Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

sábado, 5 de dezembro de 2009

O professor e a prostituta

"Mesmo sentados a meio estabelecimento de distância, Jonilson e Bela trocaram olhares fulminantes. Ele, por paixão, tipo amor à primeira vista. Ela, por esporte, pura diversão"




Tudo começou com uma permuta. A proposta partiu dele, que já havia desembolsado bom trocado pelos sussurros da mulher de aluguel. Desde que a conheceu, num restaurante da Rua da Bahia, tomou gosto pelas habilidades incríveis da profissional do sexo. Jonílson colocou as despesas na ponta do lápis e concluiu que, com o salário de professor, não daria para duas vezes por mês. "Com a outra eu queria todo dia!", pensou alto ao ver a esposa sem sal roncar numa madrugada fria, já mordido de amor.

Com a relação minguada em casa, vez ou outra, no sacrifício, ele estava decidido a se arranjar na rua. Daí, num rodízio de massas com o pessoal do trabalho, conheceu a beldade loura. Ela estava na mesa dos fundos, acompanhada de antigo chefe em casa de idiomas. Assim foram apresentados: "Esta é a Bela", disse o velho gentil. "Prazer...", suspirou Jonílson. "Este é o melhor professor de línguas que já passou pela minha escola", elogiou o ex-patrão. A garota de programa sorriu sedutora: "Gosto de línguas".

Mesmo sentados a meio estabelecimento de distância, Jonílson e Bela trocaram olhares fulminantes. Ele, por paixão, tipo amor à primeira vista. Ela, por esporte, pura diversão. O "seu" Messias, pagante da vez, nem pareceu se importar. Com o sorriso largo, demonstrava gosto pela situação. Até incentivou Bela a escrever bilhete no guardanapo. Prato na mesa, Jonílson mandou ver macarrão ao alho e óleo. "Muito bom ver você", despediu-se Messias, entusiasmado com dose de Viagra na cabeça. Já a Bela, maliciosa, apenas tomou a mão do Jonilson e soltou recado marcado com batom.

Papel perfumado entre os dedos, aquilo arrepiou o homem do calcanhar ao cocoruto. Despistou os colegas e foi ao banheiro para ler o guardanapo: "R$ 500 a hora". Abaixo do preço, o número do celular. Aquilo incendiou ainda mais o varão adormecido. Pensou no dinheirinho das economias e não teve dúvidas. Esperou tempo para a farra do ex-patrão e, já no entrar da madrugada, ligou para a indecência. Do outro lado, doce: "Pensei que não fosse mais ligar". Jonílson tomou nota do endereço e suou R$ 1 mil na cama king size, em suíte da cobertura de Bela, no Bairro de Lourdes.

Lá pelo terceiro encontro, Bela, que já dominava inglês e espanhol, por graça ou simpatia, resolveu aceitar a proposta de Jonílson: para cada hora de francês, uma hora de sexo. Não precisou completar um caderno de exercícios para reviravolta na vida dos dois. Ele saiu de casa e deixou a escola para abrir o próprio negócio. Ela jogou fora caderneta de contatos e montou confecção de lingeries.

Grávidos, acabaram de voltar de lua de mel em Paris.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 5 de dezembro de 2009

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