Meus amigos mais
otimimistas dizem que nem todo mundo cresce. Os mais pessimistas são enfáticos:
“O povo tá andando é para trás, Josiel”. Desculpe-me, Sueli, Osmar, Manolo,
Gustavo e Betina. Mas prefiro acreditar que todo sujeito de mínima saúde mental
é capaz de crescer. Os desvios são fases. Por que não? Tempos bem particulares:
para alguns, longos, quase intermináveis, é verdade; para outros, são curtos,
apenas pelas lições da vida. O comportamento no trânsito é uma triste amostra
do assunto em pauta. Sou motorista há mais de 20 anos. Gosto de dirigir. Sempre
gostei. Já cruzei estradas de norte a sul e rodei as principais capitais do
Brasil. Isso, para dizer que já vi de tudo no volante.
Diariamente,
testemunho atitudes inacreditáveis em Belo Horizonte e Região Metropolitana. Na
série que mais me impressiona está a moçada irresponsável, que enche a cara nas
lojas de conveniência dos postos de gasolina da cidade e depois vai para o
volante. Tem um ponto, então, nas Seis Pistas, atrás do BH Shopping que é caso
de polícia. Há no lugar, além das bombas de combustíveis, um bar, uma farmácia
e uma locadora de filmes. Os playboys usam e abusam da bebida e depois ainda
vão emendar a madrugada. Já presenciei episódios que dariam um livro. Também
ouvi de amigos histórias absurdas passadas na região, famosa pelas baladas e
pelos “pegas” de automóveis nos anos 1980.
Há pouco tempo, perto
dali, na MG-30, uma família em carro pequeno se desfez ao chocar-se de frente
com um sujeito bêbado, “chutado”, numa cabine dupla. Teve também, há cerca de
três anos, um outro motorista alcoolizado, na contra mão da Raja Gabaglia, numa
madrugada, que tirou a vida de um pai de família que seguia para o trabalho.
Todos soltos, livres para voltar a matar. Esses dois casos, de desfechos
trágicos, ganharam destaque na mídia, assim como o recente desastre na BR-356,
na entrada para o Bairro Belvedere, quando um jovem perdeu a vida e causou
comoção na cidade. As histórias se repetem nas barbas do poder público e pouco,
muito pouco, é feito para combater a falta de juízo na direção.
Fora as tragédias,
temos os casos diários, que não vão para o noticiário. Casos e mais casos de
abusos de velocidade, de desrespeito às leis e à vida, que assombram o cidadão
de bem. Qualquer sujeito de juízo, em sã consciência, sabe que precisa tratar a
direção com a mais absoluta responsabilidade. Conheço um moço, filho de
passageiro das antigas, que é desse time que não amadurece. Já tem quase 30
anos e vive às custas dos pais, com carrão potente e cheio de amigos que gostam
muito de beber em postos de gasolina. Outro dia, num posto da Savassi, de
esquina, tive a infelicidade de vê-lo beber e assumir a direção. Com ele, um
rapaz e três moças em minissaias e garrafas nas mãos. Ele entrou no carro
lotado e avançou o sinal, rompendo o cruzamento com Avenida Getúlio Vargas.
Seguiu em alta velocidade a Rua Rio Grande do Norte, sentido Avenida Nossa
senhora do Carmo.
Aquilo me chateou. Sei
bem da luta do pai, empresário, homem sério, de responsabilidades, que faz uso
de táxi quando toma uma taça de vinho com a mulher. Era madrugada. Fui para
casa e fiquei com o assunto na cabeça. Mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou
de outro, pelo bem ou pelo mal, esse moleque vai crescer. Melhor que seja assim.
Bandeira dois - Josiel Botelho
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