Neste quintal, desde sempre, preserva-se a liberdade de expressão. Por ocasião da coluna da semana passada – “Os médicos e o bafo do dragão” –, Joaquim Duarte Pinto, respeitável leitor, de Varginha, no Sul de Minas, enviou o e-mail a seguir:
“Prezado Josiel,
Não sou nem nunca fui de enviar mensagens a articulistas, limitando-me apenas a gostar ou não do que leio. Mas no seu caso fiz a primeira exceção e o fiz com grande satisfação, pois o assunto de que tratou em sua coluna – que leio diariamente – tocou-me diretamente, tratou de coisas que a mídia em geral se recusa a mencionar, possivelmente por medo da famigerada ‘máfia de branco’.
Tudo aquilo que li em seu artigo já vivi e até bem mais nas minhas 82 bem vividas primaveras. Ao longo dos anos vi a medicina se transformar num imenso balcão de negócios, onde o interesse pecuniário ocupou o lugar do tratamento digno dos pacientes, notadamente no que diz respeito aos usuários de planos de saúde. O cliente hoje em dia é visto pela grande maioria dos médicos meramente como um cifrão. O ser humano que ali está, que aceite o que lhe é oferecido e ainda agradeça pela graça de ter sido atendido.
Como desde algum tempo deixei de confiar em nossos médicos, pouco os procuro e, quando o faço é para fazer um check up periódico. E mesmo nessas poucas vezes, enfrento o pouco caso dos profissionais que, em sabendo tratar-se de cliente oriundo de plano de saúde, realiza um exame tão perfunctório, tão superficial, que ainda que fosse ele um vidente, jamais poderia atinar com o mal que poderia estar me afligindo. Mas uma coisa é certa: fatalmente ele me indicará o laboratório onde fazer a análise, a clínica de um parente ou amigo para fazer algum exame complementar, ou coisas do gênero. Já me indicaram como de extrema necessidade fazer um cateterismo, em virtude da minha pressão ‘altíssima’ – 9 x 14. Não é preciso dizer que quem faria o cateterismo era ele mesmo.
Em outra instância, sentindo uma forte dor muscular na perna esquerda (essa foi bem recente) fui procurar um especialista no ramo, médico de renome aqui na cidade. Em menos de cinco minutos de consulta, na qual ele procedeu a somente alguns movimentos com a perna afetada, diagnosticou tratar-se de ‘má irrigação sanguínea’ e indicou-me um colega,cirurgião vascular, para tratar do meu caso. Ainda que não acreditando muito, eu fui. Esse médico, que por sinal, procedeu a um exame mais meticuloso e insinuou que ‘meu colega deve ter bebido um pouco além da conta’. Era dor reumática mesmo e tive que me submeter a trinta sessões de fisioterapia. Claro que em uma clínica indicada por ele. Só algum tempo depois é que eu atinei com o "recado" que o reumatologista quis me dar: que o meu caso era de ‘veiíce’.
Mas até que eu me considero um afortunado. E os que, em número cada vez maior, são alvos de erros médicos, morrendo em virtude de ‘barbeiragens’ inadmissíveis numa profissão como a medicina. A menina que em vez de soro recebeu vaselina líquida; a que perdeu uma perna (faleceu recentemente) depois de sofrer queimaduras de terceiro grau pelo contato da placa negativa do bisturi elétrico; amputação de membros errados, e uma infinidade de outros casos que seria enfadonho enumerar. E eles continuarão a cometer esses erros, pois sabem perfeitamente que jamais sofrerão algum castigo: a ‘máfia de branco’ sabe como proteger os seus membros. Os conselhos regionais de medicina recebem as denúncias e engavetam-nas até que o fato seja esquecido e o autor estará de novo sorridente, prontinho a perpetrar novas barbaridades.
E a classe reclama que os planos de saúde pagam mal. Eu até concordo, se comparado ao preço exorbitante que cobram pelas consultas particulares. Mas aqui eu faço uma pergunta: se são tão mal pagos, por que vivem implorando às operadoras que os incluam em suas listas? Digo isto de cadeira, pois meu filho trabalha justamente nessa parte administrativa de um conhecido plano de saúde regional e recebe diariamente dezenas de pedidos para novas inscrições, ao ponto de a operadora ter agora endurecido as normas para a admissão de novos médicos, obrigando o candidato a prestar exame de títulos e conhecimento prático. Portanto, essa reclamação me parece de quem chora de barriga cheia, uma vez que é o chamado ‘pinga-pinga’ de clientes proporcionado pelos planos que lhes garante as gordas receitas mensais, pois se fosse viver dos particulares, a maioria morreria de fome.
Meu caro Josiel, desculpe esse meu longo desabafo, mas é preciso que alguém lúcido como você empunhe a bandeira contra esse estado de coisas, contra esse maus médicos que, em vez de terem feito o juramento de Hipócrates, no máxino fizeram o juramento dos Hipócritas. Muito grato pela atenção.”
Bandeira Dois - Josiel Botelho - 18/5/11
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