Todo ano, em janeiro, a história se repete. Abatido por mundaréu de notícias ruins, fico aqui, olhando o infinito do mar, tentando desvendar mistérios das águas. Especialmente, das chuvas. É cedo. O sol acaba de apontar, longe, enquanto, sentado em pedra grande da Praia da Cruz, em Marataízes, rabisco a folha de papel pautado. Gosto de respirar fundo e escrever de olho no horizonte. Há, caro leitor, uma linha linda no encontro do céu com o Atlântico. Uma beleza! Digo para mim mesmo: "Se Deus tem um escritório para despachar com seus velhos anjos e receber novatos, certamente, é naquelas bandas". Impossível não estar inteiro com a cabeça num lugar assim.
Ontem, antes de dormir, lancei convocação extraordinária: "Reunião urgente! Que todos os meus eus estejam comigo, amanhã, às 6h, na Praia da Cruz". Imaginei o tempo do sono suficiente para o alinhamento da patota (somos muitos). E aqui, imagino, estamos todos. Em pauta, a destruição na Região Serrana do Rio de Janeiro e no Sul de Minas, provocada pelas chuvas (?). A interrogação entre parênteses é porque não dá para tirar a responsabilidade do homem nos desastres dessa natureza.
E o homem tem culpa. Muita culpa, sabemos todos. Fico indignado ao entender que o governo, por exemplo, gasta muito mais com verbas emergenciais, do que com programas de prevenção. Que matemática burra é essa que desconsidera a vida? Como deixar de gastar x para evitar tragédias assim e depois gastar 10x para remediar estragos sem fim? Meu caro professor Fabrício, doutor em cálculos e especialista em obras públicas, pode, por obséquio ou caridade, dizer como resolver a questão? Até quando, sai ano, entra ano, famílias inteiras serão soterradas em barrancos?
Lá no horizonte, agora, certamente, naquele clarão, estão discutindo algumas respostas. Toda vez que desastres dessa grandeza ocorrem, o céu ganha um monte de anjo. No entanto, a tristeza é de quem fica. Não é fácil recomeçar. Li e ouvi depoimentos e mais depoimentos de gente que perdeu pais, filhos, irmãos, tudo. Nesses casos, difícil manter a fé. O velho Botelho e eu, ontem, conversamos sobre isso. O pai, bastante abalado, diz não ter respostas. Diz ter pistas, apenas. Não se apega ao porquê de quem parte, e, sim, ao milagre de quem fica. "Devemos pensar e repensar a vida, Josiel. A morte, deixemos que O Criador justifique do lado de lá. Afinal, é Ele quem traz, é Ele quem leva".
Tocado pela luz do horizonte, decidi reforçar meu exército e arregaçar as mangas. Multirão de nós para lidar com o imponderável. Força e solidariedade por meio de atitude e fé. Os companheiros de Belo Horizonte e Região Metropolitana estão fazendo bonito e lotaram a Cruz Vermelha de doações. Tanto que, soube pelo Adelson, um novo endereço foi divulgado para o recebimento de produtos de higiene pessoal e de limpeza, alimentos não perecíveis, água mineral, cobertores e roupas de cama. Tome nota, amigo leitor: BR-356, número 7.515, ao lado da loja Leroy Merlin, próximo ao BH Shopping. No escritório de Deus, centenas de recém-chegados agradecem.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 19/1/11
Um comentário:
Apesar da tristeza do tema, o texto é lindo, Josiel. Ontem eu também falei sobre enchentes lá no meu blog. Só que deixei Deus de lado, já que a perfeição da natureza teima em sobreviver diante da intervenção predadora humana e me concentrei no aspecto da maneira como as cidades se estruturam. De qualquer forma, seja por causa das próprias pessoas, seja por culpa do poder publico, a culpa é humana, mais do que qualquer coisa. Agora, o negócio é como você disse muito bem, arregaçarmos as mangas e exercermos toda a solidariesdade que for possível. Abraços. Paz e bem.
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