Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Os olhos da vergonha

Desde que dona Zilá, aos 63 anos, adoeceu de tristeza, a vida do caçula Ronaldo, pintor de paredes em Nova York, virou do avesso. Tudo por causa do irmão mais velho, Autércio, que de polícia decidiu virar bandido. Família pequena – apenas a mãe e os dois filhos –, havia uma nuvem negra, carregada, a cobrir as circunstâncias. Ronaldo estava a mês de completar um ano nos EUA, quando veio a notícia por e-mail:

"Tem dois dias que estou tentando falar com você. Deixei até recado na casa de um tal Sued. Preferia contar por telefone, mas vai ter que ser pelo computador mesmo. É que seu irmão foi preso. Nunca vi tanto carro da polícia na sua casa. Verinha e eu fomos até lá para falar com a sua mãe e saber o que estava acontecendo. Dona Zilá chorava muito e só queria falar com você. Pediu que eu entrasse em contato com você de qualquer jeito. Ela não estava se sentindo bem, acabou desmaiando e a gente levou ela na UPA. Eles encaminharam ela para o Hospital Risoleta Neves. É melhor você voltar o mais rápido possível. Pedro".

A mensagem enviada pelo vizinho, amigo de infância, despontou como dor de dentes em Ronaldo. O dinheirinho que ele havia juntado até ali mal dava para pagar as dívidas deixadas no Brasil. Mas, bom moço, não pensou duas vezes e reuniu bolada para pagar passagem de volta.

No aeroporto JFK, horas difíceis. Foi madrugada inteira de espera, mais 11 horas de voo, com escala em São Paulo, até descer em Confins. Pela Linha Verde, em interminável trajeto, alcançou o leito da mãe, vitimada por acidente vascular cerebral. Com dificuldades, a senhora sofrida reuniu forças para balbuciar:

– Graças a Deus...
– Tô aqui...
– Seu irmão... Levaram ele.
– Eu sei. Faz esforço não...
– Mas ele é da polícia, meu filho...
– Fique calma, mãe...
– Por quê?

Não demorou para Ronaldo ficar sabendo. Por meio de um primo distante, capitão correto, de bem, indignado com a situação: "Seu irmão mudou de lado. Resolveu virar bandido. Sinto muito". Mas Ronaldo não conseguia acreditar que o mais velho, destemido militar, fosse mesmo tudo o que estavam dizendo. Quis olhar fundo no olho de Autércio e perguntar à sua alma. No batalhão, frente a frente com o sujeito algemado, doeu-se em silêncio ao não reconhecer mais o irmão, agora, com os olhos da vergonha.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 28/2/11

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Dia de agradecimento!

Hoje, às 19h, no Teatro Sesi Holcim (Rua Álvares Cabral, 59 - Santa Efigênia), "Vincent e O comedor de batatas" encerra temporada pela 37ª Campanha de Popularização do Teatro & Dança de Minas Gerais. Valeu, Gabriel, Aloísio, Orlando, Renata e companheiros do Sesiminas. Aos bravos Taísa, Elisa, Emílio e Ferdinando, mais uma vez, meu muito obrigado!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Só até domingo

Hoje, às 21h, tem Van Gogh, pessoal. Últimas apresentações de "Vincent". Só até domingo. Bora lá ver a dobradinha com "O comedor de batatas", pela campanha de popularização. Ingressos a R$ 10. Teatro Sesi Holcim, entrada pela Rua Álvares Maciel, 59 - Santa Efigênia.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Piedade, senhor polícia!

Quando criança sonhava ser polícia. Talvez influenciado pelos Pereiras dos Santos, gente que sempre soube honrar a farda e a família. Lá, eram muitos homens de bem que viviam de ensinar e fazer valer a lei e a ordem. Em Santa Efigênia, não havia quem não respeitasse o "seu" Zéim e seus bravos filhos soldados. O tempo passou e acabou levando as ideias e os sonhos para outras praças. Mas, não podia ser diferente, o respeito e a admiração pela polícia se mantiveram no sangue, inabaláveis. Talvez porque quase tenha nascido dentro de um camburão. Lembro-me de crescer ouvindo o velho Botelho elogiar a ação dos policiais naquela madrugada de aperto no início dos anos 1970.

