exclusivo de amigos. Sangue-frio, chegou a pensar em exibi-lo em festa cheia de conhecidos para desmascarar a dupla traição. Não deu conta de esperar e o colocou no Orkut. De lá, o feito multiplicou-se, alcançando centenas de milhares de acessos.

No pequeno filme de sucesso, de plano único, tosco, e câmera fixa, as duas mulheres estão frente a frente. Traída, traidora e um dossiê com fotos, documentos, páginas e mais páginas de e-mails íntimos, trocados em cinco anos de “amor verdadeiro”. No calhamaço, há também muita sacanagem, com referências a acessórios de sex shop e frases picantes impublicáveis. A conversa esquenta, a coisa ferve e acaba em tabefes e puxões de cabelo. A amante despenca da cadeira e acaba pisoteada pela ex-amiga, comadre e confidente. Fim do vídeo, da família, da farsa e da amizade.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 17/7/10

Dilmaboy

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Investigação teatral

Friedrich Dürrenmatt (1921-1990)

Hoje, amanhã e domingo, às 20h, na PUC (Praça da Liberdade), tem "Laboratório Dürrenmatt". Uma experiência absurda que vale ser compartilhada. Espero os amigos!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Los tres amigos




Decepção no Espírito Santo

Na velocidade da semana, lá se foi a Copa 2010. África do Sul é assunto passado. Agora, com fé, é esperar por 2014. E o melhor: num Brasil emergente, cheio de promessa. Copa do Mundo é um barato. O futebol é tudo de bom, sabemos. Mas é pretexto apenas. O negócio é o encontro das nações, a integração dos povos e os investimentos generosos que o país-sede recebe. Não sou especialista no assunto. Deixo a profundidade do tema para os entendidos, os que sabem das coisas. O que sei é que, no fim das contas, gosto da festa e da alegria contagiante que há no esporte. Sou grande fã das Olimpíadas e do Mundial. Fora as decepções – quem não as tem? –, fica sempre um bom exemplo de garra e determinação.

Parabéns à Fúria e sua trupe de extraordinário talento. Enfim, prevaleceu o bom futebol. A Espanha fez por merecer o título. Estreou com derrota para a Suíça, deu a volta por cima e encantou a todos com o seu futebol-arte – longe das botinadas, tão comuns nos últimos tempos. Agora, espero, vamos ver os técnicos que só pensam em resultado quebrar a retranca e deixar correr solto o talento. E vamos combinar que, tirando os queridinhos do Dunga, talento é o que não falta nos gramados brasileiros. Este ano, é verdade, pouca gente acreditava no Brasil. Para ter uma ideia, dos 10 participantes do bolão do Adelson, por exemplo, dois apenas apostaram na nossa Seleção campeã. O resto pensava em Argentina, Alemanha e Holanda.

Só o Valdivino apostou na Espanha. Na reta final, numa arrancada espetacular, superou o Osmar, a Sueli e faturou sozinho o montante. Valeu, Valdiva! Sábado é dia do churrascão, hein!? É que vamos comemorar nossa ação entre amigos na casa do Pedro, em Santa Luzia. O companheiro quer estrear a obra que fez na área de serviço com telhado, churrasqueira, quiosque no quintal e tudo. Pelas fotos que ele mostrou para a turma, o lugar ficou uma beleza. O Pedro está todo animado. Disse até que aprendeu a fazer um pão de alho melhor que o do Chico do Churrasco. Difícil. Vamos ver se o mestre-cuca dá conta. O importante é a festa, com responsabilidade e alegria.

Motivos não faltam para comemorar, amigo leitor. Encerrei com muita alegria o semestre na universidade. Não foi fácil. Foram horas e mais horas de estudo para não fazer feio. Não podia decepcionar a família, que vem dando a maior força. Em tempos de notícias estarrecedoras envolvendo sexo, ignorância, bandidagem, assassinato e falta de amor, o que posso dizer é que, a cada instante que passa, estou mais convencido de que são dois os únicos caminhos para o bem: estudo e trabalho. Com a cabeça ocupada para o bem, não há mal que possa invadir o coração.

