Na noite em que Abigail nasceu não havia uma única estrela. No entanto, no instante em que ela escorregou do ventre de Isadora, um meteorito negro, vindo das profundezas do céu, arrebentou um cômodo do imóvel da família no Norte de Minas. Os moradores da rua sem saída correram para ver o estrago: de um lado, na sala, cratera com quatro metros de diâmetro; do outro, no quarto de casal, de olhos muito vivos, Abigail, pesando 3 quilos, trazida ao mundo pelas mãos de velha parteira. A mãe, surda-muda, em horas, teve os seios murchos e sentimento estranho, que a fez temer o rebento. Mau presságio.
Filha única de Isadora e Dirceu, delegado, Abigail ganhou fama no lugarejo: “Que cegonha nada... a filha do doutor veio foi no rabo do cometa”, comentavam em boca miúda. A menina cresceu e com ela o diabo no corpo. Para o desespero do pai, a sujeita não gostava de usar calcinhas e vivia em saias curtas a provocar tudo o que era macho do lugar. Por ciúmes do pai – muito agarrado com a mulher –, a garota colocou veneno de rato na comida da mãe. Enquanto Isadora agonizava, sem voz para pedir ajuda, a filha assassina passou-lhe a mão pelos cabelos e ainda soprou canção de ninar: “Dorme, mamãe...”
Abigail não só ajudou a preparar cuidadosamente o corpo da mãe, como fingiu chorar tristeza, abraçada ao pai, ao lado do caixão. Arrasado, o delegado sofreu horror a ausência da companheira. Já Abigail seguia rasteira a se enrabichar às escondidas com os rapazes mais corajosos da região. Pouco tempo passado, aos 19 anos, a coisa ruim resolveu se mudar para Belo Horizonte. Depois de fazer amizade com gigolô na internet, decidiu vencer na cidade grande. “Com o seu tipo, vais fazer o maior sucesso por aqui, princesa...”, escreveu o pilantra, vendo as fotos da sujeita. Não deu outra: Abigail roubou economias do pai, cada vez mais atento às tramas da filha, e alugou apartamento no Bairro de Lourdes.
Carioca, o tal “amigo” das redes sociais, cuidou de tudo. Até buscou a nova mercadoria na rodoviária: saltos de meio palmo, mini-saia rodada, blusinha de oncinha, decotada e os cabelos aloirados. Levou-a para o novo apartamento e, lá, os dois passaram o dia em indecências. “Onde se ganha o pão não se come a carne, mas você é o diabo, princesa! O diabo!”, sussurrou Carioca, suando em bicas embaixo de Abigail. O primeiro cliente já havia pago adiantado pela “Ninfa Meteoro”, anunciada no site de encontros. Comprou-a pela foto de corpo inteiro. Na suíte 802 de hotel de luxo, em nova noite sem estrelas, findou-se a tragédia: o delegado fuzilou a filha para se matar em seguida.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 2/4/12
Filha única de Isadora e Dirceu, delegado, Abigail ganhou fama no lugarejo: “Que cegonha nada... a filha do doutor veio foi no rabo do cometa”, comentavam em boca miúda. A menina cresceu e com ela o diabo no corpo. Para o desespero do pai, a sujeita não gostava de usar calcinhas e vivia em saias curtas a provocar tudo o que era macho do lugar. Por ciúmes do pai – muito agarrado com a mulher –, a garota colocou veneno de rato na comida da mãe. Enquanto Isadora agonizava, sem voz para pedir ajuda, a filha assassina passou-lhe a mão pelos cabelos e ainda soprou canção de ninar: “Dorme, mamãe...”
Abigail não só ajudou a preparar cuidadosamente o corpo da mãe, como fingiu chorar tristeza, abraçada ao pai, ao lado do caixão. Arrasado, o delegado sofreu horror a ausência da companheira. Já Abigail seguia rasteira a se enrabichar às escondidas com os rapazes mais corajosos da região. Pouco tempo passado, aos 19 anos, a coisa ruim resolveu se mudar para Belo Horizonte. Depois de fazer amizade com gigolô na internet, decidiu vencer na cidade grande. “Com o seu tipo, vais fazer o maior sucesso por aqui, princesa...”, escreveu o pilantra, vendo as fotos da sujeita. Não deu outra: Abigail roubou economias do pai, cada vez mais atento às tramas da filha, e alugou apartamento no Bairro de Lourdes.
Carioca, o tal “amigo” das redes sociais, cuidou de tudo. Até buscou a nova mercadoria na rodoviária: saltos de meio palmo, mini-saia rodada, blusinha de oncinha, decotada e os cabelos aloirados. Levou-a para o novo apartamento e, lá, os dois passaram o dia em indecências. “Onde se ganha o pão não se come a carne, mas você é o diabo, princesa! O diabo!”, sussurrou Carioca, suando em bicas embaixo de Abigail. O primeiro cliente já havia pago adiantado pela “Ninfa Meteoro”, anunciada no site de encontros. Comprou-a pela foto de corpo inteiro. Na suíte 802 de hotel de luxo, em nova noite sem estrelas, findou-se a tragédia: o delegado fuzilou a filha para se matar em seguida.
Vida Bandida - Jefferson da Fonseca Coutinho - 2/4/12
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