Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Bob Boca de Aço


O pequeno Bob, de 5 anos, provocou reboliço em Iaras, cidade do interior de São Paulo, quando foi intimado a depor na Seccional Sul, especializada em crimes da pesada. Bob é acusado de ter mordido a mão da professora Mary, que obteve licença médica e foi buscar paz em praia do Guarujá. Ela não quis falar com a imprensa. Os moradores do conjunto habitacional da Rua Mike Tyson, esquina com Evander Holyfield, onde vive Bob Boca de Aço, também se recusam a comentar o ocorrido. O acusado chegou a delegacia acompanhado da mãe, Sally, bailarina. “Mãe, pode deixar que resolvo essa parada”, disse Bob, diante do mal-encarado agente Big Dog, um armário de dois metros, braço direito da chefia. “Ok, filho. Qualquer coisa, mamãe está aqui”, disse a bela mulher, sentada na antessala do departamento de polícia.

Big Dog e Boca de Aço seguiram lado a lado até a sala do delegado. O pequeninho batia pouco acima dos joelhos do gigante. Juntos, cruzaram corredor sombrio entre celas abarrotadas de bandidos de todos os tipos. Bob e seus olhinhos esverdeados tremeram na base, mas não deixaram transparecer. “Ufa”, suspirou o pirralho, aliviado, ao vencer o trajeto. Big Dog segurou a vontade de rir. O delegado Aranha, homem de regras e jogo duro, estava a esperar. Com seu idefectível bigodinho paulista, puxou o interrogatório:

– Então, é o senhor o famoso Bob Boca de Aço!?
– Bob. Só Bob. Boca de Aço é apelido.
– Apelido? Por que?
– Por causa dos meu dente. Olha só…
– Deixe-me ver… hum… mas só tem quatro.
– Tô trocando. Minha mãe disse que vai nascer mais.
– Entendo... Bebe alguma coisa? Um toddy?
– Não, obrigado! Minha mãe meu deu um yakult. Quer?
– Tem mais aí no bolso?
– Tenho. O senhor pode querer. Tenho dois.
– Então, vou experimentar. Posso?
– Pode. O senhor é legal.
– Obrigado. Bob… a professora Mary disse que você não foi legal com ela.
– Foi sem querer. Tem que beber de uma vez… assim… Não é bom?
– Muito bom. Mas ela ficou com quatro marquinhas na mão… seus dentes?
– Ela entrou na frente. Era o Billy quem eu queria morder. O senhor gosta dos Smurfs?
– Smurfs? Billy é seu amigo?
– Era. A gente tá brigado. É. Os Smurfs. Minha mãe vai me levar no cinema agora.
– Legal. Por que você e Billy estavam brigando, Bob?
– Esqueci. Se o senhor quiser, pode ir com a gente.

Já era tarde. Aranha liberou Bob sem demora para que ele não perdesse o filme. Sally sorriu ao ver o filho, feliz, voltar no colo do homem da lei. “Cuide bem do Boca de Aço aqui, senhora!”, disse o delegado.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 29/8/11

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