"Você precisava ver, filho. Você tava lá, na barriga da sua mãe, na portinha, e não se lembra. Nunca imaginei ver a polícia tão empenhada em ajudar alguém. Era madrugada. A gente não tinha carro. Nenhum vizinho tinha carro. Saí pela rua na maior aflição com sua mãe nos braços. A bolsa já estava rompida. Andei mais de quarteirão até chegar na Rua Euclásio. Logo na esquina, pouco depois da mercearia do Moisés, apareceu a rádio-patrulha. Uma veraneio com quatro policiais, quatro anjos de farda, que fizeram de tudo para ajudar. Sirene aberta, voamos até a Santa Casa. Uma metade sua, Josiel, começou a nascer no camburão. A outra, na portaria. Foi assim, meu filho. Para nossa surpresa, dois dias depois, os quatro policiais voltaram ao hospital com um agrado para você e outro para a sua mãe. Jamais vou esquecer isso".

Eu também não. Entra ano, sai ano, passo e repasso o depoimento do velho Botelho nas muitas agendas e cadernetas que carrego comigo. Tudo isso escrito até aqui, amigo leitor, para dizer que dói demais em mim as notícias que acompanho envolvendo maus policiais. Sei bem que são muitos os bandidos fardados Brasil afora. Mas, em Minas Gerais, sempre tive a polícia na mais alta conta. Tenho amigos, aos montes, civis e militares. Todos, sem exceção, profissionais muito honrados. Sei que vivem, com orgulho, pelo cumprimento do dever. Essa história de que começam a surgir policiais (?) vendendo segurança e promovendo abusos de todo tipo e sorte nas favelas de Belo Horizonte – como as famosas milícias no Rio de Janeiro – é difícil aceitar.

Na praça, acompanhamos com muita tristeza os desdobramentos do assassinato de dois inocentes no Aglomerado da Serra. Esperamos, sinceramente, que o bem prevaleça e não permita que todo esse mau apontado pelas investigações se alastre por nossas terras. Que todos os cidadãos trabalhadores de nossos aglomerados tenham paz para seguir adiante, sem temer àqueles que são pagos e treinados para proteger e manter a ordem. Certamente, o bravo Zéim e seu batalhão estão bastante envergonhados com o banditismo que assombra a respeitada corporação de Minas Gerais.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 23/2/11
Foto: Haroldo Kennedy

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Última semana

Quem ainda não viu, bem que podia aparecer. Hoje e amanhã, às 21h, têm duas últimas apresentações de "Vila dos mortos", espetáculo de estreia do agrupamento Interseções, no Teatro do Colégio Arnaldo (Rua Timbiras, 560 – quase esquina com Avenida Bernardo Monteiro – Funcionários). Esperamos os amigos e os amigos dos amigos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Feliz é a viúva alegre

Homem – de lado as exceções – é raça ordinária. A boa Marilene que o diga. Viver bem, a cabeleireira só começou mesmo, para valer, depois da morte do marido mestre-de-obras. O Noronha fazia o diabo pelado com a mãe de seus três filhos. Ô sujeitinho imprestável! Estava ali modelo de sem-vergonhice e desrespeito. Não havia uma só pessoa na região que não dava notícia das estripulias do pedreiro. E o pior é que o patife ainda dizia ser crente. Aos domingos, logo cedo, lá estava o Noronha a andar com a Bíblia debaixo do braço. Encenação. O salafrário jamais tentou compreender um só Salmo na vida.

O que Noronha fazia com propriedade, além de enrolar a freguesia, era se acabar debaixo de tudo o que era rabo-de-saia. Bonito não era. Nem jeitoso podia-se dizer. Mas sabia bem levar no bico a mulherada. Só não enganava Lucinda e Lucimara, manicures, funcionárias do salão da Marilene. Elas não perdoavam o elemento:

– Coitada da Mari. Tá lá, no banheiro, chorando de novo.

– Por causa do tal...

– E por quem mais? Aquele lá é só desgosto e aborrecimento.

– Não sei porque ela não chuta o pau da barraca. Não precisa dele pra nada.

– Ela se acaba é por causa dos filhos.

– E o pilantra no bem bom com as vagabundas.

– Devia era cantar pra subir.

– Isola.

Lucimara parece ter cutucado o diabo com o verbo curto. Não demorou semana para que o Noronha passasse dessa para melhor. Um piripaque fulminante debaixo de uma dona qualquer, conhecida numa loja de material de construção. Marilene respirou fundo e não derramou mais lágrima pelo sujeito. Aos 42 anos, renasceu com a viuvez. Em menos de mês rejuvenesceu década, arrumou os dentes e emagreceu arroba. Passou a vestir-se com mais gosto e o salão bombou de vez. Os garotos até começaram a dormir melhor e passaram a sorrir com o alívio da mãe. Na vizinhança, comentário é geral: “Lá vai a viúva alegre”.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 21/2/11

