Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sobre o muito que há em nós

Ontem, pela manhã, fui à Praça 7 comprar uma Bíblia para presentear um amigo. Gostei de ter sido chamado de irmão pelo vendedor e pela moça do caixa. “Irmão”. Bonito isso. Não tem nada a ver com credo ou religião. É sério. Digo irmão no sentido mais perfeito da palavra. Afinal, somos filhos da mesma mãe-terra com o pai-universo. Logo, irmãos pela própria natureza. O resto é invenção do homem, que abusa da fé do povo com histórias de pecado e redenção. Eita! Isso é assunto para mais de metro. No momento, não tenho ânimo para mergulhar no tema. Apenas guardo profundo respeito por toda a vida que há no planeta. Sou mais feliz assim: sem medo do inferno e tendo no amor pedaço do céu. Com isso, meu bom leitor, viver vale a pena. Sempre.

Foi bom o passeio a pé pelo Centro de Belo Horizonte. Nossa cidade tem lá os seus problemas, é verdade (basta citar o trânsito e a falta de planejamento), mas tem um povo que é só bem (em grande maioria). Basta observar o olhar generoso dos balconistas dos cafés e das lanchonetes. Há também o ir e vir dos passantes apressados, que dão vida ao que é sólido e se desmancha no ar. Os taxistas, os aposentados e os andarilhos. Uma multidão de personagens que, por hora, saltam-me à cabeça: o engraxate desdentado e feliz da Rua Carijós; a mulher linda e gentil, de colete amarelo, a panfletar pelo dentista na Rua Rio de Janeiro; a dona agigantada na Rua São Paulo, que anuncia retratos baratos; a loura, dona de farta banca de revista na Avenida Afonso Pena. Sem falar nos artistas populares que, aos montes, mambembam pelas bandas da rodoviária.

Peço um café e, por celular, sou chamado às pressas para buscar passageira em blitz da Polícia Rodoviária Federal: Dona Cacilda, aos sessenta e poucos anos, em apuros. Com a carteira de habilitação vencida, minha cliente resolveu ir até Nova Lima guiando seu carrão bacana. Não deu outra: “Documento”. O guarda não foi rude ou indelicado. No cumprimento do dever, apenas interrompeu a aventura da ilustre senhora. Pedi ao Adelson para me levar e, quando chegamos na barreira, lá estava a dona Cacilda toda prosa, cheia de amizade com os policiais. Já passava das 14h quando fui almoçar com a Violeta. Ela ouviu curiosa as anotações do dia e, com entusiasmo, falou sobre suas novas descobertas com a filosofia. Bíblia para presente na sacola, fui descansar para mais tarde pegar no batente. Antes de dormir, reflexões sobre o muito que há em nós.

P.S. Aos leitores, um convite: dia 25, na próxima sexta-feira, das 19h às 22h, na Livraria Leitura do BH Shopping, a Editora B lança Bandeira Dois - Do eu que há em mim. Livro de crônicas, contemplado pela Fundação Municipal de Cultura. Aqui, registro de eterna gratidão: meu mais sincero obrigado aos apoiadores Ricardo Botelho, Josemar Gimenez, Liliane Corrêa, Tetê Monteiro, Ademar Fulgêncio, Rafael Corrêa, Beatriz Amaral e João Rafael Picardi Neto (in memoriam).

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 23 de setembro de 2009

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