Algumas das primeiras linhas de Tennessee Williams (1911-1983) em Fale comigo doce como a chuva dizem: “Um quarto. Numa cama está deitado um homem tentando despertar e seus suspiros são os de um homem que foi se deitar muito bêbado. Lá fora o céu está cinzento, carregado de uma chuva que ainda não começou a cair. A mulher está segurando um copo de água. Ela toma pequenos goles com gestos nervosos. Ambos têm rostos jovens e desolados como as crianças em países devastados pela fome. Na maneira de falar existe certa delicadeza, espécie de formalidade meiga, como em duas crianças solitárias que desejam ser amigas, e, no entanto, têm-se a impressão de que eles vivem nesta situação íntima há muito tempo e a cena que está se passando entre eles é uma repetição de cenas anteriores tão frequentes que se tornaram patéticas, pois nada mais resta do que a aceitação do inalterável entre eles, sem nenhuma esperança de mudança”.
Com a escrita acima, em 1953, o dramaturgo norte-americano traz à luz peça de único ato das mais belas no que se refere à solidão a dois. Não são raros os textos teatrais que esquadrinham o tema. Bem poucos, porém, com a delicadeza de Tennessee. A montagem da Companhia Teatro Adulto, de título adaptado – Fala comigo como a chuva –, dirigida por Cynthia Paulino, que esteve em cartaz no Teatro Alterosa, pela 10ª edição do FIT BH, é bastante fiel às indicações do escritor. Especialmente ao sopro das palavras: “Na maneira de falar existe uma certa delicadeza, uma espécie de formalidade meiga como de duas crianças solitárias que desejam ser amigas”. Rubrica levada à risca por Luiz Arthur e Samira Ávila, mergulhados em quarto de casal a naufragar. A dupla de atores domina o jogo de infelicidade e desesperança proposto por Tennessee. Ainda que o tom intimista – especialmente de Samira –, por vezes, não permita que a plateia ouça bem as personagens. Pormenores à parte, a atriz repete em Fala comigo como a chuva a boa atuação que a destacou em Por Elise, do Grupo Espanca!, em 2005.
Luiz Arthur, com bagagem de quem esteve em trabalhos impactantes da cena mineira – O beijo no asfalto (Wilson Oliveira, 1996), Noites brancas (Yara de Novaes, 2004) e Servidão (Carlos Gradim, 2007), para citar apenas três –, não menos vertical, tem sua performance mais modesta em Fala comigo como a chuva. Generoso, abre espaço para a companheira mostrar serviço. Quando comedido, discreto até, não esconde a respiração que o faz intérprete acima da média. Cynthia Paulino, com sensibilidade de quem sabe reinventar sensações, consegue levar a plateia para dentro de seu quadrado dramático. Agrega bom amparo técnico (arte, luz e cenografia), que dá eficiência ao espaço, ao tempo e à ação. Com invencionices corporais de menos, permite que seu bom duo não vá palmo além do que realmente importa quando o assunto é Tennessee: os sussurros da alma.
Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 10/8/10
Com a escrita acima, em 1953, o dramaturgo norte-americano traz à luz peça de único ato das mais belas no que se refere à solidão a dois. Não são raros os textos teatrais que esquadrinham o tema. Bem poucos, porém, com a delicadeza de Tennessee. A montagem da Companhia Teatro Adulto, de título adaptado – Fala comigo como a chuva –, dirigida por Cynthia Paulino, que esteve em cartaz no Teatro Alterosa, pela 10ª edição do FIT BH, é bastante fiel às indicações do escritor. Especialmente ao sopro das palavras: “Na maneira de falar existe uma certa delicadeza, uma espécie de formalidade meiga como de duas crianças solitárias que desejam ser amigas”. Rubrica levada à risca por Luiz Arthur e Samira Ávila, mergulhados em quarto de casal a naufragar. A dupla de atores domina o jogo de infelicidade e desesperança proposto por Tennessee. Ainda que o tom intimista – especialmente de Samira –, por vezes, não permita que a plateia ouça bem as personagens. Pormenores à parte, a atriz repete em Fala comigo como a chuva a boa atuação que a destacou em Por Elise, do Grupo Espanca!, em 2005.
Luiz Arthur, com bagagem de quem esteve em trabalhos impactantes da cena mineira – O beijo no asfalto (Wilson Oliveira, 1996), Noites brancas (Yara de Novaes, 2004) e Servidão (Carlos Gradim, 2007), para citar apenas três –, não menos vertical, tem sua performance mais modesta em Fala comigo como a chuva. Generoso, abre espaço para a companheira mostrar serviço. Quando comedido, discreto até, não esconde a respiração que o faz intérprete acima da média. Cynthia Paulino, com sensibilidade de quem sabe reinventar sensações, consegue levar a plateia para dentro de seu quadrado dramático. Agrega bom amparo técnico (arte, luz e cenografia), que dá eficiência ao espaço, ao tempo e à ação. Com invencionices corporais de menos, permite que seu bom duo não vá palmo além do que realmente importa quando o assunto é Tennessee: os sussurros da alma.
Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 10/8/10
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