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Privilégio

Wilma Henriques, na semana em que comemora 80 anos de vida, dos quais mais de 50 dedicados à arte, esteve na plateia de "Vincent e o comedor de batatas". Estava na companhia de outro gigante: o diretor Marcos Vogel. Obrigado, Wilma. Obrigado, Vogel. Adriana Porto, nossa artista da fotografia e gentileza, também estava lá e registrou o encontro.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Nas graças da plateia

Absurda, psicológica e trágico-farsesca, a comédia Cada um tem a sogra que merece tem tudo para ser a galinha dos ovos de ouro da atriz e produtora Heloisa Duarte. O espetáculo, que vem movimentando a Biblioteca Pública nos fins de semana, caiu nas graças do público e já é destaque entre as boas produções desta edição da Campanha de Popularização Teatro & Dança de Minas Gerais. Nem sempre casa lotada é sinal de bom espetáculo – quem é capaz de decifrar o gosto do público? –, mas, no caso de Cada um tem a sogra que merece, não é difícil entender o porquê de tamanho sucesso.

Heloisa Duarte não poupou esforço ou recurso para colocar sua peça de pé. Reuniu time peso-pesado para realizar o melhor. A começar pela escolha da obra do dramaturgo Wesley Marchiori, expoente, dos melhores comediógrafos que Belo Horizonte tem revelado. Experiente, amarrou história divertida, carregada de boas sacadas, com três personagens femininas de conflitos muito bem definidos – prato cheio para boas intérpretes. Não se trata aqui de mais um amontoado de piadas batidas, envolvendo clichês, apenas. Há trama de alinhavamento rica em ideias e pistas de mistério para a construção de clímax.

Para conduzir roteiro tão eficiente, a produção escalou Kaluh Araújo. Nas mãos do diretor, cenógrafo, figurinista e iluminador, o texto de Marchiori ganhou encenação primorosa, com cenário e roupagem da melhor qualidade: dois ambientes (sala e quarto) de casa de campo, sobre plataforma giratória, com acabamento e decoração bastante apropriados à trama de suspense e graça; luz correta e efeito multimídia surpreendente; figurinos e objetos de cena que promovem bom diálogo com o todo.

No palco, o elenco defende Cada um tem a sogra que merece em pé de igualdade. Dedé Miwa, a sogra portuguesa, sustenta seu papel-eixo com disciplina inabalável. Ana Gusmão se mantém em linha tênue, perigosa, quase caricata, com habilidade de quem domina a comédia. Não desperdiça máscaras e dá conta de guardar fôlego para seu grand finale. Diva Carvalhar, a outra nora, de excepcional carisma, ganha a platéia com capacidade incrível de soprar bordões. É responsável pelos momentos mais preciosos da montagem. Atriz de recursos, que transita como poucas pelo drama e pela comédia, Diva Carvalhar começa a fazer nome na cena local.

Cada um tem a sogra que merece
Teatro da Biblioteca Pública, Praça da Liberdade, 21, Funcionários, (31) 3337-9693. Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 19h. Até dia 27. Ingressos: R$ 24 (inteira), R$ 12 (meia-entrada) e R$ 10 (Postos do Sinparc).

Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 18/2/11

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Teclando com o inimigo

Assustam-me os casos de crimes facilitados pela internet. A rede mundial de computadores vem transformando o planeta. Para os que sabem tirar proveito de suas facilidades, não há dúvida, é ferramenta de extraordinária importância. Por outro lado, ao povo do mal, da pior estirpe (e como tem gente assim globo afora), a web vem se fazendo assombrosa. São cada vez mais frequentes as notícias de pedofilia na internet. As tais redes sociais também são duramente criticadas por favorecer (e muito) a quebra da privacidade dos outros, assim como o surgimento de gente de mentira (os perfis chamados fakes). A verdade é que, de fato, isso tudo é assustador. Ainda mais terrível para pais separados que, como eu, precisam dar jeito de, na medida do possível, monitorar os filhos.

A morte da estudante de psicologia, de 37 anos, Janinha Pereira de Freitas, em Montes Claros, Norte de Minas, me tirou o sono nos últimos dias. Em resumo, pelo que soube, a moça conheceu um sujeito na internet e acabou sendo encontrada morta, semi-nua, com sinais de agressão. Ao que as evidências indicam, Janinha foi estrangulada. O principal suspeito é o tal elemento da internet. A delegada Carla Silveira está no comando das investigações e está empenhada em encontrar o assassino. Que Deus acolha a família de Janinha. Casos como o dessa moça entristecem qualquer cidadão de bem.

