Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Antes que o amanhã aconteça (6)

A romântica cantora da noite jamais imaginou ouvir tanto sobre sexo profissional. Ariela, empolgada com a ouvinte de luxo, falou da carreira na Rua Guaicurus com a naturalidade de boa aluna, que descreve os feitos na universidade. Dorinha, dona da casa, perguntou à visitante se ela se importaria em conversar enquanto passava pequena trouxa de roupa:

– É pouca coisa. É que não gosto de deixar para depois.
– Precisa de ajuda? Vou dar jeito na louça pra você.
– De jeito nenhum. Você é visita. Quando terminar de comer eu cuido da pia.
– Já acabei. Não me custa ajudar.
– Ariela... menina.
– Já estou com a mão na massa. Quase não faço isso. Lá em casa tem a dona Marcelina que cuida de tudo. A gente não lava nem as calcinhas.
– Suas amigas?
– Humhum. A gente vive que nem dondoca. Quase todo mundo já tem carro. A briga agora é por causa de garagem. São só duas vagas e tem três carros. Aí a gente aluga a do vizinho e faz revezamento. Só que a mulher dele morre de ciúmes e de vez em quando o barraco tá armado. A verdade é que ele dá em cima da gente.
– Elas trabalham com você?
– Só duas. As outras já mudaram de vida. Uma é atriz pornô. Ela passa a metade do mês aqui e a outra no Rio de Janeiro. Tem uma, a Lenora, que começou com um lance novo aí com site erótico. Ainda não sei bem o que é. Só sei que ela fica se masturbando na frente da câmera do computador e tá ganhando dinheiro com isso. Vai entender. Não gosto de dinheiro fácil não.
– O que vem fácil, vai fácil, né!?
– Então. Cresci ouvindo o meu pai falar isso mesmo que você falou. Tem gente que diz que prostituta é mulher de vida fácil. Não tem nada de fácil no que eu faço não.
– E você?
– O que?
– Pensa mudar de vida?
– Penso não.
– Você estuda?
– Estudar pra quê? O presidente não estudou. Quase todo mundo que conheço, que passou a vida na escola, está passando dificuldade. Quando eu era mais nova, pensava ser jornalista, mas também nem precisa mais de diploma. Se quiser ainda posso ser.

Na companhia de Dorinha, Ariela foi soltando cada vez mais a língua. Excitadíssima, parecia ter reencontrado amiga de infância. Deixou falar joelhos e cotovelos.

(Continua na próxima segunda-feira)
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 18/10/10

Um comentário:

Caca disse...

Beleza, Jeffferson! Já estava ansioso, agora adescobri que você mudou para as segundas. Estamos aí! Abração. paz e bem.