Quando criança sonhava ser polícia. Talvez influenciado pelos Pereiras dos Santos, gente que sempre soube honrar a farda e a família. Lá, eram muitos homens de bem que viviam de ensinar e fazer valer a lei e a ordem. Em Santa Efigênia, não havia quem não respeitasse o "seu" Zéim e seus bravos filhos soldados. O tempo passou e acabou levando as ideias e os sonhos para outras praças. Mas, não podia ser diferente, o respeito e a admiração pela polícia se mantiveram no sangue, inabaláveis. Talvez porque quase tenha nascido dentro de um camburão. Lembro-me de crescer ouvindo o velho Botelho elogiar a ação dos policiais naquela madrugada de aperto no início dos anos 1970.
"Você precisava ver, filho. Você tava lá, na barriga da sua mãe, na portinha, e não se lembra. Nunca imaginei ver a polícia tão empenhada em ajudar alguém. Era madrugada. A gente não tinha carro. Nenhum vizinho tinha carro. Saí pela rua na maior aflição com sua mãe nos braços. A bolsa já estava rompida. Andei mais de quarteirão até chegar na Rua Euclásio. Logo na esquina, pouco depois da mercearia do Moisés, apareceu a rádio-patrulha. Uma veraneio com quatro policiais, quatro anjos de farda, que fizeram de tudo para ajudar. Sirene aberta, voamos até a Santa Casa. Uma metade sua, Josiel, começou a nascer no camburão. A outra, na portaria. Foi assim, meu filho. Para nossa surpresa, dois dias depois, os quatro policiais voltaram ao hospital com um agrado para você e outro para a sua mãe. Jamais vou esquecer isso".
Eu também não. Entra ano, sai ano, passo e repasso o depoimento do velho Botelho nas muitas agendas e cadernetas que carrego comigo. Tudo isso escrito até aqui, amigo leitor, para dizer que dói demais em mim as notícias que acompanho envolvendo maus policiais. Sei bem que são muitos os bandidos fardados Brasil afora. Mas, em Minas Gerais, sempre tive a polícia na mais alta conta. Tenho amigos, aos montes, civis e militares. Todos, sem exceção, profissionais muito honrados. Sei que vivem, com orgulho, pelo cumprimento do dever. Essa história de que começam a surgir policiais (?) vendendo segurança e promovendo abusos de todo tipo e sorte nas favelas de Belo Horizonte – como as famosas milícias no Rio de Janeiro – é difícil aceitar.
Na praça, acompanhamos com muita tristeza os desdobramentos do assassinato de dois inocentes no Aglomerado da Serra. Esperamos, sinceramente, que o bem prevaleça e não permita que todo esse mau apontado pelas investigações se alastre por nossas terras. Que todos os cidadãos trabalhadores de nossos aglomerados tenham paz para seguir adiante, sem temer àqueles que são pagos e treinados para proteger e manter a ordem. Certamente, o bravo Zéim e seu batalhão estão bastante envergonhados com o banditismo que assombra a respeitada corporação de Minas Gerais.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 23/2/11
Foto: Haroldo Kennedy
Um comentário:
Perdeu-se a ternura, a compostura, a linha que até vida e dignidade. Tudo agora vale pela grande do espetáculo que pode propocionar.
òtimo texto,amigo!
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