Para encerrar, no país do futebol, estou triste com o caso do goleiro Bruno. De amargar a decepção dos garotos no Espírito Santo. Meus filhos, lá em Vila Velha, torcedores do Flamengo, estão chateadíssimos com o possível envolvimento do atleta no desaparecimento de Eliza Samudio. Difícil acreditar em tudo o que tem sido notícia. Uma pena. Gabriel e Tiago não usam mais as camisas rubro-negras de número 1.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 14/7/10

sábado, 10 de julho de 2010

A dama e o vagabundo

Não importa o passado da menina morta. A morte é a maior das redenções. Maria-chuteira ou atriz pornô, convenhamos, não interessa. Melhor seria viva, na Rússia, por vontade própria, fazendo a alegria dos rapagões solitários. Ou ainda, contratada por produtorazinha qualquer, ganhando o pão com a própria carne. Desossada e devorada por cães famintos, sinceramente, não dá para crer. Nem o cineasta inglês Guy Ritchie, roteirista e diretor de Snatch – Porcos e diamantes, foi capaz de ir tão longe com suas ideias de sangue. Quem disse que a vida não supera a ficção?

Por hora, até o fechamento desta edição, falta comprovar. O tudo – que não é pouco – são apenas provas objetivas e subjetivas. Depoimentos truncados, testemunhas aterrorizadas, lugares e mais lugares esquadrinhados, anunciados em matérias de rádios, tevês, jornais e revistas do Brasil e também no exterior. Prato cheio para os urubus o assunto bárbaro interessantíssimo: jogador de grande clube de futebol suspeito de dar cabo de ex-amante. De um lado, atleta expoente, ex-miserável, endinheirado. Do outro, mariazinha de história infeliz querendo aprumar. Poderia ser somente mais uma pauta para revistas, sites e programas de fofoca, desses aos montes, que ajudam a emburrecer a massa. No entanto, pela relevância do que pode ser fato, é manchete de polícia.

Sou um otimista. José Saramago escreveu que o otimista só pode ser milionário ou estúpido. Então, estúpido, espero que a menina morta esteja viva. Que apareça dizendo que bebeu além da conta e acordou num navio rumo ao bem longe, sem rádio, internet ou celular. Gostou do lugar e quis tirar férias do filho de 4 meses, que, havia muito, não a deixava dormir. Também estava cansada do pai pecador, acusado de estupro, e da mãe ausente, lá no Mato Grosso do Sul. Um desejo estúpido: que a menina morta volte a sorrir. Que esclareça e desarme o circo bizarro armado pelos mais competentes policiais e jornalistas de dois grandes estados brasileiros. E por fim, que o goleiro enjaulado – depois, é claro, de responder pelo que já é crime – possa voltar a fazer suas defesas espetaculares e, até, se divertir com seus quadris de aluguel nos bacanais de outrora. Que o pesadelo chegue ao fim para os bons cidadãos envolvidos, enrolados no caso à toa, por apreço e amizade.

Espero, mais estúpido ainda, que esse pobre adolescente, responsável pela reviravolta da semana, seja um novelista em potencial. Um garoto de mente extraordinariamente fértil, leitor de Stephen King. Por que não? Quem sabe, por alguma razão, o garoto não estava aborrecido com o ídolo rubro-negro e decidiu aprontar das suas? Bobagem. Coisa de gente pequena, sem juízo, simplesmente. Reconheço, amigo leitor: há em mim uma estupidez que se recusa a acreditar que todo o mal, dor, tristeza e burrice que há por trás dessa história assombrosa seja verdade. Sou menos Guy Ritchie e mais Walt Disney, memorável criador de A dama e o vagabundo.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 10/7/10

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Amanhã, no jornal Aqui

Nas melhores bancas de jornais da cidade, em Vida Bandida, não deixe de ler "A dama e o vagabundo".