Ontem, durante o almoço, conversamos muito sobre os perigos da internet. A Sueli tem verdadeiro pavor desse negócio de namorar pelo computador. Tomei nota para dividir com o amigo leitor: “Esse negócio de ficar de namoro virtual é coisa besta demais. Bom é namorar junto, ir ao cinema, tomar uma cervejinha, encarar um forró, viajar. Não gosto dessa história de conhecer quem a gente nem sabe quem é pelo computador. Já tive Orkut (rede social) e cansei. Todo dia aparecia um monte de carinha querendo me adicionar. Gente que eu nunca vi, nem sabia como podia ter me encontrado. Não aceitava de jeito nenhum. Só aceitava na minha página quem eu conhecia. Não adianta nada a pessoa falar que tem mil amigos no Orkut, no Facebook (outra rede social), e não ter boa companhia. Sou à moda antiga. Gosto é de beijo, de abraço e de jogar conversa fora, assim, cara a cara”.

Nelsinho, recém-chegado ao grupo, vinte e poucos anos, cheio de opinião, também quis que eu tomasse nota de seu depoimento: “Quando a pessoa sabe usar não tem problema. É só tomar cuidado. Mas tem gente que abusa e escreve tudo no Twitter (espécie de mural de recados on-line) até que está sozinho em casa, pelado, no banheiro, com fome, com dor de barriga… Pra quê isso? Fica publicando fotos e mais fotos nada a ver. Tem gente que nem vive mais a vida real. Só fica na internet. Meu irmão mesmo é um exemplo. O tempo todo no computador. Aí, vira doença. Gosto, mas não abuso. Também não fico teclando com qualquer um. Só com quem conheço. Porque a gente nunca sabe se quem tá do lado de lá é inimigo”. É isso, Nelsinho.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 16/2/11

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Wilma Henriques 80 anos



A atriz Wilma Henriques comemora hoje, 15 de fevereiro, 80 anos de vida. São mais de 50 anos de fé e amor à arte. O vídeo, flagrante de plateia embevecida, é pequena homenagem. Dama maior do teatro em Minas, Wilma protagoniza cena inesquecível nos braços de Zé Celso, durante apresentação de O Banquete em Belo Horizonte, no ano passado.

"Nós amamos o mesmo Deus. Eu sei que a vida de teatro é difícil, como em qualquer lugar do mundo, mas nós somos deliciosos, nós vamos vencer. O poder do teatro é muito maior do que se imagina. Olha que maravilha, olha que maravilha essa epifania, essa sensibilidade, essa fonte inesgotável de sensibilidade, de amor, de água, de lágrimas. Que beleza!" (Zé Celso Martinez)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Carta aberta ao ator morto

Espero que esta o encontre em paz, finalmente, junto ao Olimpo. Um desabafo, seguido de pedido, talvez. Peço-lhe ao menos um sopro com algumas respostas do lado daí, que tudo sabe, que tudo vê. Saberia me dizer, agora, por que a trupe da condolência é tão maior do que a que comparece quando estamos de pé? Por que tudo é palma, glória e amizade quando sucumbimos? Companheiro, ator morto, que tudo pode saber, por que tanta panela, pequenez e conversa pelos cotovelos? Por que tanta inveja e falta de preparo para lidar com o sucesso, trabalho duro e boa sorte, do outro? Por que tanta bichinha qua-quá, maledicente, a queimar nosso labor?

Do lado de cá, você conhece bem, a coisa toda parece não ter data para mudar. Continuamos de pires na mão a mendigar oportunidade. Seguimos a trabalhar de graça – quando muito pelo lanche – em projetos de TV e cinema. E estes mesmos projetos, infelizmente, continuam emperrados por causa de gente que nem sei o quê. Difícil saber. Sabe, é triste, mas ainda representamos a linha baixa, mais barata, das planilhas orçamentárias. E quando aparece alguém disposto a tentar mudar alguma coisa: “está fora da realidade”. É o que se ouve. Nossos cachês na propaganda continuam aquela mesma mixaria que já ajudou você a pagar a conta de luz algumas vezes, lembra!? Vez por outra, a coisa até melhora, é verdade. A verba aumenta, mas, aí, ainda costumam buscar figuras de outras terras.

A maior campanha de popularização do teatro brasileiro vai muito bem. Por dois meses ganhamos o pão. O resto deste 2011 – já estamos em meados de fevereiro –, dá-se um jeito. Você tem razão, amigo ator, temos as leis de incentivo à cultura. Mas, você também sabe bem que isso é coisa para gente graúda, inteligente, cabeça e muito bem relacionada. A notícia boa é que o cinema de nossas Minas continua promessa. A esperança de nossos cineastas não morre. Tenho fé, ainda vamos vê-los fazendo sucesso e, quem sabe, levando alguns de nossos companheiros Brasil afora. Afinal, o mineiro é tão solidário. Que o diga o ex-vice-presidente José Alencar, herói brasileiro.

