Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Falta de pediatra assombra o futuro

Aprendi desde muito cedo que as crianças são o futuro. Se há esperança de um mundo melhor, não tenho dúvida, o portal são os mocinhos e mocinhas de panos curtos. No entanto, há um fenômeno preocupante em Belo Horizonte e região metropolitana: a falta de pediatras. É de partir o coração ver que nossos pequenos estão cada vez mais desassistidos. Ouvi de vários companheiros, pais, as maiores tormentas na busca por um bom pediatra. Falo por experiência própria, pela peleja dos dois últimos meses para conseguir um bom especialista para o meu filho caçula.

A agrura começou em agosto, dois meses antes da data prevista para o nascimento do meu menino. Violeta e eu planejamos conseguir um pediatra antes, marcar consulta e tomar todos os cuidados com nosso rebento ainda durante a gravidez. Não foi possível. Pedimos aos amigos, bons pais, algumas indicações. Recebemos cinco nomes muito bem recomendados. Nada de horário. “Convênio ou particular? Convênio… Só para dezembro”, disse a secretária, curta, uníssona. E particular? Quanto é? “R$ 300”. Tem horário? “Posso ver se consigo um encaixe”. Está bem. Faça-me, então, o favor. “Deixe-me o telefone. Ligo pro senhor”. Obrigado! Não ligou. Nem particular, a dona fria, objetiva, conseguiu o tal “encaixe”.

Havia ainda outros quatro contatos. “Não é possível. Um, ao menos, vamos conseguir”, pensei. Liguei para o segundo da lista de boas indicações. Do outro lado da linha, nem esperança. Outra secretária, do mesmo tipo da primeira, uníssona, encurtou o assunto: “O doutor disse pra não marcar mais paciente porque ele não tá dando conta. Só ano que vem ele vai ver se abre vaga”. Obrigado.

Emendei o terceiro número. Dessa vez, nada de secretária, o celular direto do médico: doutor, quem me deu o seu telefone foi a Sueli… “Sueli…? Ah sim. Ligue para a minha secretária porque estou sem horário… ela vai ver o que pode fazer por você…”. Obrigado. A secretária, de outra linhagem, educada, anotou o meu número e prometeu ligar de volta. Isso, terça-feira, 14 de agosto. Até hoje, 77 dias depois, nem um alô.

Restavam outros dois números, guardados com carinho. Achei melhor deixar para o dia seguinte. Pausa no aborrecimento para curtir a farra do bebê na barriga da mãe: um acrobata. De um lado para o outro, o ventre da Violeta mais parecia uma tenda para os malabarismos de nosso mocinho. Logo pela manhã, tentei os outros dois pediatras. Nada também. Sem chance para nosso convênio – que nem é dos piores. Particular, talvez, dois novos “encaixes”. Eita palavrinha chata. Com três possibilidades de “encaixe”, esperamos pelo resto da gravidez. Nosso neném nasceu: lindo! Um espetáculo! Saudável, cheio de vida e futuro. Resolvemos então, marcar horário com a pediatra de plantão – muito competente no momento do parto. Gratidão nossa pelas boas mãos na boa hora.

Por fim, por R$ 250, uma doutora experiente. Primeira consulta: bem objetiva, sucinta. O velho Botelho já havia alertado, lá no passado, quando nasceu o meu primeiro filho: “Pediatra bom é aquele que dá todos os contatos para o caso de necessidade, meu filho”. A doutora despachou a gente sem demora. Nada de cartão ou telefone. Chance de convênio, doutora? “Não tenho interesse. Já posso me dar o luxo”. É justo. No retorno, semana depois, a doutora madura, bonita, perguntou: “E o umbigo? Caiu?”. Ah, sim – já havia caído antes da primeira consulta. Ela não reparou (?). Tantos pacientes. A boa doutora não podia mesmo se lembrar de seus pequeninhos clientes. Nem por R$ 250.

Por indicação de uma desconhecida, que soube da nossa luta, um novo contato: Hugo Werneck. Enfim, um excelente médico conveniado, com horário. E o melhor: na primeira consulta, um cartão com todos os telefones. Encheu-nos de perguntas sobre o bebê e até sobre a relação da família. Olhou-nos nos olhos e tocou cheio de cuidados o nosso filho. É. O mundo não está de todo sem esperança. Aos queridos estudantes de medicina e aos experimentados senhores de branco, uma pergunta: “Seria mesmo a pediatria assim tão desinteressante?”

Bandeira Dois - Josiel Botelho

Um comentário:

Anônimo disse...

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