Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Bodas de cristal


Verão. Aniversário de casamento. Palmira e Wenceslau sonharam programa diferente para festejar 15 anos de união. Na praia, claro. Sem a mulher saber, o comerciante resolveu fechar suíte do melhor motel de Guarapari para a ocasião. “Em Guarapari, Wenceslau!?”, duvidou o amigo, Moisés, colega de shopping popular. “Tamo indo amanhã. E, além do mais, tô podendo fazer essa extravagância, você sabe”, sorriu. Já Palmira era só empolgação: “15 anos. É tempo demais da conta. Misericórdia! Hoje em dia não é para qualquer uma. 15 anos! Tô até desconfiada que ele vai me fazer uma surpresa. É que ele anda falando baixo, meio escondido, no telefone. A gente vai tá na praia. Quero só ver. Comprei uma lingerie...”, contou, toda sapeca, para a Augusta, colega docente.

Estrada adentro, silêncio. Só sorrisinhos marotos, no canto das bocas, por nove horas de volante. Nunca foram de muita conversa. Havia quem dissesse que era este o segredo da união tão duradoura. “Casal que conversa demais dá bom-dia a cavalo. Está ali homem e mulher que sabem das coisas”, dizia em coro a vizinhança, no Vale do Jatobá. Não que não gostassem de boa prosa. Com os outros até que eram bem falantes. Mas, de fato, em casa, nunca foram de jogar conversa fora. Comunicavam-se muito com o olhar. Bastava o Wenceslau fitar a Palmira para ela ler seu pensamento. E vice-versa: era só a Palmira inclinar o olhão azul para o lado do Wenceslau, que ele tinha certeza do que ela estava querendo. E assim tocavam a vida de acordo: 15 anos!

De poucas palavras, o assunto predileto do casal era sexo. Entre os dois, uma harmonia. “Satisfação 100%”, ele fazia questão de dizer. Os amigos jamais entenderam porque o Wenceslau, em 15 anos, jamais pulou a cerca. Sério. Desde o sim na igrejinha do Barreiro, o moço sequer deu brecha para qualquer tentação. Para a cambada amiga, mérito da Palmira, “boa de cama”, que soube “trancar-lhe o quadril”. Quando conheceu o Wenceslau, teve certeza: “É ele”. E foi para nunca mais dar mole para ninguém. Leal como não costuma existir. Juntos: a fome e a vontade de comer. Daí, não havia jeito melhor de festejar os anos de sexo de qualidade: no céu com a bunda de fora.

Fim da estrada. Wenceslau sorriu safado e deu lenço vermelho para a mulher, que, sem demora, entendeu que era para os olhos. Não só amarrou a venda, como, para apimentar a intenção, desceu a calcinha minúscula sem tirar a saia. Foram direto para a suíte do “Toca do Coelho”. Lá, a coisa ferveu. Só que o Wenceslau teve um piripaque grudado na mulher, ensandecida, no minuto que precede o paraíso. Foi preciso ambulância no motel para resgatar o Wenceslau. Mais tarde tudo ficou bem. Difícil foi encarar os funcionários do hospital na semana de internação. Cidade pequena. O povo fala. E como fala.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho- 12/12/11

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