Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Haiti é aqui. Em nós (2)

Foram muitos os e-mails recebidos por ocasião de nossa manifestação de solidariedade ao povo haitiano, publicada em Bandeira Dois, na semana passada. Entre eles, dia 21, o amigo Rod Steiger, que passou temporada em Porto Príncipe voltou a escrever:

“Estimado amigo Botelho,

Você nao faz ideia, meu caro, da emoção que foi ler sua coluna desta semana.

Voltei da missão de paz em abril do ano passado e fui nomeado instrutor da Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos do Exército, aqui em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul.

Mas nunca perdi contato com os companheiros que ficaram lá no BRABATT (Batalhão Brasileiro) e dos amigos que foram me substituir. A missão lá já era árdua, difícil, complicada; agora com todos esses empecilhos multiplicaram-se exponencialmente.

Sem contar com a sombra da morte. Isso ainda não consegui, meu amigo, absorver. Pensar que poderia ter sido ano passado. Eu poderia, vá saber, não estar com minha esposa, com a família. Isso aterroriza a gente. E nos faz pensar. Um monte de porquês rondando a cabeça da gente.

Cada um dos 18 companheiros que deram a vida pela paz, (um número tão alto para um país pacífico como o nosso, que desde a Segunda Guerra Mundial, foi o dia em que morreram mais militares de uma só vez), cada um deles, tinha sua história, você deve ter acompanhado. Um que morreu ao escoltar, ao fazer a segurança da D. Zilda Arns, (aquela senhora com cara e jeito de santa, mais uma mártir brasileira), outro tinha uma filhinha de cinco meses e já estava há seis no Haiti. Outro que estava na véspera do retorno para casa. Outro que tinha chegado no Haiti na véspera. E por aí vai. Cruel, Botelho, cruel.

Escrevo para voce ainda emocionado, por ter lido hoje sua coluna, e por ter acompanhado pela TV a cerimônia fúnebre em honra aos heróis falecidos em combate (o bom combate, o combate pela paz).

Mas gostaria de te agradecer. Não tanto por você ainda se lembrar do amigo aqui (o que muitíssimo me orgulhou). Nem por você ter mais uma vez me dignado com essa lembrança no jornal (a família já comprou um monte de cópias e já me mandou pelo correio, aqui para o sul). Mas muito mais agradeço pela sua reverência, pela sua distinção conosco, os militares, tão esquecidos pela mídia, pela imprensa e, porque não dizer, por parte da Nação.

Depoimentos como o seu, que é um grande comunicador de massa, uma forte e positiva influência para a população, nos dá mais forças para prosseguir em nossa missão, silenciosa e ininterrupta, acima de tudo, pela paz!

A propósito, o Brasil vai enviar, em caráter de urgência, um reforço para as tropas que já estão no Haiti, para aumentar a segurança da população, comandar a distribuição da alimentação e para a reconstrução do país. E eu já me inscrevi como voluntário.

Por último, Botelho, quando eu voltei pra casa, eu trouxe um presente, uma pequena lembrança do nosso Batalhão para você. Eu liguei aí na redação do Aqui, no começo de janeiro, quando estive de férias em Minas e me disseram que você também estava de férias. Me mande-me por favor, seu endereço, para eu te mandar pelo correio.

Fica com Deus, amigão.

Rod Steiger Silvestre – Cruz Alta/RS”
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 27/1/10

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