Quando a turma toda se reúne é conversa boa para mais de metro. A cervejinha tem lá os seus efeitos de inteligência. Falo sério. O Adelson, por exemplo, mais reservado, tímido até, é só tomar uma cervejinha, que só traz para a roda assunto de intelectual. No último domingo, carros guardados na garagem, é claro, fizemos um churrascão na casa do Osmar. Uma farra inesquecível entre amigos. Nunca vi tanta boa gente, junta, por metro quadrado. Foi aniversário do irmão caçula do Osmar, o Mauro. Ele acaba de voltar dos Estados Unidos. Passou 15 anos lá, na peleja, como garçom, pintor e motorista. “A situação na América já não é mais a mesma para os brasileiros faz tempo…”, lamentou. O Osmar, bom irmão, cheio de saudade, resolveu fazer uma homenagem surpresa. Uma beleza de emoção! O Mauro estava muito feliz. Não é para menos: nesses 15 anos, o moço só esteve no Brasil uma vez, em 2004, quando o pai morreu.
Meus amigos gostam de boa prosa. E como gostam. Entre tanto assunto papeado, O Adelson – tinha que ser ele – estava bastante bem impressionado por um filme nacional, em cartaz nos cinemas da cidade. Chama-se Paraísos artificiais, de Marcos Prado. Também gosto do filme. Não o acho tão bom quanto o Adelson, mas, realmente, chama a atenção pela bela fotografia, direção de arte, trilha sonora e interpretações. Luca Bianchi e Nathalia Dill convencem até nas cenas mais difíceis, de sexo,
dirigidas com bom gosto. O roteiro, na minha opinião, é que tem lá umas brechas e, em algumas passagens, deixa parecer legal o uso das drogas – mesmo matando uma belíssima personagem e encarcerando o mocinho da história. Bom, é uma opinião apenas. O Adelson, taxista, quase um filósofo, acha que tinha mesmo que parecer muito legal, “porque é uma realidade construída. No fundo, é feio como a morte”.
Faz sentido. O que sei é que o assunto rendeu. O Mauro não viu o filme, mas disse que nos EUA teve grandes amigos que trabalhavam em festas. Inclusive, contou que fez alguns bicos como barman por uns dólares a mais. “Não esqueço. Trabalhei numa festa que rolou muita droga. Fiquei com tanto medo da polícia aparecer por lá, que pedi desculpas para o meu amigo que descolou o trampo e sartei fora quando a coisa começou a esquentar”. Mauro falou de música eletrônica, luz colorida e ecstasy na cabeça na moçada. Chega a ser parecido com o que acontece no filme do Marcos Prado. Paraísos artificiais mostra um pouco do rumo do sem rumo. Um retrato da triste contradição – dependência/liberdade – daqueles que não sabem lidar com limites.
Sueli ficou curiosíssima para ver o filme. Ela já perdeu uma pessoa muito amada para o mundo das drogas. “Era o melhor sujeito que conheci na vida. Ficamos uns dois anos juntos… aí, ele começou a usar maconha. E a vender… tive que sair da vida dele… nunca mais tive notícias”. Em casa, mais tarde, ao lado da mulher amada, uma conclusão: “É muito triste o filme das drogas”.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 16/5/12
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