Não entro no mérito da greve dos rodoviários, que instaurou novo caos em Belo Horizonte na segunda-feira, deixando dois milhões de trabalhadores sem ônibus. Isso é assunto para mais de metro. Não dá para ficar ao lado dos motoristas e menos ainda dar razão aos patrões. O que posso dizer é sobre a penúria de gente querida, conhecida, que comeu o pão que o diabo amassou por causa da paralisação. Mais uma vez a cidade viveu dia de aborrecimentos sem fim e o cidadão, como sempre, foi quem acabou pagando o pato.
Haviam nós em diversas regiões da capital. Parece que todos os carros de passeio da região metropolitana estavam nas ruas. Toda a frota dos companheiros de táxi não foi suficiente para atender à procura. E os poucos que conseguiram um carro de aluguel, na hora do rush, não saíram do lugar. O Adelson fez de tudo para ajudar uma senhora doente, que precisava chegar ao pronto-socorro. Teve que encostar o carro e pedir auxílio à polícia.
Só assim para a mulher seguir pela Avenida Francisco Sales, travada, por volta das 19h. Passei quase duas horas para avançar cinco quilômetros na Avenida do Contorno. A Sueli, companheira das mais valentes, que chega a rodar 16 horas por dia, me ligou para desabafar: “Marimbondo sem asa, Josiel! Pela mãe do guarda! Que palhaçada é essa? Espinafra lá no Aqui. Seu pai é quem tá certo. A gente vai ter é que ir morar no interior. BH é o ó!”.
E olhe, amigo leitor, a Sueli é quase uma monja. Foi a primeira vez na vida, em mais de 20 anos de amizade, que a ouvi tão destemperada. O Osmar foi outro. Mandou mensagem pelo celular: “Cumpade, aqui na Amazonas posso até desligar o motor. Não anda. Está um inferno. O pobre é muito azarado mesmo… Sem ônibus e debaixo desse pé d’água…”. A chuva amargou ainda mais a segunda-feira da boa gente de toda a BH e região metropolitana.
Lúcia Helena, passageira das antigas, moradora de Nova Lima, teve a maior dor de cabeça. Sem a babá para ficar com o pequeno Matheus, chegou atrasada no escritório e acabou perdendo trabalho importante com cliente de São Paulo. Contou-me que o empresário, muito sistemático, veio de Campinas apenas para o negócio e, por fim, acabou acertando com a concorrência. O João Luís, primo do Osmar, também perdeu venda porque não deu conta de chegar a Betim.
Na manhã de ontem, todos os companheiros tinham histórias de transtornos para contar. Na universidade, mais da metade da turma não compareceu pelo segundo dia. Até o fechamento do texto na minha caderneta – rascunho para passar para o computador e enviar para a redação de nosso Aqui – não havia a menor perspectiva de solução para o caos que se repetia com a greve. Só o tempo parecia colaborar – com o céu menos carregado a penúria é menor. Já nos pontos de ônibus, a situação continuava de fazer dó.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 14/3/12
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