Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aos mortos que tanto amamos

“O planeta se alimenta de seus frutos. Da terra viemos, para a terra voltamos. Por que, então, não ter a consciência tranquila quando retornar ao lado de lá?”



Gosto das palavras novas que recolho no batidão do volante. Dezenas delas arrebatam-me o cerebelo. No Dia de Finados, “sustentabilidade” valeu-me a caderneta cheia de rabiscos e reflexões. Dois passageiros, senhores muito distintos, ferveram no assunto. Foi durante corrida longa, do Bairro São Lucas até belíssimo sítio em Esmeraldas. Eu, naturalmente, só na rebarba do conhecimento. Calei-me para ouvir a aula que o homem da cabeça prateada e o baixinho de óculos ofereciam ali, de graça. Conversa boa, como há muito não ouvia, sobre o homem e o planeta.

Sustentabilidade tem significado para mais de metro, mas vou aqui, com o meu português modesto, dividir com o amigo leitor um pouquinho do que entendi ao descer a caneta no meu bloco de estudo. Trata-se, basicamente, de equilíbrio. Da relação que construímos com tudo o que há no planeta. Houve um tempo em que o homem (ignorante que só ele) pensava que a Terra era fonte inesgotável de tudo o que nela havia. Ou seja, que a gente podia explorar; desmatar; esburacar; desperdiçar; fazer; acontecer; mandar e desmandar na natureza. Hoje, a realidade é outra. E muita gente de bem, organizada, vem fazendo de tudo pela preservação do meio ambiente.

O fato é que ignorantes e gananciosos ainda andam por aí, aos montes, destruindo a natureza. Meus dois passageiros, defensores ferrenhos da ideia da sustentabilidade, lideram movimento de ecologistas que age em todo o Brasil, com representantes em várias partes do mundo. Falaram também sobre o aquecimento global (para muitos, desdobramento da ação irresponsável do homem sobre a natureza). A conversa foi tomando um rumo científico inteligente demais para a minha cabeça operária. Contudo, acho que captei a essência da coisa.

Entendi a urgência da questão e que o futuro é agora. Que a vida é breve. Vai-se num sopro. É bastante claro que não dá mais para trabalhar com a ideia de que temos que agir apenas pelo amanhã. Temos que agir hoje, agora, pelo presente. Do contrário, o depois pode nem existir. A dupla de ilustres cidadãos, no meu carro rumo à Região Metropolitana de Belo Horizonte, falou de atitudes bem simples, nossas pequenas ações cotidianas, sobre o que fazemos com nosso lixo, por exemplo. Quase todo mundo já ouviu falar em coleta seletiva, mas, na prática pouca gente põe a mão na massa.

Com a cabeça a mil por reflexão, como efeito da aula de segunda-feira, sinto a orelha esticada pela mão de nossa mãe natureza. Caderneta revisada, no passar e repassar das páginas de papel pautado, a palavra sustentabilidade se repete. No pé de uma folha ímpar a seguinte anotação: “O planeta se alimenta de seus frutos. Da terra viemos, para a terra voltamos. Por que, então, não ter a consciência tranquila quando retornar ao lado de lá?”. Lembro-me bem de quando anotei isso. Foi enquanto o sol se afundava, diante de árvore de copa verde e frondosa, no Cemitério da Saudade, em homenagem aos meus mortos muito amados.

Bandeira Dois - Josiel Botelho - 4 de novembro de 2009

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