A noiva, Melina, andava fazendo a festa com o padrinho, colega de
infância do noivo. Horas de suor e ritmo em quebradas e cantos às
escuras. “Ai, não dou conta... vem cá, meu pecado!”, gemia, ao menos
duas vezes por semana, em segredo de morte. Com o noivo, Altamir,
sujeito discreto e cheio da grana, Melina apenas armava esquema para
sair de casa. Vez por outra, sarro comedido e “amorzinho” burocrático.
O futuro marido era sujeito delicado e companheiro. Empresário do ramo
da construção civil. Merecia cada centavo acumulado. Tudo fruto de muito
trabalho, somado ao patrimônio herdado do pai empreendedor. Já o
chegado traíra, aos 30 anos, vivia na boa, só mamando na pensão da mãe
entrevada. Passou por três faculdades sem concluir curso algum.
Convidado para padrinho pelo amigo, aceitou sem fazer cerimônia.
A moça, beiço fino. Queria do bom e do melhor: até lua-de-mel na África –
porque disseram que era chique e dava sorte. Apartamentão na Zona Sul.
Vestido, farra, tudo. E o noivo bancou até a festa – o amor é cego,
manco e custa caro. Fazer o quê? Um ano a trairagem. Foi o que durou: 11
meses e 23 dias. Não fosse por um desses desencontros do acaso. Na
véspera do casamento, Altamir deixa a noiva em casa. Tarde da noite. Ela
esquece algo no carro. Uma bolsa.
Poucos quarteirões depois, ele dá meia volta. Documentos, chaves,
afinal, Melina cabeça de vento podia precisar. Foi quando, na esquina
deserta da casa da sogra, para sua maior surpresa e decepção, ele vê a
futura mulher entrando no carro do companheirão de infância. Seguiu os
dois. Motel. Chuva fina na boca da madrugada. Por duas horas ficou ali, à
margem da rodovia, ao som do limpador de pára-brisa. Repensou a vida.
Os cinco anos de namoro e o tudo que sentia pelo amigo. Pensou em
invadir, matar, fazer e acontecer.
Sem perder a cabeça, esperou até que saíssem. Acompanhou o percurso da
volta e viu quando o camarada e padrinho deixou a mulher noiva na
esquina. Mordido de ciúmes, sem ação, assistiu ao último balaço ardente
no carro. E pôde vê-la, sorridente, entrando em casa. Rodou a cidade sem
rumo e amanheceu em claro. Tomou banho gelado. Manteve-se inabalável
até a hora do casamento. Igreja lotada. Convidados ilustres. Padre,
honrarias, o escambau. Ele esperou até que ela, linda, chegasse ao
altar, entregue pelo sogro gentil e inocente.
Na maior classe, lisura e educação, ali, diante de todos, na hora do
sim, o noivo Altamir desmascarou a noiva e o pilantra. Aproveitou o
silêncio de morte, tomou o microfone da mão do padre afeminado e mandou
ver: “E a comemoração tá de pé! A festa é minha, o dinheiro é meu! Tenho
muito o que comemorar!”.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho
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