A Missa vai ao Teatro

Fé e arte se misturam no Espaço Cultural PUC Minas. Ontem, à noite, "Laboratório Dürrenmatt", que estréia na próxima semana, cedeu tempo e espaço de ensaio para missa celebrada pelo Padre João Nogueira, da Paróquia São Lucas. O encontro, promovido pela pela Pastoral da universidade e pela Escola de Teatro, foi muito bem recebido. Um rito de louvor e boa sorte aos homens de bem, que fazem da arte sagrado ganha-pão.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

E lá se foi a ‘Copa América’

Desde a última Bandeira Dois, lá se foi a Copa para o Brasil. Uma lástima. É. Também no futebol a fila anda. Na velocidade dos acontecimentos, o pensamento caduca. Bastou uma semana e o Dunga já era. Eu, aqui, que fiz campanha para que o filho do “seu” Edelceu tivesse sossego para trabalhar, não posso deixar de lamentar – embora o fracasso do técnico não tenha sido nenhuma surpresa para ninguém. Mas, besta que sou, com aquele primeiro tempo contra a Holanda, confesso que cheguei a acreditar numa grande final contra os hermanos. Fica para o futuro. E o Dunga? Passado. Quanto ao Felipe Melo, coitado. Sujeitinho de azar, hein!? Também pudera, os deuses da bola não gostam de gente esquentadinha, nervosinha, que perde a cabeça à toa. Não conheço caso de gente assim que seja feliz na vida.

Tenho verdadeiro pavor de gente nervosinha. É de arrepiar todo e qualquer cidadão que, por qualquer motivo, perde a razão. A Sueli, amiga e entendida como ninguém quando o assunto é futebol, está certa: o Felipe Melo devia passar uns tempos num mosteiro ou numa clínica especializada em bons modos. Assim, quem sabe, poderia merecer mais consideração. Pronto. Desabafamos, Sueli. Vamos voltar ao que interessa. Uma semana. É tempo demais. Tempo para a chamada “Copa América” – tamanho o sucesso das equipes latinas – ir para o saco. Brasil, Argentina e Paraguai já voltaram para casa. Bom, ao menos não vamos ver o Maradona pelado, pagando promessa em praça pública de Buenos Aires. Já pensou? Seria bem pior que perder o Mundial para a Argentina.

Quanto ao valente Paraguai, preciso concordar com o amigo Diogo e com sua família. Eles têm razão: superou as expectativas por demais a campanha da seleção do Gerardo Martino, lá na África do Sul. Aguerrida, por muito pouco não avançou às semifinais em cima da tão temida Espanha. Já Messi e companhia, atropelados em campo, nem puderam anotar a placa do trator alemão Schweinsteiger – até aqui, cotadíssimo para ser eleito o melhor jogador do Mundial. E o outro, hein!? O banheira Klose. Parece o Tramontina, rei da rebarba, goleador das peladas de Santa Efigênia. Com ele, homem-gol, é só esperar que uma hora a bola sobra, facinha, pedindo pra ser empurrada pra dentro do gol. Assim vai ser fácil superar o nosso Ronaldão, maior artilheiro de todas as Copas. Agora, que a Alemanha tem jogado com pinta de campeã, isso não dá para negar.

Por fim, ontem, torci até para o Uruguai. Uma pena. Quem descasca essa laranja, amigo? Francamente, a Holanda nem é assim de entusiasmar quem gosta de um bom futebol. Agora, é esperar para assistir aos bons jogos que restam. O Osmar está confiante de que vai faturar o bolão. Desde antes da Copa, bom palpiteiro e de banda para a Lua, está absolutamente convencido de que dá Alemanha x Holanda na final. Lidera o combinado do Adelson com mais de 20 pontos de diferença para o segundo colocado. Bem faz a Violeta, que, durante a Copa, já leu uns cinco livros.


Bandeira Dois - Josiel Botelho - 7/7/10

terça-feira, 6 de julho de 2010

FIT-BH 2010


Divulgada a programação da 10ª edição do Festival Internacional de Teatro, que começa em 5 de agosto. Ingressos serão disponibilizados a partir do dia 19. Na foto de Luciano Romano, Bob Wilson em "Happy Days", de Samuel Beckett, produção EUA/Itália.



