Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Onde os pobres não têm vez

Náo é preciso usar óculos ou ser bom observador para perceber os contrastes por aí, aos montes. O público e o privado não se misturam quando o assunto é patrimônio, dinheiro no bolso ou, como dizem: “bala na agulha”. O Humberto, companheiro de praça, não está tão sem razão quando diz que “o sujeito vale quanto tem na carteira”. Ele tem lá suas razões. Ontem, durante longa jornada bancária, pensei bastante na questão. Daí, desci a caneta para dividir algumas observações com o amigo leitor.

Logo cedo, durante o café da manhã com a Violeta, organizei envelope com as contas para colocar em dia. Tracei meu roteiro pelas agências no Centro, onde gosto de andar a pé para alimentar as ideias e redescobrir as pessoas. De cara, na Praça 7, tumulto na porta giratória. Fila gigante, fizeram a senhora, de uns 60 anos, acompanhada do neto, esvaziar a sacola colorida e embarreirar o fluxo. Logo depois, o moço estiloso, com pinta de artista, também não escapou do cerco. Teve trabalho para mostrar que não estava armado e que era do bem.

Dentro do banco, movimento de início de mês e de pós-feriado. Pouca gente para atender e centena de clientes na espera. Quem podia resolver a vida com os caixas eletrônicos conseguiu ser liberado mais cedo. Outros, como eu, que precisavam passar pelo atendimento, tomaram chá de demora, em pé. Uma luta. Uma reclamação aqui, outra ali e os funcionários lá, na peleja, fazendo de tudo para dar conta do movimento. Não são culpados, certamente. Estão sobrecarregados de trabalho, com os salários achatados. Já os banqueiros, numa boa, cada vez mais endinheirados.

Hora e meia perdida, outro banco pelo caminho. Em greve. Na entrada, o senhor de aparência humilde, barba por fazer e botinas sujas de cimento, estava indignado e desabafou com o guarda. “Vim buscar o dinheiro do meu PIS. Lá em casa já cortaram a luz. Na loteria a moça falou que só na agência. O que eu faço, meu filho?” O guarda encerrou o assunto: “Não posso fazer nada, senhor”. E não podia mesmo. É o país do futuro. Voltei aborrecido com a história daquele senhor.

No rumo de casa, chamada de cliente médico, dono de uma clínica de cirurgia plástica. Desde o início do ano, por indicação e amizade, faço alguns serviços de rua para o doutor. Deu-me cheque graúdo para descontar. Fui parar numa agência requintada no Bairro Mangabeiras. Nunca fui tão bem atendido na vida. Sorrisos, gentileza e cafezinho, tudo personalizado. Uma beleza. Um choque e tanto para quem havia passado a manhã como gente comum em outra agência do mesmo banco.



P.S. Hoje, às 19h, tem missa de 7º dia pela alma de Amália Turchetti Gonçalves, avó do amigo leitor Alexandre Gonçalves. Vai ser na Paróquia Sagrados Corações, na Rua Padre Eustáquio, 2.405. A família convida para “celebrar a vida” da ilustre centenária.


Bandeira Dois - Josiel Botelho - 14 de outubro de 2009

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