Absurda, psicológica e trágico-farsesca, a comédia Cada um tem a sogra que merece tem tudo para ser a galinha dos ovos de ouro da atriz e produtora Heloisa Duarte. O espetáculo, que vem movimentando a Biblioteca Pública nos fins de semana, caiu nas graças do público e já é destaque entre as boas produções desta edição da Campanha de Popularização Teatro & Dança de Minas Gerais. Nem sempre casa lotada é sinal de bom espetáculo – quem é capaz de decifrar o gosto do público? –, mas, no caso de Cada um tem a sogra que merece, não é difícil entender o porquê de tamanho sucesso.
Heloisa Duarte não poupou esforço ou recurso para colocar sua peça de pé. Reuniu time peso-pesado para realizar o melhor. A começar pela escolha da obra do dramaturgo Wesley Marchiori, expoente, dos melhores comediógrafos que Belo Horizonte tem revelado. Experiente, amarrou história divertida, carregada de boas sacadas, com três personagens femininas de conflitos muito bem definidos – prato cheio para boas intérpretes. Não se trata aqui de mais um amontoado de piadas batidas, envolvendo clichês, apenas. Há trama de alinhavamento rica em ideias e pistas de mistério para a construção de clímax.
Para conduzir roteiro tão eficiente, a produção escalou Kaluh Araújo. Nas mãos do diretor, cenógrafo, figurinista e iluminador, o texto de Marchiori ganhou encenação primorosa, com cenário e roupagem da melhor qualidade: dois ambientes (sala e quarto) de casa de campo, sobre plataforma giratória, com acabamento e decoração bastante apropriados à trama de suspense e graça; luz correta e efeito multimídia surpreendente; figurinos e objetos de cena que promovem bom diálogo com o todo.
No palco, o elenco defende Cada um tem a sogra que merece em pé de igualdade. Dedé Miwa, a sogra portuguesa, sustenta seu papel-eixo com disciplina inabalável. Ana Gusmão se mantém em linha tênue, perigosa, quase caricata, com habilidade de quem domina a comédia. Não desperdiça máscaras e dá conta de guardar fôlego para seu grand finale. Diva Carvalhar, a outra nora, de excepcional carisma, ganha a platéia com capacidade incrível de soprar bordões. É responsável pelos momentos mais preciosos da montagem. Atriz de recursos, que transita como poucas pelo drama e pela comédia, Diva Carvalhar começa a fazer nome na cena local.
Cada um tem a sogra que merece
Teatro da Biblioteca Pública, Praça da Liberdade, 21, Funcionários, (31) 3337-9693. Hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 19h. Até dia 27. Ingressos: R$ 24 (inteira), R$ 12 (meia-entrada) e R$ 10 (Postos do Sinparc).
Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 18/2/11
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