Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Do buraco só se sai para cima


Não é novidade entre os leitores de Bandeira Dois que, neste quintal, fala-se muito de filmes. Enquanto os botecos vivem lotados, aqui chapamos o melão nos cinemas. Cada um na sua praia. Sem preconceitos ou discriminações. Larry Crowne - o amor está de volta, com Tom Hanks e Julia Roberts, é a boa fita da semana. Fred, Gabriela, Violeta e eu fomos lá, no domingo, prestigiar a comédia romântica americana de conteúdo, dirigida pelo próprio Tom Hanks. Nem preciso dizer que sou fã desse ator-diretor há tempos. Ele chamou a minha atenção desde o filme Splash - uma sereia em minha vida, de 1984, no qual divide a cena com a bela Daryl Hannah. De lá para cá, Tom Hanks me emocionou em vários trabalhos. Para citar apenas cinco, quem não se lembra do show do moço em Filadélfia (1993), Forrest Gump, o contador de histórias (1994), Náufrago (2000), À espera de um milagre (1999) e O terminal (2004)? Todos inesquecíveis.

Na minha humilde opinião de fã e cinéfilo amador, Larry Crowne, em cartaz na cidade, é obra bem menor do que as cinco citadas acima. Não tem a força poética ou a genialidade de seus roteiros e direções. Ainda assim, Larry Crowne, sem dúvida, merece nossa audiência. Trata-se de um recorte muito bem alinhavado dos tempos áridos da economia dos EUA. O filme conta a história de um sujeito muito trabalhador e gente boa que perde o emprego por não ter diploma de curso superior. E isso, justamente no momento em que esperava receber mais um título de “funcionário do mês”. Arrasado com a demissão, Larry – personagem de Hanks – batalha por nova colocação. Sem sucesso, decide voltar a estudar e sua vida ganha novo rumo na faculdade. Faz novas amizades na escola e se apaixona pela professora de oratória, Mercedes Tainot, vivida por Julia Roberts.

Até aí, nada de mais. Ingredientes bem comuns ao cinemão americano. O diferencial está na quantidade de coadjuvantes bem construídos, como vizinhos e colegas de classe. Há um professor japa, Dr. Matsutani (George Takei), fazendo bom humor até com o que parece não ter graça. Mas entre os papéis secundários, o destaque fica por conta de Gugu Mbatha-Raw. Uma atriz inglesa de 28 anos, descoladíssima, que vive na trama uma estudante, melhor amiga de Larry. São muitos os bons momentos do filme, alcançados pelos parceiros de Tom Hanks e Julia Roberts. De melhor, o pano de fundo: a força para a superação das dificuldades que se descortinam ao longo da nossa vida. Sejam no campo pessoal, sejam no campo profissional. Os americanos sabem falar disso. A mensagem está lá: não importa o seu drama, o certo é que com trabalho você pode dar a volta por cima.

Larry Crowne é uma espécie de recado de fé e esperança ao povo americano, que, nos últimos anos, tem visto ruir o poder econômico da maior potência do mundo. Do lado de cá, ainda que em mínima escala, entendo bem essa mensagem. Já até escrevi em nosso Aqui, texto intitulado “A arte de sair do buraco”, alinhavado numa fase difícil, quando, mais uma vez, aos trinta e tantos anos de vida, passava por maus bocados. Em português mais claro, bem popular, é aquela história de que “há males que vêm para o bem”. Cruzar os braços, chorar e viver de lamentar o passado é coisa para os fracos. Às vezes, como no filme do Tom Hanks, é preciso perder o chão para aprender a sair do lugar.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 14/9/11

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