Loucas por... fama é grata surpresa nesta edição da Campanha de Popularização. Melhor começar pelos tropeços, já que acertos não faltam. O mais grave está na dramaturgia e não chega a comprometer, apenas enfraquece o andamento da sequência de boas ideias contidas no roteiro. Como as reticências no título que interrompem a leitura. Trata-se da ruptura imposta pelas entradas do ator-diretor e seu assistente nas desventuras das três amigas que buscam oportunidade no Rio de Janeiro. O metateatro estabelecido com as interrupções da dupla pseudocondutora é inadequado ao argumento, inteiro por si mesmo. A história de Carla Duque seria ainda melhor sem interrupções.
Outro desacerto menor vem justamente de ponto de valor na montagem: tão à vontade em cena, o bom trio masculino, por vezes, deixa escapar personagens por excesso de liberdade. Há também um desvio de qualidade que ocorre na praia, por meio das cenas paralelas mantidas por congelamento. Marcação escolar que não está à altura da boa direção de Dílson Mayron.
De melhor, a começar, fica a produção da família Duque. Mais uma vez bem cuidada, com cenário simples, de desenho eficiente e figurino de muito bom gosto em cores e modelos – Mauro Gelmini é nome que vale ser guardado. A trilha adaptada por Dílson Mayron e Daniel Souza, assim como as coreografias de Michelle Loiola, cumprem bem proposta de respiro e alinhavamento da direção.
Ator de timing e verve cômica indiscutíveis – quem o conhece em cena não esquece sua capacidade de construir graça –, Dílson Mayron soube compartilhar e levantar espetáculo jovem e divertido. Nota-se o deboche do diretor, por exemplo, nos quadros de costura e nos desdobramentos dos atores. Com espaço para todo mundo mostrar serviço, Loucas por... fama reúne elenco que faz por merecer o calor da plateia. Marcelo Duque, Rodrigo Fernandes e Thiago Pimentel, com pouco mais de firmeza e convicção, vão se superar em temporada. Carol Viveiros, belíssima no palco, não sobra no papel de modelo e, com pinta de veterana, manda bem as falas. Letícia Zappulla, mesmo quando carrega a ação em histrionia, dá conta de prender a atenção do público.
Loucas por... fama é vitrine de luxo para Carla Duque. Não bastasse escrever e produzir, é excelente atriz, dona de fôlego, verdade e carisma, o que não se vê comumente. Longe do “mineirês” carregado, tão batido por quem leva o sotaque de Minas para a ficção, sua personagem (ela mesma em outros tempos, imagina-se) exibe naturalidade que arrebata.
Loucas por... fama
Teatro João Ceschiatti, do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). De segunda a quarta-feira, às 20h30. Ingressos a R$ 24 (inteira); R$ 12 (meia); R$ 8 (postos do Sinparc). Informações: (31) 3236-7400.
Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 26/1/11
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