Outra questão: você sempre teve grande preocupação com a arte que ensinamos nas escolas. Conversamos algumas vezes sobre isso. Daí, certamente, você bem que podia dar uma força. É duro lidar com tanta gente equivocada, sem compromisso, que costuma aparecer nas salas de aula. Ajudai, amigo, a boa gente de vocação e talento que se mata para aprender o que tantos desperdiçam. Soprai também um pouco de boa vontade aos burocratas que assinam pelas instituições de ensino. De resto, companheiro ator, habitante do Olimpo, vamos bem, vivos, com a graça do Criador.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 14/2/11

domingo, 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Homenagem de Pedro Paulo Cava ao companheiro Zeca Santos (1955-2011)

"Não me sobraram palavras.

As poucas que eu ainda tinha guardadas foram levadas pela enxurrada de lágrimas e se perderam no barro que se cristalizou nas portas dos teatros.

Estes dez últimos dias foram de assombro e tristeza.

Mas me restaram imagens na memória e no arquivo.

Abri as gavetas e me deparei com o sorriso do Zeca em duas ocasiões em que trabalhamos juntos.

Foi assim uma espécie de saudade que pulou diante dos meus olhos e que agora compartilho com todos.

Com meu abraço entristecido".

Pedro Paulo Cava

ELENCO DE “FRANK QUINTO,
A FARSA DOS BANCOS” – TEATRO MARÍLIA-1987

Amaury Reis, Anita Garibaldi, Décio Noviello, Dilson Mayron, Julio Mackenzie, Luciano Luppi, Marcelo Castilho Avellar, Miguel Rezende, Moema Sá, Olavino Marçal, Paulo André, Paulo Jamarino, Pepê Sabará e Zeca Santos

ELENCO DE “RASGA CORAÇÃO”
TEATRO FRANCISCO NUNES – 1984

Amaziles Almeida, Analice Leopoldina, Carl Schumacher, Cissa Maia, Éliana Abreu, Elvécio Guimarães, Felício Alves, Francisco Aníbal, Gastão Arreguy Filho, Gilda André, Giselle Dupin, Helvécio Ferreira, Iara Esteves (Brant), Iara Fernandes, José Maria Mendes, Luis Oliveira, Luiz Alberto Santos, Margarida Drummond, Mary Armendany, Miguel Rezende, Reinaldo Menezes, Rogério Santos, Sérgio Cesário, Sylvia Vianna, Vera Ribeiro, Wilma Henriques e Zeca Santos

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Hoje tem espetáculo!

Hoje, às 21h, "Vincent e O comedor de batatas" fazem nova dobradinha no Teatro Sesi Holcim.
Esperamos os amigos e os amigos dos amigos. Ingressos a R$ 10 nos postos do Sinparc.
www.sinparc.com.br

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Zeca Santos (1955-2011)


Depois de Leleo Scarpelli e Lea Delba, mais um dia de luto para o teatro em Minas: Zeca Santos, garoto ainda, deixa a cena para ganhar novas paisagens. Ficam lembranças de tempos felizes de aprendizado, trabalho e amizade.

O velório vai ser na Sociedade Espírita Irmã Lavínia (Rua Tupaciguara, 120 - Bairro São Geraldo - Ônibus 9502; 9211; 9214 - descer um ponto depois do Chico do Churrasco), a partir das 21h30.

O sepultamento está marcado para amanhã, às 11h, no Cemitério da Saudade. Descanse em paz, amigo.

A curiosa matemática das estradas da morte

O mar ficou para trás, lá no Espírito Santo. Fim de férias e da farra com os garotos em Marataízes. Agora é trabalhar e trabalhar para garantir mais 30 dias de chinelas em 2012. É, amigo leitor… trabalho assim, de olho no futuro, porque o que está por vir também faz parte de quem quer bem a vida. Gabriel e Tiago, filhos tão amados, me fazem ter a certeza, mais e mais, que amar muito e melhor é o que vale a pena nessa nossa breve passagem. Todo o resto, havendo saúde, é desdobramento desse amor inabalável. É o que digo todos os dias para mim mesmo.

