Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A ferro e fogo


Quem via a loura de 29 anos, sorriso de tirar o fôlego e fala macia não era capaz de imaginar a habilidade da bela com as armas. No início do ano, depois de várias ameaças do ex-marido, Badu, mecânico de automóveis, Manuela, dona de salão de beleza, decidiu aprender a atirar. No ônibus, viu a placa do clube do tiro num poste na MG-030, sentido Rio Acima, e ficou com aquilo na cabeça: “É isso!”, disse para si mesma.

Matriculou-se no curso de tiro defensivo e foi tocada por força incrível com uma pistola calibre 380 nas mãos. Não havia alvo de papelão ou lata que Manuela não desse conta de pipocar. “Impressionante!”, avaliava o instrutor boa gente.

O ex-marido, machão, violento, não sabia, mas Manuela, em dois meses de prática já era a melhor atiradora do pedaço. Seu aproveitamento era de chamar a atenção até dos policiais e magistrados, associados do clube. Silenciosa, ela não era de conversa e nem dava espaço para os colegas – sempre boquiabertos com tamanha mira e beleza. A bela se limitava aos cumprimentos nos limites da boa educação.

Havia gente graúda no clube – endinheirada e com poder – capaz de qualquer coisa para uma esticada na noite depois dos treinos de quarta-feira com a bela. Nada. Ela não dava mole, a menor pelota. Manuela vivia para o filho, Arthur, de 2 anos, e para os compromissos com o modesto salão de beleza da periferia.

A cabeleireira apenas praticava no clube, enquanto o ex-marido, ciumento e ignorante, vivia de fazer ameaças. “Mato você, vagabunda! Mato!”, berrava sempre em frente ao salão. Ainda assim, Manuela resistia em ter uma arma em casa. “Não acho certo... tem o Arthur...”, disse para Estela, a vizinha. A amiga mais próxima era a única que sabia da intimidade de Manuela com as armas de fogo – era a vizinha quem tomava conta da criança para a atiradora praticar toda quarta-feira.

Foi depois de levar surra na porta do salão, em frente à freguesia, que Manuela registrou queixa e batalhou para obter registro e autorização legal para uma pistola 380. Convenceu a Polícia Federal de que se tratava de “caso de vida ou morte” e, principalmente, de que estava qualificada para fazer valer o seu direito.

No dia em que chegou em casa armada pela primeira vez, o marido tocava o terror na casa de Estela, trancada com Arthur no banheiro. O infeliz urrava, tentando arrombar a porta reforçada: “Mato você vadia! Fica com o meu filho pra vagabunda da mãe abrir as pernas na rua!”.

Manuela já entrou com a arma em punho na casa da vizinha. Deu de cara com Badu fora de si, também armado, com um 38 nas mãos. Foi ele a atirar primeiro. Manuela sabia tudo sobre as armas. Só não sabia matar.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho

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