Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Vai entender o Nelsão...



Ninguém explica o Nelsão. O comerciante fez de tudo para salvar o casamento. Foi parar até em terreiro de macumba. A mãe loura avisou: “Essa não tem conserto. É do pior tipo! Meu guia tá me dizendo que essa é da perseguida riscada, meu filho!” Nelsão pagou a consulta e subiu para o trabalho na Praça Sete. No caminho, com a cabeça a mil, foi atropelado. O fato é que sua mulher não amarrava o quadril e ele sabia. Contudo, o flagrante foi a dor mais triste sentida na vida. De muletas, obrigado a voltar mais cedo para casa, Nelsão pegou a moça no pulo com o funcionário da TV a cabo, enquanto os garotos estavam na escola. A desavergonhada foi embora: caiu no mundo com um terceiro, deixando para trás a família. Nunca mais deu notícia.

O histórico da bandida o comerciante também conhecia. “Isso já passou na cara o bairro todo, Nelsão!”, disse o Tobias, quando soube das sérias intenções do amigo. Desde moça, a sujeita era corpo e assunto de qualquer um. Já Nelsão, comportado, até gostava de uma farra: churrasquinho e futebol, entre amigos. Quando se conheceram foi um pandemônio. Ela tratou-lhe chave de pernas de endoidar o esqueleto. Cegou o peladeiro. A diversão dele passou a ser em cama barulhenta, em outro campo de suor e palavrões. Deixou de lado os amigos e passou a viver no ritmo da diaba.

Namoro, noivado e, em pouco mais de ano, lá estava o Nelsão, enfeitiçado, de joelhos no altar. A lua de mel foi espetáculo em praia carioca. Na pousadinha de Geribá, o casal não passava despercebido. Só andava juntinho, em babação retardada: “tchutchuco” pra cá, “nenequinha” pra lá. Um troço! E na praia, tome indecência: bastava cair a tarde, lá estavam os dois, grudadinhos, dentro d’água, na maior safadeza. Ela já voltou do passeio grávida. Não dele. De um capoeirista conhecido na Rua das Pedras. Enquanto o maridão rodava as lojas em busca de presente de aniversário, a diaba sentou o quadril no moreno dentro de barco na Praia da Armação.

O tempo passou e a moça destrambelhada passou a soltar ainda mais a periquita. Com um, dois, três… Corneava sem dó nem piedade o Nelsão. Em cinco anos, três filhos. A trairagem desembestada durou tempo. Até que o marido – atropelado por moto no horário de almoço –, fraturou a perna e, em muletas, teve que voltar fora de hora para casa. Não deu outra: flagrou a “nenequinha” infiel na cama com o técnico da TV a cabo. No desespero, quebrou a muleta na cabeça do visitante e colocou os dois para correr.

A sicrana não voltou nem para se despedir dos garotos. Telefonou para o mais velho – o feito em Búzios com o capoeirista – e caiu no mundo com outro otário: um taxista, caso antigo. Bom pai, Nelsão não deixa faltar nada para os três filhos. Dez anos passados, até hoje ele sofre de amor pela vagabunda.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho

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