Hora de voltar à escrita, inspirado por estas bandas. Vamos lá, deixar a caneta correr solta na caderneta de papel pautado, durante intervalo no batente do volante. Primeiramente, não posso deixar passar em branco meu espanto com os últimos acidentes no Anel Rodoviário. Pago para não trafegar por aquele lugar. Deus que nos livre! Já passei muito sufoco naqueles corredores cheios de carreteiros desembestados. As últimas mortes neste início de ano engrossam as estatísticas assombrosas da rodovia. Só no ano passado, foram 39 mortes registradas na via de 26,5 quilômetros, que liga as BRs 381 e 040. Verdadeiro horror para dezenas de famílias todos os anos. Até quando? É a pergunta que fica.

Sinceramente, não consigo entender muito bem a falta de linhas férreas e metrô em nosso país. Especialmente em Minas Gerais. O tamanho do metrô em Belo Horizonte é de fazer vergonha. Uma cidade tão bacana. É inacreditável. Estou entrando neste assunto porque tenho certeza de que tudo seria diferente não fosse a relação estreita da indústria automobilística e das empresas de ônibus com as camadas políticas que governam o país. Não é preciso estudar administração pública para saber do lobby que existe por trás de tudo isso. O que seria das empresas de ônibus se o metrô de BH e Região Metropolitana fosse uma beleza? E se houvessem trens para todo canto do território nacional? Quem em sã consciência iria enfrentar de carro as estradas horrorosas que cortam o país?

O velho Botelho e eu conversamos muito sobre o assunto. Esta semana, desde segunda-feira, estamos debatendo o assunto na universidade. O Nestor, mestre e doutor, tem ideias bem interessantes sobre a falta de vontade política que emperra o Brasil. Por hora, com muito interesse, estou esquadrinhando o tema desde os tempos do presidente JK. É matemática curiosa entender que para vender carros foi preciso abrir estradas a qualquer preço. A coisa é bem complexa, amigo leitor. Vou avançar nas pesquisas e deixo aqui a promessa de avançar no tema em nosso quintal.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 9/2/11

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Hoje é dia de 'Vila dos mortos'

Logo mais, às 21h, no Teatro do Colégio Arnaldo (Rua Timbiras, 560 - Funcionários), tem "Vila dos mortos". Sobrenatural, a montagem foi levantada por meio de método sensorial de interpretação e tem roteiro de recortes cinematográficos. Vale conferir o empenho da trupe para encarar esse desafio espírita. "Vila dos mortos" fica em cartaz só até 23 de fevereiro, terças e quartas, às 21h.



Mais informações: http://viladosmortos-apeca.blogspot.com/

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A sombra e a escuridão

Vai entender o Joaquim. Trabalhador, bom colega de repartição e filho exemplar. Marido razoável ainda era desafio, já que, nele, ciúme era doença. Desde que conheceu Luísa, há coisa de 10 anos, não passou dia sequer sem desconfiança. A mulher, do lar, não dava motivo ou razão. Vivia para os gêmeos que teve no dia em que comemorava primeiro aniversário de casamento. Não haver parente gêmeo, próximo, nas duas famílias foi suficiente para que Joaquim alimentasse pulgas na orelha. Para complicar a situação, os dois garotos só puxaram a mãe: lindos, de pele clara e olhos grandes, esverdeados. Sorte dos rebentos, já que Joaquim era um toco, de olho apertado, cabeça torta e nariz achatado.

Era só o sujeito beber para esbravejar pedido de DNA. Luísa, tristíssima, não falava palavra e esperava passar a bebedeira. Enquanto isso, as crianças cresciam sob o olhar desconfiado do funcionário público. Joaquim não conseguia dar carinho aos garotos. Nem demonstrava esforço ou boa vontade com o assunto. Tratava-os com distância e frieza. O ciúme anunciava desgraça. Joaquim chegou a listar nomes de conhecidos e amigos próximos de pele e olhos claros. Achava Lucas e Matheus parecidos com Deus e o mundo. Só não conseguia enxergá-los seus. O tempo e a bebida foram endurecendo ainda mais o Joaquim. Para Luísa, madura, beirando os 40, bastava viver para os filhos.

Um telefonema do dentista de Luísa despertou o diabo em Joaquim. Era manhã de sábado. A mulher, às pressas para levar os garotos para apresentação de teatrinho na escola, deixou para trás o celular. Joaquim não acordou para prestigiar Lucas e Matheus em O Rei Leão. Dr. André, educadíssimo, ligou para saber como andava a infecção na gengiva da paciente. Joaquim já andava cismado com o tanto que Luísa ia ao dentista nos últimos tempos. O infeliz não sabia o quanto a mulher sofria com os dentes do siso atravessados. Luísa sabia bem sofrer em silêncio. Endiabrado, Joaquim desligou o telefone decidido a dar cabo no tormento. Já pensava nisso há tempos, desde que comprou revólver com sujeito em boteco perto da rodoviária.

