Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Bem piores que animais


O Josué, amigo, lavador de carros, de 19 anos, está revoltado com a morte de um motorista de ônibus, linchado no domingo, no Parque Santa Madalena, Região Sudoeste de São Paulo. A coisa ainda está sob investigação, mas, ao que tudo indica, Edimílson dos Reis Alves, que completaria 60 anos ontem, foi espancado até a morte por multidão enfurecida na porta de casa de baile funk. “Tenho vergonha quando fico sabendo de coisas assim, Josiel. Vergonha”, comentou. Edimílson passou mal enquanto dirigia, perdeu o controle do veículo e acabou atropelando uma pessoa, que já está fora de perigo. Arrancado do ônibus à força, o motorista foi massacrado por cerca de 300 pessoas. Inacreditável a maldade humana.

A revolta de Josué tem ainda mais razão de ser. O bom moço, trabalhador desde criança, testemunhou atitude parecida em caso de menor gravidade. Seu tio mais próximo, quase pai, vizinho de frente em bairro de periferia, há três anos passou por situação parecida. Motorista experiente, com mais de 30 anos de profissão, o tio do Josué sofreu desmaio em pleno batente e subiu no meio-fio de boteco lotado. “Graças a Deus não havia mesa na calçada e ninguém foi atingido. Só que o povo de dentro do bar, uns 15 caras, ficaram tão furiosos que invadiram o ônibus e quebraram o meu tio todo. Ele quase morreu. Passou mais de mês internado e só conseguiu voltar ao trabalho um ano depois”, contou.

O Osmar, companheiro de praça e padrinho do Josué, confirma a história e emenda: “Isso é reflexo desse mundo perdido. As pessoas já estão tão acostumadas com a violência, que estão ficando violentas e achando isso normal. É nas ruas, na TV, o tempo todo. E tá assim de gente que acha isso bonito. Por isso, digo e repito: prefiro os animais. Meus cachorros não me dão problema nenhum. Já os meus vizinhos, toda semana saem no tapa. São todos do nível daquela história recente de ex-jogador de futebol com o vizinho advogado. A diferença é que o meu bairro é de gente pobre. Tenho para mim que o homem é muito, mas muito pior que os animais”. É Osmar, sou obrigado a concordar que a coisa anda mesmo feia.

Josué, cheio de planos, quer fazer direito e prestar concurso para chegar à magistratura. Diz que, toda vez que toma conhecimento de casos como esse de São Paulo, tem vontade de fazer alguma coisa para combater isso. Sensato, tem absoluta certeza de que isso é reflexo da falta de educação e cultura no país. “Se pudesse, obrigava todo mundo a ter educação e cultura. Transformaria os presídios em grandes universidades e mandava os políticos todos para a escola. A mente ocupada com os estudos não ia dar tempo pra ninguém pensar em matar e roubar”. Está certo, Josué. Não é!? A questão, amigo, é que a ignorância é um mau que se alastra na velocidade da luz. Há bem mais gente interessada em se arrastar na mesmice – sem falar naqueles que estão no poder e se alimentam dela – do que cavar alguma sabedoria. Ignorância mata, sabemos todos, mas elege também, infelizmente.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 30/11/11

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