Internacionais

Palco
Bernard, Compañía Ballet Flamenco Antonio Canales, Espanha
Donka, Teatro Sunil, Suíça
Happy days, change performing art, direção Bob Wilson, EUA/Itália
Marketing/Hamlet/Set, Associación La Otra Orilla (LOT), Peru
Woyzeck, Sadari Movement Laboratory’s, Coréia do Sul

Rua
Emigrant, Faber Teater, Itália
FaberfEst, um sogno in red & blue, Faber Teater, Itália
K@osmos, Puja, Espanha
Mantras e outros sons, Ani Choying Dolma, Nepal
Menus Larcins, Délit de Façade, Bélgica
Suíte flamenca, Compañia Ballet Flamenco Antonio Canales, Espanha

Espaços alternativos
!Haberos Quedado em Casa Capullos!, Alodhe, Colômbia
Lote 77, produção independente, direção Marcelo Mininno, Argentina
Mantas e outros sons, Ani Choying Dolma, Nepal



Nacionais

Palco
A inquietude, direção de Thierry Trémouroux, Rio de Janeiro
Dona Otília e outras histórias, direção de Gilberto Gawronski, Rio de Janeiro
Hamelin, direção de André Paes Lemes, Rio de Janeiro
Lamartine Babo – Um musical dramático, Macunaíma Centro de Pesquisa, São Paulo
Memória da cana, direção de Newton Moreno, Os Fofos Encenam, São Paulo
Vida, direção de Marcio Abreu, Cia. Brasileiro de Teatro, Paraná

Rua
Das aborosas aventuras de Dom Quixote, direção André Carreira, Teatro Que Roda, Goiás

Espaços alternativos
O banquete, direção de José Celso Martinez,
Teatro Oficina, São Paulo
O capitão e a sereia, direção de Fernando Yamamoto,
Clowns de Shakespeare, Rio Grande do Norte



Locais

Palco
De peixes e pássaros, Cia. Suspensa
Drummond, Grupo Ponto de Partida, Barbacena
Fala comigo como a chuva, Companhia Teatro Adulto
No pirex, Armatrux
Sagroft, herética ou ninguém, Carabina Filmes

Rua
Baby dolls – Uma exposição de bonecas, Obscena Agrupamento
Êsquiz, Cia. SeráQue?
Proibido deitar, O Clube Teatro e Variedades
Próxima edição: Espreme que sai sangue, Cia. Malarrumada de Teatro
Till, a saga de um herói torto, Grupo Galpão

Espaços alternativos
As grandes lonas do céu, Companhia Candongas e Outras Firulas
As últimas flores do jardim das cerejeiras, Officina Multimédia
Cara preta, Maldita Companhia de Investigação Teatral
É só uma formalidade, Quatroloscinco, Teatro do Comum
Máquina de pinball, O Coletivo



Na internet

Bilhetes serão vendidos on-line, em endereço ainda a ser definido. A venda – R$ 24 (inteira) e R$ 12 (meia) – com direito a pacotes promocionais, será realizada no período de 19 a 29 deste mês, em endereços ainda a serem anunciados. Além da internet, os ingressos estarão à venda também no Mercado das Flores (esquina da Avenida Afonso Pena com a Rua da Bahia, Centro).
Leia materia sobre o FIT-BH, hoje, no carderno de Cultura do Estado de Minas (www.uai.com.br)

sábado, 3 de julho de 2010

Evoé, Guzik!

O teatro brasileiro padece com o silêncio de um de seus mais importantes práticos e observadores. Com a morte de Alberto Guzik (1944-2010), em 26 de junho, encerra-se a trajetória brilhante de homem igualmente palco e pena. Aos 66 anos, vítima de câncer, o respeitado teatrólogo paulistano, que trocou as redações pelas arenas, deixa contribuição histórica à memória da cena nacional.

