Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Acaso? Destino? Vai entender.

Difícil se conformar. Os desastres provocados pelas chuvas nas primeiras horas de 2010 em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ainda me tiram o sono. Perturba-me o peso da fatalidade que arruinou a vida de dezenas de famílias. Muito triste. Sou um homem do mar. Desde garoto sou assim. Não é por luxo ou por capricho que mantenho uma casinha na praia. É por amor. A imensidão do Atlântico não só me arrebatou criança, como também presenteou-me os ouvidos com o som constante das marés. Digo sempre: “Não tenho orelhas. Tenho duas conchas na cabeça”.

Entrei o ano nas águas do Espírito Santo. Saltei sete ondas e pedi alegria para todos os que amo e para os que amam os que amo. Também pedi por você, amigo leitor. E agradeci, claro. Afinal, o Deus que há em mim é por demais generoso. Caí na farra com os filhos e dormi pouco. Logo cedo, pela internet, soube dos deslizamentos no Rio de Janeiro. Meu pai, Maria Helena, Violeta e eu conversamos muito sobre o assunto. “Equilíbrio, meu filho. São os ajustes da nossa mãe natureza”, disse o velho Botelho. E continuou: “O homem não tem juízo. Segue cortando as montanhas; loteando as florestas; esburacando a terra; desviando o caminho das águas e acha que o planeta não vai reclamar. Reclama. Reclama o tempo todo. O problema é que só paramos para ouvir quando ocorrem tragédias assim”.

Já falamos sobre isso neste quintal. De fato, fazemos muito mal ao planeta. No entanto, hoje, com caneta e papel na mão, diante do mar, são outros os rumos das ideias: não consigo deixar de pensar em todas essas famílias vitimadas pelos desastres naturais. Por ocasião do tsunami em 2004, no Oceano Índico, quando mais de 200 mil pessoas morreram, passei tempos sonhando com a tal onda gigante. Li bastante sobre o assunto e o que mais me chamou a atenção foram as histórias dos sobreviventes: o cidadão que decidiu encurtar as férias com toda a família e deixou a região um dia antes da tragédia; o casal em lua-de-mel, que perdeu o avião; o bebê de um ano e meio que foi encontrado, como por milagre, flutuando no mar sobre um colchão. Lembro-me, inclusive, que alguns bebês sobreviventes ganharam o nome de Tsunami.

Teve também a história de um senhor que tinha muito medo do mar, que não entrava na água por nada deste mundo e que acabou morto, tragado pela onda. Vai explicar. Em Angra dos Reis, soube de casos assim. Em Ilha Grande, lugar chamado paraíso por muitos, teve um pai de família que, aborrecido com tanta chuva, foi embora antes do programado e, com isso, conseguiu se salvar com todo os seus. E as mortes dos jovens estudantes mineiros Yumi Imanishi Faraci, Isabella Godinho Rocha e Paulo Sarmiento? Como explicar? E os quatro outro amigos de Yumi, sobreviventes? Qual é a força que decide quem vive e quem morre? A cada instante de existência sou levado a crer que há algo de extraordinário do lado de lá. Aqui, tenho certeza, estamos de passagem. A vida é bem mais que isso. Contudo, não podemos perder a fé. Mesmo não sendo fácil entender os desígnios de Deus.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 6 de janeiro de 2010

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