Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A reinvenção do sexo

Não é de hoje que o mundo virtual, carregado de fantasias e possibilidades, dá nó na minha cabeça. Para falar a verdade, chega a tirar-me o sono. Noite dessas, corrida longa, conversa com passageira das antigas rendeu caderneta cheia de anotações para nossa Bandeira Dois. Aliás, a vida da moça daria um livro recheado de histórias dramáticas, cômicas e picantes. Já me contou cada caso de impressionar. Vários deles, inclusive, já foram publicados no Aqui.

Muito descolada, conversada como sempre, tomou-me o táxi no Bairro Anchieta, na Zona Sul. De lá, pouco antes das 22h, seguimos para pousada na Serra do Cipó, ponto de encontro para fim de semana com cliente paulista. Durante todo o trajeto, falou cheia de empolgação da parceria com outras garotas, donas de um site de relacionamentos virtuais, desses aos montes espalhados pela internet. O negócio é incrível: são mulheres livres, leves e soltinhas, que se exibem na rede mundial de computadores.

Já são milhares de homens e afins, associados, pagantes, do outro lado das pequenas câmeras, conectados uns com os outros. Uma loucura. Ela disse que o povo passa horas, madrugadas, trocando afeto e carícias pelo computador. Disse também que a única regra é que ninguém pode se conhecer. “São identidades inventadas, vidas secretas, Josiel. Lá, todo mundo pode ter uma outra história”. Fiquei com a cabeça a mil. Perguntei mais sobre a tal sociedade secreta e ela me deu detalhes impressionantes.

A conversa me fez lembrar o Gigante, colega de infância, que foi ficando tão grande, mas tão grande, que resolveu trancafiar-se dentro de si mesmo. Hoje, não tem (nem faz questão de ter) amigos. Só fica na frente do computador, imerso em mundinho virtual, fazendo-se passar por outros tantos que ele não é. Disse-me, certa vez, que estava de romance há mais de ano, pela web, com uma mulher maravilhosa, lá do Canadá. Perguntei se ele não sentia falta de pegar, apertar, dar uns bons balaços na dona, e ele foi categórico: “Eu não. Mulher de verdade dá muito trabalho”. Pobre Gigante.

Pensando em gente como o Gigante é que a minha passageira está se dando bem. Rumo à terra das cachoeiras, ela afirmou que em breve deixa a vida de acompanhante de luxo. Que vai fazer companhia só através das webcams. Falou que já está cheia de fãs no site. “Outro dia, quando assustei, tinha mais de 500 pessoas na sala só para me ver dançar sem roupa”, disse, feliz da vida. Também contou, vaidosa, que no último aniversário recebeu centenas de recados de parabéns. Aí, perguntei: “E abraço de verdade, quantos?” Ela parou para pensar por segundo e respondeu: “Um” e findou o assunto.

No caminho de volta, pensei comigo: “Que bom que tenho a Violeta”. Já cheguei em casa mandando o pé na porta, com uma flor na boca, e arrancando o PC da tomada.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 16 de setembro de 2009

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