Só a fé e o suor 24 horas para explicarem o sustento de cinco famílias, tirado no carrinho de cachorro-quente. No alto do Mangabeiras, antes da bênção do Papa João Paulo II, em 1979, o ambulante José Alves de Oliveira, de 60 anos, deu início a história de luta movida por pão com salsicha. Atualmente, quatro endereços, com filhos, água, luz e telefone, em turnos alternados, são mantidos pela venda de aproximadamente 1,2 mil unidades – mais água, suco e refrigerante. “O sinhozinho da pipoca diz que não sabe como um carrinho só sustenta tanta gente. Ele diz que é ‘mistério de Deus’. É bênção e trabalho”, considera Silvana Gomes da Silva, de 29, plantonista do dia, moradora do Bairro Palmital B, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Vestida de jaleco e chapéus brancos, símbolo do asseio e capricho que ajudam a dar credibilidade ao negócio, Silvana conta que começou no ramo, pequena ainda, acompanhando o pai. “A gente vinha criança para brincar na praça. Depois, viemos para trabalhar”, relembra a herdeira de José Alves, que, em 1996, ampliou a jornada de 18 para 24 horas. Duas gerações, reunidas, somam histórias. É tarde de lembranças. A mãe de Silvana, Ana Neusa, de 56, nascida em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, confessa que, no início, com a chegada dos filhos, teve medo de passar necessidades. “Com o tempo, a gente viu que para Deus nada é impossível”, sorri. A luta agora das famílias é pela aquisição de veículo automotor para promover o negócio a microempresa.
O carrinho, personagem da notícia, é bancada sobre rodas, feita em alumínio, padronizada e regulamentada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que, desde o Código de Posturas, não licencia mais veículos de tração humana. Bem a vista, Documento Municipal de Licença (DML) validado e plastificado. A placa modesta exibe “Hot Dog Especial Mangabeiras” no vermelho e azul da pequena tenda protetora. Sobre a plataforma mínima, o estoque de pães e bebidas. Há ainda lampião tinindo, dependurado, para as noites que reviram madrugadas. Do lado de fora, sobre o teto, sombrinhas e lonas guardadas para os dias mais difíceis sob as águas. “Quando chove é um problema. Os clientes não tem onde se esconder”, lamenta Silvana, que aponta a falta de banheiro como outra parte complicada do negócio: “A gente tem que ir lá em cima, no Instituto Hilton Rocha”.
Na lida com os cachorros-quentes a família cresce. Renata Priscila de Souza Peixoto, de 23, estava de parto marcado a semana. Está feliz da vida com a chegada das gêmeas Ana Júlia e Ana Luiza. Casada há dois anos com o cobrador Átila de Souza, de 26, a ambulante reveza as jornadas diurnas com Silvana, mãe de Lucas, de 4, e Mateus, de 8. Às noites, com uma folga por semana, quem cuida do ponto é Otacílio Rosa da Paixão, de 63, outro que ganha o pão na Praça do Papa com o carrinho, “mistério de Deus”. Renata e Átila, enamorados, demonstram o orgulho da vida multiplicada com a bênção dos pães. Os dois são mimo e chamego com Belo Horizonte emoldurada ao fundo. Ela usa o banquinho de madeira para ajudar com o peso de 38 semanas das duas bebês. Ele, companheiro, é só cuidado com o barrigão da mulher.
“A gente não imaginava duas crianças. A intenção agora é crescer mais e tentar dar um futuro melhor para as meninas. Não que o nosso tenha sido ruim. Queremos dar a elas condição de estudar. E uma família unida, né, amor!?”. O marido sorri em resposta e não se contém: “Tenho uma excelente esposa. Agora a responsabilidade é bem maior, com três moças no meu pé…”, sorri. Átila, que trabalha desde os 14 anos, fala em voltar a estudar para ajudar ainda mais a família com os negócios. Renata, de vestido longo, florido, vê com olhos de admiração os planos do marido.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 30/5/12
Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Um comentário:
boa tarde, jefferson
passo apenas para ti falar que sua materia ficou maravilhosa, que Deus ti abençoe muito, que você permaneça sendo esta pessoa humilde, carismatica, muito obrigado. parabens de coração. ATILA DE SOUZA
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