Jefferson da Fonseca - Mostra Tua Cara

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sem roupa, sem documento

Não era fácil para a Lucinha viver com o Lima. No início até que não foi tão sofrido, mas, poucos meses depois do enlace na capelinha de São José, o que era doce teve desfecho trágico. O camarada, de 37 anos, era sujeito bicho-homem no pior sentido da espécie. Não podia ver um rabo de saia para se portar feito galo dono de terreiro. E o Lima tinha um talento incrível para atrair galinhas. No encalço dele, tão cheio de penas, uma dúzia da mesma plumagem para as indecências sem compromisso.

Não era o caso de Lucinha, mulher à moda antiga, em busca de amor e sexo num só coração. Filha de pais apaixonados, em Bodas de Diamante, farmacêutica, Lucinha havia completado 28 anos quando conheceu o Lima, instrutor de academia das mais chiques. Foi numa festa junina. Ela já estava sozinha há quase dois anos, depois de sofrer grande desilusão nas mãos de outro sujeito besta, taxista, estúpido e mulherengo. Como sempre, mesmo sem grandes vaidades, estava linda.

Lucinha nem precisava usar nenhum tipo de maquiagem para exibir o rosto perfeito, com olhos grandes, castanhos claros, e lábios carnudos. Nariz desenhado a mão, orelhas pequenas e cabelos cheios para o alto. Usava vestido florido, rodado e bem comportado. Ainda assim, impossível não deixar à mostra a perfeição do corpo negro. O personal, todo enrolado com uma porção de donas moderninhas, ali, só teve olhos para a Lucinha.

Chegou macio, galante, como só ele sabia e ganhou a doutora, carente, muito afim de encontrar novo amor. O Lima ficou maluquinho pela “moça pra casamento” – foi o que disse ao colega de salão de ginástica. “Chega uma hora que a gente quer é um pouco de paz. A vadiagem também cansa, né não, Marcelão!?” O amigo recém-casado, feliz da vida, deu a maior força para o Lima. “É isso aí, Limão!”.

A fidelidade do Lima durou sete meses e 18 dias. Bastou pintar uma periguete da Zona Sul, chegada num sexo casual, para o instrutor chifrar a Lucinha. Daí, trair e coçar foi só começar. Lima, casado, voltou ao velho esquema dos quadris mais oferecidos. Lucinha descobriu e ficou em frangalhos. Chorava todas as noites mais uma desilusão no amor. No entanto, não tinha coragem de tocar no assunto. A paixão tem suas lá as suas tolices.

Chegou a pensar que o problema estava nela e tentou fazer de tudo para salvar o casamento. Comprou novas lingeries e aprendeu a fazer novos pratos para o Lima comer cada vez melhor em casa. Nada. Cachorrão, o sujeito queria mais e mais fora de casa. Esgotada, fora de si, a farmacêutica aplicou sonífero no suco de gabiroba em jantarzinho especial. Amarrou o sujeito nu na cama e cortou-lhe sem dó os documentos.

Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 23/4/12

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom seus contos. São retratos fiéis da realidade. Tão reais que conheço um caso muito parecido com esse aqui e pra completar o filho da puta é personal. Agora só falta ela cortar o pinto dele fora.