Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Aos fanfarrões do Brasil



Ainda rende “Mulher objeto, homem idiota”, texto publicado em Bandeira Dois de 8 de agosto. Dona Maria Luiza, do Bairro Rio Branco, na Região de Venda Nova, mandou cartinha pelo Osmar, companheiro de praça e primo da querida leitora: “Josiel, sou leitora do jornal Aqui e gosto muito de ler os assuntos das novelas, do meu Galo do coração e tudo que você escreve na quarta-feira. Principalmente sobre o seu pai, o velho Botelho, e a Violeta, sua amada. O Osmar fala sempre de você e até me deu o seu livro. Eu gostei muito. Mas gostei mesmo foi de ‘Mulher objeto, homem idiota’, que li na semana passada e passei pra todo mundo ler. Nunca aceitei as propagandas de cerveja. Sempre achei um absurdo o governo deixar a televisão, os bares, ficarem provocando as pessoas para beberem.

Na nossa família, sofremos muito com a bebida por causa de nosso pai, já falecido. O Osmar disse que já falou dele pra você. Seu Vantuir, pai do Osmar, ajudou a gente nos momentos mais difíceis. Mas não teve jeito. O pai piorou muito depois que ficou diabético e não conseguiu parar de beber. Morreu novo ainda, antes dos 50 anos. Por causa disso, quase todo mundo daqui de casa tem trauma com bebida. Só meu irmão caçula que dá trabalho. Quando bebe deixa triste a mulher, os filhos pequenos e a gente. No ano passado, ele sofreu um acidente em Curvelo. Graças a Deus só teve uns arranhões, enquanto o carro foi direto pro ferro-velho. Mesmo com o desastre ele continua bebendo. Tenho certeza que é por causa de tanta propaganda que eles obrigam a gente a assistir. Na minha casa não entra nada de bebida. E toda vez que aparece na televisão uma propaganda de cerveja ou de outro tipo qualquer com álcool a gente troca de canal”.

Pois faz a senhora muito bem, dona Maria Luiza. Ainda bem que existe o controle remoto, não é!? Outro dia, a respeito dessa campanha que Bandeira dois abraçou contra as drogas, especialmente, contra o álcool, ouvi de um companheiro da Praça: “Besteira! Bebe quem quer porque a fábrica não coloca a bebida na boca de ninguém”. Assim também pensa o tráfico de drogas. Já ouvi da boca de mau elemento que “maconha fuma quem quer, porque traficante não põe o cigarro na boca de ninguém”. O vício, a dependência, sabemos todos, vai muito além dessas falácias de “descolados”. A questão é bem mais séria e deve ser tratada pelo governo com responsabilidade e urgência de saúde pública. Como disse bem o Cássio, meu amigo psicanalista, no Brasil, o álcool é a pior de todas as drogas. Isso, porque está aí, ao alcance de todos, com a conivência do poder público, da família e dos falsos amigos.

E o pior: está nas propagandas invasivas, emburrecendo e viciando adolescentes. Vendem a falsa ideia de beleza, de poder, de masculinidade, de alegria – exatamente como os cigarros no século 20. Os fabricantes despejam no ar bilhões de reais todos os anos pela associação da cerveja ao esporte espetacular, à vitória, ao desejo, ao bla bla blá. Tratam de expor, com a ajuda de criações mirabolantes, as mulheres e seus corpões siliconados, turbinados, em trajes mínimos. Pregam na testa dos sujeitos barbados e babões a placa de “eis aqui um idiota” e tudo está muito bem. Patrocinam programas de audiência, erguem outdoors no rumo de todas as residências e, assim, por fim, alcançam todas as metas: embebedar os fanfarrões brasileiros.

Bandeira Dois - Josiel Botelho

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