Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 21 de março de 2012

Cabeça quente, coração gelado

Impressionam-me, há tempos, os ruídos que escangalham as amizades. E são tantos que nem damos conta. Os mais comuns sáo dinheiro e conversa atravessada. Quando a gente menos espera, de onde a gente menos imagina, lá vem um evento ou um quiprocó besta para fazer ruir e mandar embora um amigo. Para o Adelson, “vai-se quem não é amigo de verdade. Porque amigo que é amigo suporta e sobrevive a qualquer tormenta”. Pode ser. O fato é que a coisa se agrava quando pensamos conhecer o outro. Ninguém conhece ninguém. Aprendi cedo que devemos fazer das decepções rampas para saltar buracos e seguir adiante.

Quem não já viveu os efeitos da cabeça quente e do coração gelado? No calor da emoção, falamos e ouvimos muita besteira. É difícil. E isso também faz estremecer até os laços mais firmes. Bandeira dois de hoje é resultado de conversa boa de domingo, entre amigos de sangue, pais e filhos: Osmar, companheiro velho de guerra, e seu filho, Henrique, de 20 anos, a professora Maria Helena e o caçula Daniel, estudante de psicologia. Violeta e eu tivemos o privilégio de participar do encontro. Todo mundo na mesa tinha história de gente querida distante por causa de algum ruído. Osmar foi o primeiro a falar:

“No meu caso, o problema foi dinheiro. Sempre é. Emprestei uma grana para um primo, até então, meu melhor amigo. A situação dele tava difícil, sem emprego. Entendi e não o cobrei por uns três anos. Aí, ele deu a volta por cima e montou um negócio que deu muito certo. Um dia, resolvi cobrar… porque queria fazer uma reforma lá em casa. Foi uma tempestade. Ele ficou chateado comigo… me pagou em dez vezes e nunca mais foi o mesmo com a minha família. Hoje, não empresto mais dinheiro pra ninguém. Porque quando você não perde o dinheiro, perde o amigo… Isso, se não perder os dois”.

Maria Helena trouxe para a roda a história de amiga de infância que também desapareceu por causa de fofoca. “Alguém disse que eu disse qualquer coisa que ela não gostou. Tentei desfazer o mal entendido e não deu certo. Hoje, quando me vê, ela atravessa a rua, só para não ter que me cumprimentar. Fico muito triste”, lamentou. Henrique e Daniel, os mais jovens da mesa, citaram casos de dissabores com relacionamentos desfeitos por causa de conversas atravessadas dos outros. Daniel, já no exercício da psicologia em consultoria de RH, chamou a atenção para a imaturidade que está quase sempre por trás desses aborrecimentos.

“Tem a questão do tempo que vai passando e esfria ainda mais as amizades. O indivíduo, na hora da cabeça quente, fala o que não deve, escuta o que não quer e acaba se afastando do outro. Isso é muito comum de ocorrer em família. Quanto mais o tempo passa, mais difícil fica de recuperar a simpatia. Dificilmente os laços voltarão a ser como já foram em tempos de confiança. É muito chato perder o contato com as pessoas que você gosta, sem razão de ser, por bobeira. Vivemos situação parecida com a família da tia Graça, não é, mãe!?”. Maria Helena meneou a cabeça, confirmando.

Violeta e eu, assim como os demais, temos o que lamentar. Especialmente, a ausência de boa gente amiga, de talento raro para arrebatar simpatias e se empedrar de orgulho.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 21/3/12

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