Antonio Edson, o Edinho, de 43 anos, mecânico dos bons lá do Bairro Guarani, na
Região Norte de Belo Horizonte, andava enfrentando a maior
barra com os males do coração. Tanto que, agora, fim de madrugada, com o
sol pronto para rasgar o horizonte, estava em lágrimas, abraçado
ao taxista bigodudo de sorriso amarelo, na Praça da Estação.
Antes,
para o amigo leitor entender o inusitado da cena, é preciso voltar horas
no tempo, no cair da noite, na Rua da Bahia. Quando Edinho, andante, peito de
amor doído, resolveu perambular sozinho, desgarrado, para espairecer a
ideia abatida. Entrou no Teatro da Cidade, sempre de portas abertas, e
viu drama de morte severina. No fim da peça, derramou o molhado dos
olhos que a seca bebe e desceu a rua para matar a sede de aguardente.
Antonio
Edson passou pelo restaurante lotado, 24h, mas não queria movimento.
Preferiu entrar no Edifício Maletta e vencer a escada de aço
escangalhada. Sorriu sem graça para o sujeito desdentado e arranjou mesa
no canto, afastada. O rádio tocava qualquer coisa de fossa feita por um
tal Vander Lee. Música boa, porém, de doer a alma. Edinho acendeu
cigarro picado só para contrariar o pavor pelo fumo Tragou fundo como se
quisesse incendiar as próprias vísceras. Virou uma, duas, três doses de
pinga barata e suspirou como quem quer ver Jesus.
Amargurado, Edinho observa mesa de grupo fanfarrão e não dá mole para a
alegria. Deixa nota amarelada na mesa sem se preocupar com o troco. Faz
gesto seco para o dono do estabelecimento e volta ao rumo da rua. Desce
desnorteado, atravessa a Avenida Afonso Pena e acaba indo parar na parte
mais baixa, no quarteirão das putas tristes. Lamentou a sorte dos
homens sós, dos casados traíras e esquadrinhou os hotéis fedorentos. A
madrugada avançava quando Edinho, por fim, achou melhor tomar carro de
aluguel e voltar para casa. Amargou mais meia hora vazia até conseguir
parar sedan branco de placa luminosa, com o motorista gordão em cara de sono.
Edinho, descasado e sem filhos, olhou para o taxista e disse num só
sopro, dando liberdade a voz do espírito: "Amigo, eu pago a bandeira.
Mas não precisa partir... só quero um abraço... bem apertado. Um abraço apenas". E, ali,
no Bulevar Arrudas, o mecânico carente e o taxista auxiliar ficaram unidos por hora: como
dois irmãos.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 7/5/12
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