Guzik estava internado desde o início do ano. Em 15 de fevereiro, escreveu pela útima vez em seu blog http://os.dias.e.as.horas.zip.net: “neste deslumbrante amanhecer, em plena segunda-feira de carnaval, embarco em minha viagem rumo à travessia do rio letes e à descida para o hades. quando voltar, relatarei o que vi e vivi. o hades não é um reino fácil de se visitar. ninguém retorna de lá sem estar transformado. sei disso. e prometo partilhar com os leitores destes dias e destas horas aquilo que vou vivenciar. dionisos me acompanha na viagem, além de ótimos amigos e do amor de muita gente. evoé”.

Assim: “evoé”, com um brado de evocação a Baco, Guzik encerrava seus posts na internet. Referia-se a Dioniso, divindade das festas e do prazer, com relativa frequência em seus textos mais pessoais, numa demonstração evidente de amor e entrega à arte-rito, tamanho respeito e consideração presente onde quer que atuasse. Embora tenha passado os últimos sete anos no palco – depois de quase 40 anos sem levar à cena personagem algum –, foi como crítico e professor que Guzik ganhou projeção.

Considerado por muitos “moderado”, Guzik conseguia manter olhar distanciado, com apuro e critério, sem ser pedante. Longe da arrogância e da empáfia tão comum entre os escrevinhadores do ramo, suas observações privilegiavam o bom artista em entrelinha e intenção. Criticado por ele, impossível esquecê-lo. Guzik não ajuizava valor. Sem o menor preconceito, seu foco estava em toda e qualquer contribuição à arte presente nessa ou naquela obra. Talvez em respeito aos próprios pequenos passos no tablado – aos 5 anos –, em montagem de Peter Pan, no Teatro Escola de São Paulo, dirigido por Tatiana Belinki e Julio Gouvêa, em 1949. Ou ainda, quem sabe, pelos anos seguintes difíceis, amador, vividos até a profissionalização com O processo, adaptação de romance de Kafka, em 1967, pela Escola de Arte Dramática (EAD).

Diferentemente dos teóricos soberbos que costumam escrever pelos cotovelos, Guzik sempre soube o que dizer. Também, naturalmente, sabia fazer muito bem. Mostrou competência em Monólogo da velha apresentadora, no Espaço dos Satyros, assim como em A vida na Praça Roosevelt. Aliás, foi com a Cia. de Teatro Os Satyros, em 2003, com o espetáculo Horário de visita, que o crítico voltou aos palcos. Em 2004, por insistência dos amigos Rodolfo García Vásques e Ivam Cabral, Guzik passou a integrar a trupe paulistana. Desde então, a Praça Roosevelt passou a ser celeiro de criação e debate do ex-jornalista.

Ano passado, aos 65, Alberto Guzik comemorou seis décadas de teatro com a realização de sonho antigo: a fundação da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, da qual era diretor pedagógico. Por ocasião da inauguração, no início do ano, pouco antes da internação para tratamento, Guzik desabafou em seu diário eletrônico:

“...a vida é assim, difícil. coisas muito lindas muitas vezes causam uma lasquinha de tristeza na gente. minha tristeza não é pela escola, que será magnificamente lançada, em uma festa digna de todo o planejamento, de todos os sonhos, de todos os desejos de seus fundadores. a tristeza pela minha pessoinha, pois, por motivos de força muito maior, eu não terei condições de estar lá. eu, que integrei essa história desde o primeiro momento, não terei como ir à festa de abertura. juro que me senti como moisés, que conduziu seu povo até a terra prometida e foi, por um capricho de deus, proibido de entrar nela (...)’’.

Alberto Guzik, seja pelo feito impresso em livros, jornais e revistas de grande circulação, seja pela cara a tapa nas arenas de São Paulo, deixa legado de homem de teatro e estatura. Graduado em direito – sem jamais ter exercido a profissão –, nasceu e viveu mestre dos palcos. Professor, modelo e referência para gerações de bons artistas. Evoé, Guzik!