As cortinas do teatrinho ainda não estavam fechadas quando um estampido emudeceu mãe sofrida na plateia. Um único tiro, à queima-roupa. Joaquim, covarde, não ficou para encarar os gêmeos em roupinhas de leões.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 7/2/11

Para reflexão

Texto de Marcello Castilho Avellar, publicado no jornal Estado de Minas em 5 de fevereiro, circula pela internet e promove debate entre artistas da cidade. Para quem ainda não teve acesso ao artigo...


Quem manda é o mercado


Por Marcello Castilho Avellar


O teatro produzido em Belo Horizonte vive todo ano uma curiosa contradição. Por um lado, tem o que provavelmente é o maior evento do gênero no país: a cada temporada, entre janeiro e fevereiro, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança leva às salas de espetáculos centenas de milhares de espectadores. Por outro lado, praticamente todos os produtores se queixam das casas vazias nos meses restantes. Para tentar compreender o problema, podemos apelar para uma palavra muito usada por boa parte dos produtores que realizam a campanha, reunidos no Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc): mercado. Como referência para o raciocínio, podemos tomar o segmento mais bem-sucedido da indústria do entretenimento, o cinema. Ou, mais especificamente, uma das empresas que transformaram a exibição cinematográfica no que é hoje, a americana Cinemark.

A Cinemark foi fundada em 1984. Em menos de 30 anos, tornou-se uma das três maiores redes de cinema do mundo (no Brasil, é a maior). Parte deste sucesso pode ser atribuída à percepção de que o público valorizaria cinemas com exibição de alta tecnologia, e ao investimento no setor. Outra parte, contudo, se deve às inovações que a empresa fez no que poderíamos chamar de tecnologia de programação – um conjunto de estratégias com o objetivo de oferecer ao espectador o máximo possível de opções, ou seja, de aumentar as chances de que ele encontre num cinema da empresa, a qualquer momento, uma opção de entretenimento. A programação da Cinemark é um inferno para os que fazem os roteiros culturais dos jornais, tal é a variedade de filmes e horários que seus cinemas oferecem. Mas, justiça seja feita, exatamente por isso, é muito eficiente em abrir possibilidades para que os espectadores assistam aos filmes apresentados. Uma análise de algumas das estratégias da Cinemark (hoje frequentemente empregadas por outros exibidores) nos mostra que elas constituem o exato oposto do que são suas análogas no mercado teatral. Vamos a alguns exemplos.

1) A mais elementar lei de mercado nos informa que os preços tendem a subir quando a procura pelos bens e serviços aumenta e a cair quando ela diminui. Os cinemas, há décadas, elevam os preços de seus ingressos nas férias. Fora delas, além de reduzir os preços, costumam estabelecer dias promocionais. Neste sentido, a Campanha de Popularização é uma verdadeira aberração: no exato momento em que o número de pessoas interessadas em assistir a espetáculos aumenta, reduzimos os preços. E depois ficamos nos perguntando por que não vão ao teatro no resto do ano: para que iriam, se sabem que verão os mesmos espetáculos, por preços mais baixos, em época com mais tempo de folga?

2) Da mesma maneira, como o público é maior nos fins de semana e feriados, os cinemas cobram, nestes dias, preços mais elevados. A maioria dos produtores teatrais ainda tem receio em fazer isso.

3) Se você for a um complexo da Cinemark, vai descobrir que os programadores tentam, a qualquer preço, impedir que haja dois filmes com horários iguais. O motivo é simples: não é bom que um filme concorra com outro. Com os horários diferentes, não preciso escolher entre um filme e outro, posso ver um depois de outro se quiser. Os teatros se canibalizam: como muitos espetáculos são apresentados no mesmo horário, um espectador a mais em um deles representa, necessariamente, um espectador a menos em outro.

4) Na mesma grade de horários, um espectador pode chegar a qualquer momento num complexo de salas de cinema que, com espera relativamente curta, terá algum filme para assistir. Corolário deste fato é que ninguém perde a viagem: se você se atrasar para uma sessão, logo depois haverá outra, ainda que de película diferente. O espectador de teatro, se decide em cima da hora ver um espetáculo, pensa duas vezes antes de sair de casa: pode chegar atrasado, ou encontrar a casa lotada, e não terá qualquer alternativa naquele momento. Por via das dúvidas, vai direto para o bar tomar uma cerveja. Produtores de teatro deveriam sentar e lotear o relógio: alguém começa espetáculo às 20h, outro às 20h15, e por aí vai.

