Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O bonitão da bala chita


Dia de dor doída, de amor, em delegacia da Região Metropolitana. O delegado Tavares (55) teve pena do Antenor (42), despachante do Detran – gente boníssima –, incapaz de fazer mal a uma mosca. O doutor tinha dessas coisas: ia com a cara do sujeito e pronto. Com o Antenor foi assim. O delegado foi solidário e até estendeu a jornada. Trouxe caneca de café, cigarro, e teve conversa daquelas entre amigos do peito:

– Entendo, mas o senhor não pode ficar aqui.
– Só por um tempo, doutor. Não tenho mais para onde ir.

Horas antes foi um quiprocó. Era tardinha, em motel próximo ao Anel Rodoviário. Desconfiado da mulher, o Antenor instalou GPS no carro da companheira e ficou de butuca. Perto de casa, na periferia, a Romilda (38) dava mais uma aula de biologia em colégio particular. Sala cheia de estudantes do ensino médio. Adolescentes espinhentos e com as bocas em lata, reluzentes. Foi com o Chiquinho (15), mas bem que podia ser com qualquer outro, já que a professora, fogosa, tinha o diabo no corpo. “Você fica!”, disse ao garoto da primeira carteira, quando o sinal esganiçou o fim do turno. Esperou a turma deixar a sala e mandou na lata o costume: “Carona?”. O Chiquinho, que vivia de se acabar solitário pela professora gostosona, entrou no celtinha da Romilda, altaneiro, como se fosse visitar o paraíso. Para incendiar a situação, ainda no quarteirão da escola, no semáforo, a dona fez descer a calcinha sob a saia com habilidade de artista. Deu a tirinha vermelha de pano ao moleque que, na hora, pensou ver Jesus.

Estava em cima do aluno há mais de meia hora, quando o Antenor arrombou a porta da suíte de luxo e deu o flagrante: “Meu Deus!”. Aos gritos, o despachante caiu de joelhos diante da cama redonda, enquanto o Chiquinho se trancava no banheiro. Romilda, cínica, ainda acendeu cigarro e baforou em cima do marido. A polícia não demorou para atender ao chamado da recepcionista zarolha e acomodou todo mundo no camburão. O pai do Chiquinho, vereador, chegou rápido e não se esforçou para esconder o orgulho da situação. Abraçado ao filho, deixou a delegacia em festa: “Meu garoto!”. A professora prestou declarações e foi liberada. Quis levar com ela o marido, mas não conseguiu: “Some da minha vista!”, berrou o Antenor, magoadíssimo.

Ao cair da madrugada, o homem traído ainda pedia para ficar em cana. Desesperado, ao fim do café e de mais um cigarro, para encerrar a conversa amiga, disse em soluços: “Ah, doutor... amo tanto a desgraçada”. Resignado, o delegado Tavares mandou buscar a professora Romilda para a alegria do infeliz. O casal voltou para casa e se mudou de cidade para repensar a vida. Já o pequeno Chico, com o efeito da notícia em manchetes de todos os jornais, virou o bonitão da bala chita.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 13/6/11

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