Todo o muito que já foi dito ainda é pouco perto da gravidade
do assunto. Na noite de domingo, na TV aberta, a revelação de abusos
sofridos pela apresentadora Xuxa Meneghel, até os 13 anos, trouxe à
tona questão que merece atenção permanente por parte de todos. Pessoa
pública, endinheirada, estrela da televisão brasileira, não é de
impressionar a repercussão de trecho da entrevista em toda a mídia
impressa, eletrônica e nas redes sociais. Independentemente da
espetacularização do drama, o fato é que abusos dessa natureza devem
ser combatidos com força e coragem. Nunca fui fã da Xuxa. No entanto,
reconheço a sua força e o seu valor, às vesperas de completar 50 anos.
Na
segunda-feira, entre os amigos de bem, não houve outro assunto. Ainda
mais por parte do Genilson, inflamado quando a conversa é a violência
contra crianças. Nosso amigo, taxista, é “tolerância zero” com
estupradores. Genilson não esconde nem breve passagem pela polícia. Nos
anos 1990, em Santa Efigênia, ele flagrou um sujeito de meia idade com
as calças no chão, abusando de um garoto de 8 anos. Ele bateu tanto no
abusador que foi parar na delegacia, fichado. O tarado, todo quebrado,
fez a família deixar o bairro de tanta vergonha. “Os pais do infeliz,
ricos, eram pessoas muito boas, os irmãos também. Eles não deram conta
de encarar os vizinhos depois da atitude do filho”, diz Genilson.
Genilson
revela que depois que o abusador se mudou de Belo Horizonte,
apareceram outras duas famílias com o mesmo problema causado pelo mau
elemento. “Um ano depois, soubemos que o sujeito havia sido preso pelo
mesmo motivo e amanheceu morto num presídio do interior de São Paulo”,
conta. Triste fim para uma história que se repete em todas as classes
sociais. A Sueli, que também acompanhou a revelação bombástica da Xuxa,
diz saber de caso próximo, de gente muito querida, semelhante ao da
apresentadora. “As crianças, meninos e meninas, não entregam o
abusador, quase sempre, por medo do que a família pode pensar. Chegam
até a se sentir culpados pela violência sofrida”, diz.
O
Adelson traz para Bandeira Dois ponto de vista polêmico, debatido por
ele, recentemente, com um psicanalista, passageiro das antigas. “Depois
de tudo o que ouvi sobre o caso do maníaco do Bairro Anchieta, o tal
Pedro Meyer, anote aí, Josiel… esse é um problema que pode se repetir. O
abusador costuma ser um sujeito que foi abusado na infância. Como
escreveu Freud: ‘A criança é o pai do homem’. Disse-me o Dr. René”.
Será mesmo que Freud dá conta de explicar a quantidade de gente doente
espalhada pelo mundo, capaz de abusar de nossos pequenos, Adelson? O
assunto vai render.
O que sei, pai de família, é que não dá
para baixar a guarda em relação às companhias de nossos filhos. Temos
que ser vigilantes sempre. Como na história da Xuxa, que, alegre,
falante na infância, de repente tornou-se calada, o mal pode estar
muito mais perto do que a gente imagina: entre parentes, amigos,
professores e vizinhos. É preciso denunciar. Lugar de quem maltrata a
inocência é atrás das grades. No ideal em construção, pelo qual toda
gente do bem trabalha, não há espaço para quem não tem coração. Com
tanto tempo de TV, enfim, Xuxa trouxe à cena um pouco do seu melhor: a
coragem.
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 23/5/12
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