Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Da beleza de ser pai


A caixa postal está abarrotada de e-mails sobre o Dia dos Pais, daqui a semana e meia. Mais uma data comercial? Pode ser. No entanto, já que o dia está aí para ser comemorado, vale repensar e rabiscar na caderneta o pai que há no homem. Pai: palavrinha que me ronda os pensamentos desde moleque. Freud disse que a criança é o pai do homem. É bem possível. O velho Botelho muito presente – pai e mãe –, jamais me deixou esquecer os sabores e dissabores da missão. Até quando esteve ausente – por forças das circunstâncias –, mantinha-se bem mais que vivo nas minhas lembranças. Não bastasse a figura paterna, companheira, para marcas ainda mais profundas em mim, vieram os filhos: dois... quando eu ainda era garoto. Nada a reclamar, tudo a agradecer. São lições vindas da vida. As boas lições.

Da convivência com os amigos sem pai – muitos –, vieram as elucubrações sobre o tema. A paternidade, a boa paternidade é, de fato, uma missão. As responsabilidades vindas da posição não podem ser destratadas. Conheço casos, aos montes, de bons sujeitos que se deixaram levar pelo tempo, pelas adversidades, e acabaram por contrariar o próprio caráter. Um colega de praça, por exemplo, que, muito pobre, humilhado pela família da ex-mulher, podre de rica, acabou deixando de lado o filho, que, garotinho, foi morar em Portugal. Meu amigo, com dificuldade, descobriu o endereço, juntou trocado e foi ver o mocinho.

Lá, foi tratado como marginal e não pode ficar mais do que meia hora com o menino. O companheiro voltou arrasado, em frangalhos. O tempo passou e ele arranjou novo amor, com quem teve outro filho. De Lisboa, nunca mais teve notícias. No último Natal, confessou-me não passar um só dia sem pensar no primogênito, hoje, com 20 anos. “Ainda vou olhar no fundo do olho dele, Josiel, e ele vai saber o quanto eu o amo. O quanto eu lamento não ter participado da vida dele...”, disse-me. Bastante sensibilizado com o desabafo do amigo, tomei nota na caderneta de papel pautado.

Também sei de casos diferentes... De sujeitos que fizeram a farra no colo de algumas donas e que, quando souberam da gravidez, sumiram no mundo. Tem um pilantra então, do interior, que é difícil até de acreditar... Vendedor ambulante, com duas famílias, engravidou uma adolescente sem pai, de mãe muito humilde em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na ocasião, prometeu mundos e fundos para a minha prima e picou a mula. Isso, nos anos 1980. Recentemente, a filha desse sujeito, mulher feita, professora, encaminhada na vida, tanto fez que conseguiu o endereço do vagabundo. Levei-a até lá, no Sul de Minas. Na casa dele, na firmeza que a vida lhe deu, a moça mandou na lata, na minha frente: “Quero nada não. Só queria dizer que estou bem”. No caminho de volta, foi só o silêncio.

Não é fácil ser bom pai. Sei bem. Mais do que ensinar com o verbo, é preciso dar exemplo, fazer-se presente nas broncas e nas alegrias. É tarefa por demais difícil. Mas no amor de verdade, na coragem, tudo se ajeita. Com dois filhos crescidos, que me dão muito orgulho, estou de olho na gravidez da minha amada Violeta, já no sétimo mês. Todas os dias, em oração, peço forças para o grande maestro do universo, Senhor de todas as marés. Não quero fraquejar. Já são tantos os meus “eus” pela metade. Pai, ao menos, busco ser inteiro. 



Bandeira Dois - Josiel Botelho - 1º/8/12

Um comentário:

Anônimo disse...

Fantastic post, I really look forward to updates from you.