Motoboy, estudante de administração, Adonias, de 23 anos, estava impossível com as mulheres. “Este aí não pode ver um rabo de saia”, criticava a mãe, viúva, tristíssima com a vida sob quadris que o filho caçula levava. Dona Clotildes, desde que perdeu o marido nos anos 2000, falava sozinha – para a vizinhança, loucura; para ela, recurso para não esquecer Roberval. Os dois, unha e carne, foram a fome e a vontade de comer em vida. Da união, seis filhos. Um único homem: Adonias, imagem e semelhança do pai.
Adonias gostava mesmo era de muita mulher. Tanto que não conseguia ter uma só. Estava sempre enrolado com cinco, seis mocinhas mais velhas. Tinha isso: não gostava de moça nova: “É coisa sem sal, que não tem pegada”, dizia. Para ele, boas sãos as meninas com mais de 30. “São mais inteligentes, perfumadas e chegadas num carinho”, dizia, professoral, aos mais chegados, nos intervalos das aulas de TGA. Até os sujeitos mais maduros, que preferiam as mais novinhas, entravam na roda para ouvir o jovem galã.
Na faculdade o Adonias fazia a festa. Na recém-fundada instituição particular, para a alegria do motoboy, a grande maioria das alunas estava na casa dos 40. Carentes, descasadas ou mal amadas, a mulherada fazia fila para cozinhar para o sujeito, já famoso naquelas bandas. Em casa, a mãe contava tudo para o falecido, enquanto pilotava o fogão: “Agora, só come na rua. Vem em casa só pra trocar de roupa. Vê se pode! Cada dia tá num cheiro de mulher diferente. Dá juízo, pro seu filho, Roberval!”.
Não durou muito. Coisa de dois períodos apenas. Foi o tempo de chegar na faculdade uma tal Lucimara, endiabrada – o Adonias de saia. Largada pelo marido, delegado de polícia, a quarentona sem filhos, decidiu virar o capeta sem roupa e encontrar novo amor. Emagreceu duas arrobas, cuidou dos dentes e da pele, cortou o cabelo e entrou para o curso de administração. Lá, no primeiro período, cruzou com o Adonias, atrasado em muitas disciplinas – já que estudar não era o forte do motoboy.
A professora fofa ensinava contabilidade há quase hora, quando, como sempre, chega o Adonias, virado, de noitada com vizinha de sala. Sentou-se atrás de Lucimara e não conseguiu pensar em nada ao sentir o perfume da caloura. Ela, de cabelos cacheados, vestida para matar: saltos de 15cm, vestidinho curto e decotado, colado no corpo, e calcinha fio dental. Já saíram de lá para o casarão erguido pelo policial. Bastou semana de cama e mesa para que os dois passassem a morar juntos. Adonias, surrado, nunca mais teve apetite para comer fora. Dona Clotildes, aliviada, disse ser coisa do velho Roberval.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 26/3/12
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