O que mais chamava a atenção do Landisley em Belo Horizonte não era o Parque Municipal Américo Renné Giannetti – embora ali, junto ao Teatro Francisco Nunes, fosse seu espaço predileto para leitura. Vindo de Araçuai, no Vale do Jequitinhonha, o estudante de direito estava impressionado mesmo era com o vizinho, de 84 anos, viúvo, coronel aposentado, muito chegado à certas extravagâncias.
Do parque, Landisley gostava muito. Tanto que, com a ajuda dos pais, médicos, alugou apartamento no centro da cidade com vista para o lago verde dos pedalinhos. O primeiro contato com o vizinho figuraça foi numa terça-feira, dia da mudança. Estavam os dois apenas, subindo, quando o elevador enguiçou. Foi o baixinho barrigudo, de terno branco impecável e gravata borboleta, quem puxou o assunto:
– Não se preocupe, meu filho. Você está com o coronel.
– Ah, sim.
– Como se chama?
– Landisley. E o senhor?
– Pode me chamar de coronel.
Landisley, de 18 anos, feliz com a vida nova na capital, morando sozinho pela primeira vez, achou o sujeito de cabelos pintados de cor acaju muito interessante. Na caixa de aço escangalhada, o velho acionou a luz do relógio de bolso e não tirou os olhos dos ponteiros.
– Daqui a… a 10 segundos o Pereira vai destravar o elevador.
– Como o senhor sabe?
– Eu o treinei para situações de emergência. Três, dois, um… agora!
E, como mágica, o elevador voltou a funcionar. Aquilo deu ao Landisley um ar de admiração que agradou bastante o coronoel. O mais curioso estava por vir. Na primeira noite do araçuaiano no Edifício Galapagos, gemidos femininos enlouquecidos vinham do andar debaixo. Landisley não resisitiu, deixou o miojo de lado e abriu a janela para ouvir melhor o show: “Ai, coronel! Assim… Ui, coronel! Isso… Corooooneeeeeel!!!”
E a coisa se repetiu, com variações de tons sobre o mesmo tema, por 47 minutos. No prédio de 21 andares, muitas cabeças para fora das janelas. O vizinho cabeludo, do mesmo piso, apoiado na esquadria de alumínio, cigarrinho de seda na ponta dos dedos, deu a ficha: “Você é novo aqui, não é!? Ligue não. São as garotas do coronel. Toda terça e quinta. Dizem que ele não faz nada não. Só treina as moças e paga pelos gritinhos”.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 19/3/12
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