Sou apaixonado por cinema desde os tempos de moleque, quando esperava para ver os lançamentos de férias de “Os trapalhões”, no Cine Brasil. Certamente, já contei isso aqui, em nossa Bandeira dois. Nos anos 1970 e 1980, o velho Botelho não deixou que eu perdesse uma só aventura de Dedé, Didi, Mussum e Zacarias. Era sempre uma farra. O quarteto alegre se foi, mas, de lá para cá, no cinema ou na TV, não passo semana sem ver ao menos um filme. Sorte minha a Violeta também gostar do programa. Caso contrário, ela sabe bem, seria um problemão.
Esta semana, de pernas para o mar, em Marataízes, aluguei o lançamento “Além da vida”, em DVD. Uma trama que tinha tudo para ser excelente. A começar pelo elenco: Liam Neeson (A lista de Schindler), Christina Ricci (A família Addams) e Justin Long (Amor à distância). Gênero também: drama, mistério e suspense. Meus prediletos. Coloquei a fita pra rolar na maior empolgação. Pipoca, suco de caju, boa companhia, tudo preparado pra fim de noite inesquecível. Só que, amigo leitor, o filme é um horror. É ruim que só a gota. Violeta caiu no sono logo. E eu ali, grudado na tela plana. Minuto a minuto. Pensava: “Agora vai melhorar…” E nada. Ficava cada vez pior. Foi de lascar. A culpa nem é da direção. O roteiro, a história, é que é de doer.
Esse Além da vida é, sem dúvida, o segundo pior filme que vi na vida. O campeão disparado é Sou feia mas tô na moda (2005), da brasileira Denise Garcia. Esse é imbatível. Contudo, aprendo muito com os filmes. Além da vida, sinceramente, me roubou a madrugada. Passei boas horas, sem sono, a pensar e repensar a trama da estreante Agnieszka Wojtowicz-Vosloo (difícil o nome da diretora polaca, né!? Pois é). Fiquei cá, com os meus botões a tentar entender o que a cineasta quis dizer com aquela história tão ruim, acolhida por produção tão caprichada. Aí, mandei ver a caneta na folha de papel pautado.
Dá pano para manga o argumento da morte. O filme de Agnieszka deixa um recado: “A morte existe para que a vida tenha valor”. Ainda outro, dito pelo protagonista, que está a me ferver as ideias: há mais gente com medo da vida do que da morte. Trocando em miúdos, aqui, com o meu português amador: o filme é um pontapé naqueles que vivem como se estivessem mortos (e são muitos, sabemos). Faz dura crítica a postura medíocre de quem não sabe valorizar o bem maior de quem vive. Provoca a reflexão de que há muita gente que vive por viver, sem causa ou objetivo. Afinal, fica a pergunta: o que, realmente, estamos fazendo com o privilégio de estar vivo?
Os primeiros raios do sol já entravam pelo basculante e as ondas do Atlântico cantarolavam baixinho, quando Violeta acordou e quis saber sobre o filme. Evitei comentar e pedi que ela assistisse pra gente comentar depois. Hora e meia mais tarde, ela espinafrou: “Eita filminho sem-vergonha”. Tomamos um belo café da manhã e fomos viver a vida lá fora, sob o sol, diante do mar e com a graça de Deus.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 12/1/11
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