Amigos dos tempos de Colégio Técnico da UFMG se encontraram no fim de semana para comemorar 25 anos de formatura. Quarentões, foi uma farra com as barrigas e com a falta de cabelo de mais da metade dos homens. “Deus dá inteligência para alguns e cabelo para outros”, provocou o Eustáquio, carequinha, citando Shakespeare. O Cláudio, barrigudo que só ele, não perdeu o humor: “Isso aqui é fartura e vida boa”. As mulheres estavam ainda mais bonitas. “Como é linda a mulher madura”, suspirou o Gustavo ao rever a Glória, grande amor do passado. Da turma de meia centena, lá nos anos 1980, 22 estavam ali, reunidos em restaurante bacana na Pampulha. Num canto da enorme mesa de madeira, Chico, professor aplicado de escola pública na Região Metropolitana de Belo Horizonte, puxou a palavra com o Roberto:
“É uma emoção muito grande ver essa turma toda aqui, hoje. A gente era muito unido, lembra!? Hoje, estou meio à flor da pele com a história dos estudantes que rasparam a cabeça em homenagem a um colega com câncer. Foi lá em Governador Valadares. Você soube?” O Roberto apenas ouviu comentário e quis saber mais. “Alguém me disse que viu na TV”. O Chico estava por dentro da história e emendou: “Um rapaz de 17 anos, Arthur Gonçalves, estudante do Ensino Médio, estava fazendo quimioterapia aqui em Belo Horizonte, logo depois que soube da doença. Aí, quando voltou para Valadares, chegou na sala de aula e encontrou os amigos carecas. A iniciativa foi de um outro colega, Lucas Avelino, em prova de amizade. Outros tantos, até professores e a diretoria da escola, decidiram fazer o mesmo. Bonito isso, não!?”
Luciana, outra ex-aluna do Coltec, não se conteve e entrou na conversa: “Vi o vídeo no YouTube. Impressionante. Foi das coisas mais lindas que vi nos últimos tempos”. Toda a mesa, pouco a pouco, acabou participando da conversa. O Chico contou caso triste, distante léguas do exemplo em questão, vivido por aluna de escola em Nova Lima. A bela garota, de 14 anos, com problemas psicológicos, estava arrancando com as mãos o próprio cabelo. Alguns colegas, absolutamente sem noção, ficaram de gozação com a menina, ridicularizando-a por meio de apelidos. O professor estava triste com a falta de educação e respeito por parte de muitos estudantes brasileiros. Citou vários casos de bullying – relembrou o massacre na escola municipal de Realengo, no Rio de Janeiro – e revelou que quando estava pensando em mudar de profissão por ter perdido a fé no homem, soube do bom exemplo de amizade e respeito no interior de Minas. De pé, visivelmente emocionado, o professor arrebatou a mesa e sugeriu homenagem:
“Quero pedir licença aos companheiros de Coltec e oferecer um brinde aos carecas de Valadares. Esse moço de nome Lucas Avelino e seus companheiros carecas fazem a gente até voltar a ter esperança no ser humano. São atitudes assim, ainda que isoladas, que dão força para a gente continuar nas salas de aula. Vida longa ao garoto Arthur Gonçalves e a todos os nossos amigos verdadeiros”. Palmas. Muitas palmas.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 6/6/11
Um comentário:
Lindo, emocionante, edificante.....
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