Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

sábado, 8 de agosto de 2009

Uma rua chamada solidão (16)

"Tuca, armado, acompanhado pelo comparsa Leleco, queria conta da bolsa preta de náilon, com os R$ 20 mil em dinheiro e as jóias, malocada na cama de alvenaria do hotel barato".




Assassinos costumam frequentar velórios. Carvalini se despediu do legista e seguiu para a funerária, perto do IML. Queria apurar onde fulana seria enterrada. Sabia que o principal suspeito era o tal Tuca, apontado por pista deixada no chip do celular de Sininha, puta foragida, ex-ocupante do quarto de Maria. "Vai ser no Saudade, Carvalini", confirmou o agente funerário, enquanto cuidava do corpo. O policial, com a identidade verdadeira da morta na mão, dedicou olhar profundo à fulana, nua, sobre o mesão de aço. Pensou alto:


– Uma pena.
– Um pitel, não!? 25 aninhos.
– 24. completaria 25 no domingo.
– Não sabia que tinha mulher assim na Guaicurus. Olha só os dentes...
– Lá tem de tudo, amigo.
– E a moça, quem diria, era de BH. Pra mim, era tudo de fora.
– Há o mundo naquele lugar.
– Variedade pouca é bobagem.
– E a tia?
– Disse que ia tentar localizar a irmã, mãe da menina. Escolheu o caixão, acertou tudo e marcou de esperar no cemitério. O telefone dela taí, na nota do serviço.


A madrugada se arrastava. No Edifício JK, Dorinha e João, depois do jantar, conversavam como velhos amigos. A cantora parecia ter enterrado de vez o aborrecimento passado com o ex-companheiro. Já o jovem evangélico capixaba, reservado, mesmo sem perder Maria na cabeça, demonstrava satisfação. O schnauzer roncava sob a mesa.


Longe dali, no esconderijo de Sininha, no Bairro Nacional, cena de desespero. Tuca, armado, acompanhado pelo comparsa Leleco, queria conta da bolsa preta de náilon, com os R$ 20 mil em dinheiro e as jóias, malocada na cama de alvenaria do hotel barato.


– O ferro tá carregado, vagabunda! Cadê a mala?
– Já disse... tá lá, no lugar que você deixou.
– Eu falei que era pra você tomá conta, sua bosta!
– A polícia tava na cola...
– Não quero saber... Tamo bolado contigo! Leleco, vô apagá essa puta!
– Me solta! Você não precisava ter apagado a fulana...
– Eu não matei porra de fulana nenhuma!



(Continua no próximo sábado)


(Jefferson da Fonseca Coutinho - Vida Bandida - 8 de agosto de 2009)

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