Nadeo era o bicho. Traçava todas. Depois que descobriu o viagra então, turbinou o entusiasmo. Quando casado era vez por outra. Ficou viúvo, não deu outra: encapetou-se. No ápice da melhor idade (84 anos completados no início do ano), não podia ver um rabo de saia. Os amigos do carteado e da sinuca comentavam: “O Nadeo é o cara!”
Nadava três vezes por semana. Caminhadas, musculação e dança de salão. De tudo ele fazia. Sua maior fonte de renda estava nos aluguéis. Em 70 anos de trabalho construiu vários barracões e lojas em Venda Nova. Filhos e netos encaminhados na vida, o resto era curtição. Cabine dupla; moto (ele adorava uma motocicleta) e, claro, mulheres.
E só gostava de menininhas: “Gosto daquele jeitinho desengonçado das mocinhas de 20, vinte e poucos. Passou dos 25, pego não. Dá mais trabalho.” Até que conheceu Selena. Mocinha de Ibirité, 26 aninhos, branquinha e de boas carnes. Foi na padaria, depois da ginástica. Em trajes de atleta, ele chegou na balconista:
– Ainda não conhecia você.
– Estou começando hoje. O senhor quer mais alguma coisa?
– Você. Me chame de você…
E Selena não deu muita trela. Tinha namorado. E, por dias, o Nadeo marcou em cima, ficou na cola, com simpatia e gentileza. Na segunda semana, depois que soube de um pequeno desentendimento entre o casal, resolveu dar presentinho:
– Uma lembrança…
– Sério? Não faz zoação!
– Abre.
– É lindo!
Um vestido curto, azul piscina. De alcinhas finas. Custou-lhe os olhos da cara. Mas para a Selena ele estava disposto a dar tudo. Queria porque queria arrebatar a ninfa. Aproveitando o clima provocado pelo mimo, deu o bote:
– Gosta de festa?
– O quê?
– Festa. Gosta de uma festinha?
E, por educação, talvez, Selena topou o convite para o aniversário dele, num sítio em Betim. Conversa. Ele era de fevereiro. Isso era julho. Sábado. Ela conseguiu folga na padaria. Eles chegaram cedo para curtir a piscininha. E durante todo o dia, com talento de ator, ele resmungava: “Não vem ninguém. Todo ano é assim! Nunca vem!” E ela, doce: “Ainda é cedo…”
O fato é que, brigada com o namorado, a branquinha das boas carnes começou a gostar daquela história de dona da casa. Cervejinha na cabeça, olhou para o Nadeo de sungão e pensou: “Até que não é nenhuma desgraça…” E cedeu à armação do velho tarado.
Selena esperou a noite chegar e colocou o vestido azul. Sem roupas íntimas, uma indecência. Fez charme em jogo de pernas de matar de inveja a Sharon Stone em seus tempos de glória. Os dois dançaram em sarro adolescente.
Foram para a suíte no andar de cima… e, ali, na cama, o garanhão serelepe sofreu infarto fulminante. Bateu as botas sem ao menos desamarrar os sapatos.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho
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