Quem poderia imaginar, no cultuado FIT BH, comédia rasgada, com cacos até? No Festival de Curitiba, vá lá. Tem de tudo ali. Na campanha de popularização de Minas também, pois no maior evento de artes cênicas do Brasil, há décadas, são as comédias as grandes vedetes. Mas no FIT? De fato, há algo de novo nesta 10ª edição. Dona Otília e outras histórias, produção independente do Rio de Janeiro, talvez seja marco popular na modalidade palco. Uma indicação de maior abertura ao entretenimento, sem tantas discriminações ou preconceitos. O FIT também é pop. Por que não?
A montagem dirigida por Gilberto Gawronski, que faz última apresentação hoje, às 19h30, na Sala João Ceschiatti, reúne três textos de riqueza cômica, popular e absurda, escritos pela gaúcha Vera Karam. “Dona Otília lamenta muito”, “A florista e o visitante” e “Dá licença, por favor” compõem espetáculo hilário, costurado pelo monólogo de dramaturgia meia-boca (salva-se a intérprete) “Será que é o contrário a vida da atriz”. Gawronski, que está muito bem no palco, soube imprimir agilidade às mudanças de quadros, fazendo uso de simplicidade prática no desenho das cenas. Boa trilha e figurino correto arrematam valores técnicos. Modesta projeção, cadeiras e flores artificiais, apenas, bastam para o bom trabalho do elenco.
Das três histórias, a segunda deixa cair o espetáculo. Chega a parecer um equívoco. Não que o problema esteja em Gawronski e Letícia Isnard, que a defendem com vigor e timing. A questão está na diferença gritante do humor inteligente contido nas outras tramas. Espremida entre dois quadros geniais, “A florista e o visitante” não tem fôlego e cansa. “Dona Otília lamenta muito”, de cara, faz gargalhar e ganha a plateia, enquanto, na outra ponta, “Dá licença, por favor” encerra a curta hora de duração da peça, causando ainda melhor impressão no espectador.
Nesses quadros se destacam as atuações. Sávio Moll, excelente ator, além de se manter com segurança em seus pontos mais elevados de participação, faz escada perfeita para a impagável parceira. Guida Vianna, veterana sob as luzes, é show à parte em Dona Otília e outras histórias. Impressiona pela presença, por técnica, verve e capacidade de dar vida ao texto. É ela quem protagoniza os melhores momentos dirigidos pelo bom Gawronski.
Dona Otília e outras histórias – não ao acaso – é homenagem ao fazer teatral. Ainda que sob influência do teatro do absurdo, além de celebrarem os 50 anos de nascimento da autora Vera Karam (morta aos 43), Gawronski e companhia dão grande contribuição à cena mineira em momento político de transição. Fazem lembrar que o “FIT-lei” é, primeiramente, do povo – e não só de um grupo de iniciados.
Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 11/8/10
A montagem dirigida por Gilberto Gawronski, que faz última apresentação hoje, às 19h30, na Sala João Ceschiatti, reúne três textos de riqueza cômica, popular e absurda, escritos pela gaúcha Vera Karam. “Dona Otília lamenta muito”, “A florista e o visitante” e “Dá licença, por favor” compõem espetáculo hilário, costurado pelo monólogo de dramaturgia meia-boca (salva-se a intérprete) “Será que é o contrário a vida da atriz”. Gawronski, que está muito bem no palco, soube imprimir agilidade às mudanças de quadros, fazendo uso de simplicidade prática no desenho das cenas. Boa trilha e figurino correto arrematam valores técnicos. Modesta projeção, cadeiras e flores artificiais, apenas, bastam para o bom trabalho do elenco.
Das três histórias, a segunda deixa cair o espetáculo. Chega a parecer um equívoco. Não que o problema esteja em Gawronski e Letícia Isnard, que a defendem com vigor e timing. A questão está na diferença gritante do humor inteligente contido nas outras tramas. Espremida entre dois quadros geniais, “A florista e o visitante” não tem fôlego e cansa. “Dona Otília lamenta muito”, de cara, faz gargalhar e ganha a plateia, enquanto, na outra ponta, “Dá licença, por favor” encerra a curta hora de duração da peça, causando ainda melhor impressão no espectador.
Nesses quadros se destacam as atuações. Sávio Moll, excelente ator, além de se manter com segurança em seus pontos mais elevados de participação, faz escada perfeita para a impagável parceira. Guida Vianna, veterana sob as luzes, é show à parte em Dona Otília e outras histórias. Impressiona pela presença, por técnica, verve e capacidade de dar vida ao texto. É ela quem protagoniza os melhores momentos dirigidos pelo bom Gawronski.
Dona Otília e outras histórias – não ao acaso – é homenagem ao fazer teatral. Ainda que sob influência do teatro do absurdo, além de celebrarem os 50 anos de nascimento da autora Vera Karam (morta aos 43), Gawronski e companhia dão grande contribuição à cena mineira em momento político de transição. Fazem lembrar que o “FIT-lei” é, primeiramente, do povo – e não só de um grupo de iniciados.
Estado de Minas - Jefferson da Fonseca Coutinho - 11/8/10
Um comentário:
Suas resenhas são ótimas, Jefferson. Quisera ter uma boa grana para poder não perder uma só indicação sua aqui. Meu abraço. Paz e bem.
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