Walmir José Ferreira de Carvalho (Belo Vale MG
1948). Ator, diretor, dramaturgo e professor de teatro. Possui grande
capacidade produtiva e se destaca com trabalhos no campo da dramaturgia.
O compromisso pedagógico marca sua atuação à frente de importantes
instituições de ensino de artes cênicas em Minas Gerais, e sua
trajetória de forte caráter político o insere com destaque no processo
de luta pelo reconhecimento da profissão do artista no Estado.
Walmir José inicia a atividade artística no teatro estudantil, na
Escola Técnica Federal, nos anos 1960. Até 1973, integra o grupo Gruta,
dirigido por Alcione Araújo
e, posteriormente, ingressa no primeiro grupo profissional de Minas
Gerais, o José Mayer Produções. Sua carreira inicia-se com o espetáculo Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera, direção de Alcione Araújo, em 1973. No ano seguinte, atua em Flicts, de Ziraldo; no espetáculo para o público adulto Lúcia Elétrica, de Cláudia de Castro; e em Dom Chicote Mula Manca, de Oscar von Pfuhl, peça dirigida e encenada por Pedro Paulo Cava, vencedora do Prêmio Profeta na categoria melhor espetáculo para o público infantil de 1974.
Nesse ano, Walmir José funda, com outros artistas de Belo Horizonte e
em parceria com a Associação Mineira de Imprensa (AMI), o Grupo de
Teatro AMI. O grupo constrói um teatro no centro da cidade e, em 1975,
apresenta seu primeiro trabalho, a adaptação do texto Guilherme Tell, de
Schiller, para o público infantil, que marca a estreia de Walmir na
direção. A encenação seguinte, em 1975, é Lampiaço, o Rei do Cangão, texto de Walmir José.
Por sua capacidade produtiva e qualidade artística, o Grupo AMI
torna-se um dos expoentes no cenário local. Até 1979, monta uma série de
espetáculos, atingindo as maiores bilheterias da cidade de Belo
Horizonte até então, o que possibilita a seus integrantes um período de
intensa produção. Walmir José assina a direção de Um Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, em 1977, considerada a montagem mais audaciosa do Grupo de Teatro AMI; Um Edifício Chamado 200, de Paulo Pontes, em 1978, peça de maior público do ano nos teatros de Belo Horizonte; e Muro de Arrimo, também em 1978. Sobre a montagem de Muro de Arrimo,
a crítica especializada do jornal Estado de Minas comenta: "...a mão
segura e criativa do diretor, o conhecido teatrólogo Walmir José, que,
sem prejuízo da liberdade essencial do ator, criou um espetáculo onde
cada frase, cada gesto, funciona como uma partitura".1 O Grupo de Teatro AMI encerra suas atividades em 1979, com a montagem de Ponto de Partida, de Gianfrancesco Guarnieri, dirigida por Walmir José.
Em 1979, Walmir José é agraciado com o prêmio personalidade do ano,
do Estado de Minas, na categoria teatro, ressaltando seu trabalho como
diretor e dramaturgo e sua atuação no campo da gestão cultural, como
idealizador e colaborador da Casa de Cultura do Vale do Aço (1978 a
1984).
Com o fim do Grupo de Teatro AMI, Walmir José trabalha em parceria
com a Batangüera Produções, segunda empresa profissional de Minas
Gerais, e monta o musical Saltimbancos, de Chico Buarque. Dirige, ainda em 1979, o texto de sua autoria Tupi or Not Tupi, eis a Nação, uma comédia de tipos brasileiros, com paisagem urbana e contornos sociopolíticos.
A direção que Walmir José realiza para Doce Companheira, de
sua autoria, em 1981, é comentada por Luiz Carlos Bernardes: "Talvez
propositalmente, Walmir José fez uma salada de estilos, em que predomina
a ingenuidade de uma espécie de cordel urbano, mas há menções ao
distanciamento brechtiano, além de soluções do teatro de revista.
Quem sabe, deste despudor possa surgir uma dramaturgia de feições
peculiarmente brasileiras ou mineiras?... A montagem mostra outra boa
faceta do Walmir José diretor. Pois, se ele já mostrara uma faceta
competente e séria [...] agora se revela capaz de dar a outra face do
teatro, a descontração".2 Dirige Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, em 1983.
No ano seguinte, é eleito presidente da Associação Profissional de
Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado de Minas Gerais
(Apatedemg). Seu trabalho à frente da associação visa,
prioritariamente, à representação política em âmbito estadual e nacional
e à organização do sindicato da classe, criado em 1984, cuja
presidência é assumida por Walmir.
Como diretor, dedica-se em 1985 a uma temporada de comédias de costumes. Dirige o Grupo Mineiro de Comédia na peça El Dia que me Quieras, com texto do venezuelano José Inácio Cabrujas, e assina a direção de O Pecado Capitalista,
de Gugu Olimecha, comédia rasgada com situações e elementos
característicos do estereótipo do brasileiro, que garantem
entretenimento fácil.
