Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Respeitável público!
“O palhaço”, de Selton Mello, é poema como não se vê comumente nos cinemas do Brasil. Muito bem dirigido e interpretado, o segundo longa-metragem da carreira do artista como diretor é tiro certeiro para quem busca trabalho autoral. Foge dos clichês e das fórmulas tradicionais – humor barato, miséria e violência – que fazem a história das maiores bilheterias do país. Não é novidade a paixão pelo cinema neste quintal. Vez por outra, com prazer, falamos sobre o assunto. É que, viciado na sétima arte desde os tempos de moleque, ao menos duas vezes por semana vou ao cinema. Violeta e eu, entre outras tantas coisas, temos mais esse gosto em comum. Assim sendo, na semana passada, lá fomos nós ver “O palhaço”, tão bem recomendado pelo ator e amigo Maurício Canguçu. Uma beleza!
Emocionante, poético e divertido, o filme conta um pouco dos bastidores de uma família de artistas de circo que mambemba Brasil adentro. Puro Sangue (Paulo José) e Pangaré (Selton Mello), pai e filho, tocam a vida como podem para levar alegria aos moradores de cidades do interior. O palhaço mais moço, porém, vive drama contido em busca de identidade. Pangaré passa a maior parte do filme bastante infeliz com sua condição de filho de artista. Talentoso, sabe bem fazer graça para o público, mas não consegue dar dose de alegria a si mesmo. Puro Sangue, velho comandante da trupe, entende bem o significado de texto repetido ao longo da trama: “O gato bebe leite; o rato come queijo; e eu, sou palhaço”. Não posso contar mais do enredo para não prejudicar o amigo leitor, que, sei bem, já deve estar interessado em saber mais da história do Circo Esperança.
O que posso dizer é que quem for conferir “O palhaço” vai encontrar de tudo e mais alguma coisa em pouco mais de uma hora de exibição: tem gente do bem e gente do mal; tem trilha sonora de fazer rir e de fazer chorar; tem músico bacana e mocinha bandida; e tem homem triste e criança feliz. Ah, de quebra, tem o cantor Moacyr Franco como o delegado Justo, com interpretação que agrada até aos críticos mais exigentes. A cena protagonizada pelo sujeito depois de confusão num boteco é inesquecível. Ele, sentado atrás de uma mesa, em movimentos mínimos, olhar firme e voz em tom grave, uníssono, rouba a atenção do público com performance invejável. No filme há outras participações especiais bem marcantes: Fabiana Carla, Ferrugem, Tonico Pereira e Emílio Orciollo Neto não passam batido.
Além de excelentes interpretações, o roteiro feito a quatro mãos na dobradinha de Selton com Marcelo Vindicato tem grandes sacadas. A relação de Benjamim – nome do palhaço Pangaré – com ventiladores e cataventos, por exemplo, é um achado que pontua o silêncio cheio de significados da história. Detalhes que se desdobram, também fazem a diferença e contribuem para o sucesso de “O palhaço”. Teuda Bara, atriz do Grupo Galpão, manda muito bem como dona Zaira e é peça chave que acrescenta em particularidade. Logo no começo, ela, peituda que só sua personagem, pede um sutiã novo para Pangaré. O pedido se desdobra em duas ótimas cenas que provocam a plateia no melhor sentido da ação. Ao subir dos créditos, ficou a vontade de mais histórias como “O palhaço”, que respeitam a inteligência do público.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 23/11/11
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