Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Boa é a vontade


Não é querer demais esperar muito de uma montagem de formatura do Teatro Universitário da Escola de Educação Básica e Profissional da UFMG. Fundada em 1952, o TU, como é conhecida, é uma das mais importantes escolas de arte do país. No entanto, Via Crucis do Corpo, da turma de 2009, dirigida por Alexander de Moraes, está longe de representar o conjunto das boas lições ensinadas por lá.

O pior do espetáculo está no desenho da cena, com marcações primárias e coreografias pobres, dessas comuns às escolas menores, livres e de pouco compromisso. A ideia do tango como ponto de partida se esgota e enfraquece a ação dramática. Mesmo o bom texto de Clarice Lispector perde força narrativa ao ser dissolvido por estrutura de jogral, usada apenas para justificar o número de atores no palco. O vermelho, presente ao longo de uma hora de duração, chapa e cansa.

Os três contos da escritora, “Miss Algrave”, “Praça Mauá” e “O corpo”, são narrados e encenados em três quadros cômicos de breve duração. Está em “O corpo” o resultado mais apurado: há boa química e trato da palavra entre o quarteto que sustenta a cena. Aliás, em Via Crucis do Corpo, pelo todo, se salva a boa vontade e entrega dos atores. Bem, precisamente, meia dúzia deles. Outros fazem número, engessados pela encenação.

Não há melhor ator que o estudante que busca a profissionalização numa escola séria. Em geral, intrépido e disposto a doar o corpo e a alma para aprender e mostrar serviço. Cabe à direção buscar o projeto que aproveite ao máximo o potencial de seu grupo. Nesse sentido, Alexander de Moraes erra ao privilegiar uma encenação ruim. Peca, também, ao desperdiçar a boa violoncelista Larissa Mattos com acordes já tão batidos ao universo pornográfico de Nelson Rodrigues.

O texto de Clarice Lispector, somado à boa trupe, merecia mais. Muito mais.

Via Crucis do Corpo
Espaço Trama Teatro Garagem (Rua Salinas, 642, Bairro Floresta). Até dia 20, de terça-feira a domingo, às 20h. Entrada franca. Ingressos limitados, controlados por senha. Reservas: (31) 3879-2475 e 9128-2475.


(Jefferson da Fonseca Coutinho - Estado de Minas - Foto Ilana Caiafa)

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