Walmir José atua no espetáculo Lua de Cetim, dirigido por
Pedro Paulo Cava, em 1986. A crítica do Estado de Minas Clara Arreguy
comenta: "Walmir José é um ator no auge da maturidade. A dignidade, o
respeito e o visível amor que ele dedica ao personagem são os
responsáveis pela obtenção da mais alta dramaticidade em cenas que
envolvem o público, mas sem permitir que ele abstraia a crítica a
posturas que beiram a insanidade. É dono de uma técnica irretocável e
faz uso dela para transmitir emoção viva".3
Data também desse ano a criação do Curso Profissionalizante de Teatro
do Centro de Formação Artística (Cefar), da Fundação Clóvis Salgado,
Palácio das Artes, cujo projeto nasce dentro dos seminários promovidos
pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de
Minas Gerais (Sated/MG), presidido na época por Walmir José. Com a
experiência acumulada como professor de teatro em diversos cursos
livres, Walmir assume, então, a coordenação da escola, em 1987.
Nesse ano, escreve o texto do musical No Cais do Corpo,
marcado pela irreverência e leveza, e é homenageado pela Câmara
Municipal de Belo Horizonte com a insígnia da Ordem do Mérito
Legislativo Municipal pelos serviços prestados à cultura mineira.
Seu texto dramático Um Sobrado em Santa Tereza, que retrata o
cotidiano de uma família típica do bairro boêmio e tradicional de Belo
Horizonte, vence o Concurso Nacional de Literatura da Cidade de Belo
Horizonte na categoria teatro, em 1989, e é encenado, dois anos depois,
com Walmir José no elenco. O crítico Marcelo Castilho Avelar pontua: "O
mérito maior é do texto... O texto é meigo, sincero, coloquial,
conseguindo retratar um conjunto de vidas que fluem sem questionamentos
maiores, carregadas de uma poesia que as personagens não percebem, mas o
público identifica e aprecia".4
Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Walmir José participa
da implantação dos cursos livres de teatro em 1993, e do curso de
formação de atores, no ano seguinte, nos quais passa a dar aulas.
Assumindo a direção da Escola de Teatro, participa ativamente do
processo de criação do curso de graduação em artes cênicas da Ufop.
Em 1996, vence o Concurso Nacional de Literatura da Cidade de Belo Horizonte, na categoria dramaturgia, com São Paulo-Califórnia,
encenado em 1998. O crítico Jorge Fernando dos Santos comenta: "Com uma
história humana, repleta de realismo e sem abrir mão de boa dose de
poesia, a peça emociona, diverte e leva o público a refletir sobre o
sentido da vida humana. [...] Longe do lugar-comum, Walmir José nos deu
um texto contemporâneo, que reflete a angústia do homem sem fazer
panfletagem e sem apelar para o didatismo".5 Por esse trabalho, o autor ganha o Troféu Bonsucesso na categoria destaque/teatro adulto em 1998.
Dirige a turma de formandos do curso profissionalizante de teatro do Cefar na montagem da farsa popular A Terra Prometida,
em 2001. Um ano depois, dirige nova turma de formandos, desta vez da
Oficina de Teatro da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC/Minas), na montagem de Morir del Cuento, do dramaturgo cubano Abelardo Estorino.
Assume, em 2006, a coordenação da Escola de Teatro da PUC/Minas,
desdobramento da Oficina de Teatro da PUC/Minas, onde é professor desde o
ano 2000. Atua ao lado de Adélia Carvalho em Erva Daninha, peça escrita
pelos dois intérpretes, produzida pela Cia. Teatral As Medéias de Ouro
Preto, e dirigida por Wilson Oliveira , em 2008. Nesse mesmo ano, Walmir José lança o livro Trilogia Mineira, coletânea de textos teatrais de sua autoria, que se passam em Belo Horizonte em períodos-chave da história do Brasil atual: Um Sobrado em Santa Tereza, São Paulo-Califórnia e As Mãos Entrelaçadas.
Em 2011, deixa a Escola de Teatro Puc Minas e volta ao texto de Henrik Ibsen – Um inimigo do povo, montado por ele em 1977 –, para nova adaptação e direção.
Notas
1. Muro de Arrimo: ainda o futebol. Estado de Minas, Belo Horizonte, 6 jul. 1978.
2. BERNARDES, Luiz Carlos. Boa montagem, a doce companheira deste texto. Estado de Minas, Belo Horizonte, 1981. Pano Aberto.
3. ARREGUY, Clara. Beleza e emoção em Lua de Cetim. Estado de Minas, Belo Horizonte, 1986. Artes Cênicas.
4. AVELAR, Marcelo Castilho. A poesia do cotidiano. Estado de Minas, Belo Horizonte, 12 jun. 1991. Artes Cênicas.
5. SANTOS, Jorge Fernando dos. Diálogo com a tradição. Estado de Minas, Belo Horizonte, 24 set. 1998. Artes Cênicas.
Fonte: Itaú Cultural
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