Homem – de lado as exceções – é raça ordinária. A boa Marilene que o diga. Viver bem, a cabeleireira só começou mesmo, para valer, depois da morte do marido mestre-de-obras. O Noronha fazia o diabo pelado com a mãe de seus três filhos. Ô sujeitinho imprestável! Estava ali modelo de sem-vergonhice e desrespeito. Não havia uma só pessoa na região que não dava notícia das estripulias do pedreiro. E o pior é que o patife ainda dizia ser crente. Aos domingos, logo cedo, lá estava o Noronha a andar com a Bíblia debaixo do braço. Encenação. O salafrário jamais tentou compreender um só Salmo na vida.
O que Noronha fazia com propriedade, além de enrolar a freguesia, era se acabar debaixo de tudo o que era rabo-de-saia. Bonito não era. Nem jeitoso podia-se dizer. Mas sabia bem levar no bico a mulherada. Só não enganava Lucinda e Lucimara, manicures, funcionárias do salão da Marilene. Elas não perdoavam o elemento:
– Coitada da Mari. Tá lá, no banheiro, chorando de novo.
– Por causa do tal...
– E por quem mais? Aquele lá é só desgosto e aborrecimento.
– Não sei porque ela não chuta o pau da barraca. Não precisa dele pra nada.
– Ela se acaba é por causa dos filhos.
– E o pilantra no bem bom com as vagabundas.
– Devia era cantar pra subir.
– Isola.
Lucimara parece ter cutucado o diabo com o verbo curto. Não demorou semana para que o Noronha passasse dessa para melhor. Um piripaque fulminante debaixo de uma dona qualquer, conhecida numa loja de material de construção. Marilene respirou fundo e não derramou mais lágrima pelo sujeito. Aos 42 anos, renasceu com a viuvez. Em menos de mês rejuvenesceu década, arrumou os dentes e emagreceu arroba. Passou a vestir-se com mais gosto e o salão bombou de vez. Os garotos até começaram a dormir melhor e passaram a sorrir com o alívio da mãe. Na vizinhança, comentário é geral: “Lá vai a viúva alegre”.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 21/2/11
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