5) De uma semana para outra, a Cinemark troca completamente todos os horários das sessões da maioria de seus filmes. A justificativa é simples. Se um espectador trabalha até as 21h, última sessão de determinada película, ele nunca poderá vê-la se o horário permanecer o mesmo. Mas, se na semana seguinte ela for exibida às 21h30, o sujeito pode se animar a pagar o ingresso. Da mesma maneira, matinês ou sessões noturnas nos fins de semana ajudam a mobilizar o público. Espetáculos, em compensação, ficam no mesmo horário dia após dia, semana após semana, mês após mês.

6) Quando chegou ao Brasil, primeira exibidora estrangeira no país, a Cinemark se preocupou com a possibilidade de ser rejeitada. Desde então, se esforça em campanhas que ajudem as pessoas a construir dela uma boa imagem. A promoção do Dia do Cinema Brasileiro ou sua participação no Festival Internacional do Cinema Infantil são bons exemplos de como conquista nossa simpatia. Os produtores de teatro acham que resolvem o problema apenas com preços populares dois meses por ano – mas o que mais fazem institucionalmente para acabar com a ideia de “vá ao teatro mas não me chame”?

São apenas alguns exemplos. O essencial é lembrar que, quando a Cinemark entrou em cena, as bilheterias estavam em decadência. As estratégias da empresa ajudaram a levantá-las. É possível que parte dos problemas dos produtores de teatro 10 meses por ano não tenha qualquer relação com estética, mas com a permanência de estratégias ultrapassadas de relacionamento com o público. O exemplo de experiências vitoriosas como a da Cinemark pode ajudar a superá-las.


Marcello Castilho Avellar - Pensar - Estado de Minas - 5/2/11

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Van Gogh no Sesi Holcim

Hoje, às 21h, é dia de oração. "Vincent e O comedor de batatas" é espetáculo intimista que fala de Deus, amor e liberdade. No palco, o privilégio de dividir a cena com dois grandes artistas: Emílio Zanotelli e Ferdinando Ribeiro. Estreia para temporada feliz nessa 37ª Campanha de Popularização do Teatro & Dança de Minas Gerais. Vambora lá, pessoal. 60 minutos para reflexão.

Vincent e O comedor de batatas
Teatro Sesi Holcim (Rua Álvares Maciel, 59 - Santa Efigênia - 3241-7181)
De quinta-feira a sábado, às 21h e domingo, às 19h.

Mais informações: 9952-2901

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Luz caminho afora, amigo Leleo!

É sempre difícil homenagear aqui amigos queridos que se vão. Ontem, seguiu rumo ao infinito o grande ator e músico: Leleo Scarpelli (foto). Os céus saem no lucro, enquanto a arte perde um extraordinário intérprete. Foi com tristeza profunda que recebi a notícia. Violeta avisou por telefone. Em Belo Horizonte, a comunidade artística não dava conta de acreditar que aquele bom moço, aos 39 anos, pai da pequena Maria Clara (6), seguiu luz afora. É triste para quem fica. Muito triste. Não há ainda remédio, abraço ou tapinha nas costas que dê jeito na saudade de quem fica.

Vai-se moço de alma iluminada. Generoso, educado, companheiro, alegre, Leleo Scarpelli deixa legião de fãs e amigos. Lembro-me bem de todas as vezes em que estivemos juntos. São muitos os amigos em comum. Não houve um só encontro em que Leleo não estivesse distribuindo simpatia. O camarada tinha uma capacidade incrível de ganhar a todos com seu humor contagiante. Certa vez, quando o vi em cena no espetáculo Camas redondas, casais quadrados, conversamos bastante sobre teatro, música e fiquei muito bem impressionado com suas ideias. Sem falar, em sua performance na peça. Um ator de brilho intenso, bom de drama e de comédia. Violeta e eu rimos até de suas peripécias no palco.

De lá para cá – isso foi em 2006 –, ficamos amigos e passei a acompanhar a carreira do Leleo. Encontramo-nos em diversas ocasiões e era sempre uma alegria. Vi Leleo em vários outros trabalhos, na música e no teatro. Pude perceber o quanto ele amava a sua profissão. Notava-se facilmente a arte em sua alma, assim como o amor pela filha Maria Clara. Pude vê-los juntos e estava lá aquele encanto que só quem ama reconhece. Que Deus conforte todos os que hoje choram por você, Leleo. É, mano velho… difícil acreditar. Muita luz caminho afora, amigo!

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 2/2/11