Livros de Guzik

• Risco de vida (Editora Globo, 1995);
• TBC: Crônica de um sonho (Editora Perspectiva, 1986);
• Cia de Teatro Os Satyros – Um palco visceral (Coleção Aplausos);
• Paulo Autran – Um homem no palco (Editora Boitempo, 1998);
• O que é ser rio e Correr? (Editora Iluminuras, 2002);
• O teatro de Alberto Guzik(Imprensa Oficial, 2009);
• Naum Alves de Souza, imagem, cena, palavra (Imprensa Oficial, 2009)
• Um palco iluminado (inédito)


Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 3/7/10

A casa da mãe morta (final)

Carolina, discreta, entendeu o silêncio da namorada, que resolveu desvendar os guardados da mãe biológica. Larissa sabia que o passado de Beatriz estava em suas mãos. Abriu a malinha com cuidado, enquanto Carolina conferia os CDs empilhados no móvel que amparava o som. Ligou o aparelho e deixou rolar música suave.

Dentro da valise de segredos, entre tantos pequenos “tesouros”, envelope abarrotado com fotos de Larissa. De pequeninha até o último aniversário, em churrascaria do Bairro Caiçara. Beatriz nunca gostou de fotografias. Guardava apenas as da filha, criada pela avó até a maioridade em Divinópolis. Foi assim, pelos retratos enviados por vó Mercedes, que Beatriz viu a filha crescer. Agora, Larissa entendia porque vó Mercedes insistia tanto em fotografá-la vez por outra. Quando tinha saúde, a velha não passava dois ou três meses sem ir aos correios para despachar encomenda.

Num outro canto, ajuntados por fita de cetim cor-de-rosa, os boletins com o histórico escolar de Larissa. Beatriz não queria sua falta de estudo para a filha. Sendo assim, mesmo à distância, fazia questão de saber as notas da menina. Na malinha, havia ainda documentos, miudezas e meia dúzia de cadernos transformados em diários. Muitas cartas escritas, endereçadas à filha, que não foram entregues. Por vergonha ou falta de coragem, Beatriz jamais revelara à mãe ou à filha que, quando veio para Belo Horizonte trabalhou como garota de programa.

Por mais de quatro anos, debaixo de homens de todos os tipos, Beatriz fez vida. Até que, por meio de colega cabeleireira, conseguiu trabalho como vendedora de roupas de confecção barata. No Barro Preto, Beatriz refez o rumo até montar a própria loja e comprar apartamento, sonhando trazer a mãe e a filha do interior. Tudo isso, ali, em linhas, repetidas vezes em folhas soltas ou encadernadas: “Não passo dia ou noite sem pensar na família reunida. Deus é misericordioso e há de me conceder essa graça”. Para quem não concluiu o ginásio, Beatriz, de tanto ler a Bíblia, sabia bem usar as palavras. Larissa não esperava da mãe biológica aquele universo refeito em letras.

A escrita miúda e legível era o desabafo da mãe morta. O silêncio cheio de vida em busca de paz eterna. Por dentro, Larissa podia ouvir a voz de Beatriz a lhe sussurrar mundaréu de verdades escondidas: “Deus pode traçar caminho certo por vias tortas, minha filha. A violência de homem ruim semeou você no ventre de uma menina. Perdoa-me. Não estava preparada para ser mãe”. Naquele instante, Larissa soube do estupro e da gravidez de Beatriz, em passagem de terror e medo. Colado em pé de página amarelada, telegrama do sujeito malfeitor, parente viajante: “Segue o endereço da clínica em BH. Tudo pago. Essa criança não pode nascer”.

Em prantos, Larissa foi amparada por Carolina.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 3/7/10

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sábado, no Estado de Minas

Sábado, no caderno Pensar do jornal Estado de Minas, homenagem ao mestre Guzik:
"O teatro brasileiro padece com o silêncio de um de seus mais importantes práticos e observadores. Com a morte de Alberto Guzik (1944-2010), em 26 de junho, encerra-se a trajetória brilhante de homem igualmente palco e pena"

Jefferson da Fonseca Coutinho