“Faço o bem porque tenho uma missão e tento compensar um passado ruim”, diz Leonardo Thomasi, de 63 anos, que há quase duas décadas ganha a vida como Papai Noel e, sem fazer alarde, assiste a cerca de 600 pessoas carentes. Leonardo, de 1,90m, 130 quilos, olhos verdes, barbas brancas e óculos na ponta do nariz, comanda outros 12 Papais Noéis em Belo Horizonte e tem sua imagem maquiada, espalhada por vários cantos do Brasil. Ano passado, esteve até em reality show, exposto por 14 dias dentro de casinha de vidro em shopping chique do Triângulo Mineiro. Leo faz uso de apenas 20% do que recebe como microempresário e personagem. De todo o montante, fica apenas com o básico para si e para a família – 11 filhos, 17 netos e quatro bisnetos. Enquanto se transforma para mais uma apresentação beneficente, num banheiro de 3x3, Leo aceitou falar ao Aqui. Emocionado, deixa escapulir passado difícil como agente pelas nove fronteiras do país. Pede segredo por ações das quais não tem nenhum motivo para se orgulhar.
Mostra no corpo agigantado, com ilha tatuada no peito, marcas do tempo ruim: cicatrizes traçadas por armas brancas e de fogo. Bate em vários pontos do tronco, dos braços e das pernas para indicar a grande quantidade de platina junto aos ossos. Conta problemas recentes de pescoções e ameaças por parte de traficantes e maus policiais – “todos denunciados na corregedoria”, salienta. Pouco a pouco, o Leo, simples dono de pequena cantina, vai se transformando em Papai Noel, atração mais famosa do imaginário popular. Poliglota, além de bom português, fala francês, alemão, russo, italiano, inglês e espanhol. Já esteve em 74 países e contabiliza 200 outdoors em campanha pelo Natal. Ano passado, a serviço em pedaço do Polo Norte montado em grande centro comercial de BH, sofreu infarto que lhe rendeu encaminhamento para quatro pontes de safena. Teimoso, resistiu e fez “recauchutagem mais simples, com quatro stents apenas”.
Sábado, contratado a peso de ouro por gente graúda, percorreu cinco mansões com seu trenó automotivo puxado por 240 cavalos. A mulher de Leo, Svânia Souza do Nascimento, de 49, braço forte, aparece na porta do banheiro e avisa: “As crianças já estão esperando”. Papai Noel deixa o camarim improvisado, entra em cena e é recebido com galhardia por dezenas de criancinhas do Colégio Santa Tereza. As avarias no peito ele atribui ao trabalho com os pequenos. Para citar apenas um, traz da memória momento marcante vivido recentemente. “Foi numa ala de crianças do Hospital das Clínicas. Estava distribuindo presentes, carrinhos e bonecas, aproximei-me de uma mocinha bem pequena, coberta por lençol. Deixei o presente dela e virei as costas. De repente, ouço um chamado: ‘Papai Noel, troca pra mim!’. Quando me virei, ela estava com a boneca nos braços em toco e pediu: ‘Troca pelas minhas mãozinhas’”, desaba o gigante, tão valentão no passado.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 26/12/11
Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
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