Fala-se muito no diabo. Mas pior que o coisa ruim é a mulher
dele. Quem já viu de perto sabe bem da flor que não se cheira e se repete - de
tempos em tempos nasce uma praga disfarçada de rosa. São do tipo que, nos
assaltos, atiram sem dó, com a vítima rendida. E no final do século 20, num
redemoinho na Região Hospitalar de Belo Horizonte, nascia Demolina. Feia não tinha
a cara da maldade. No entanto, os mais antigos percebiam sem demora, no fundo
do olho em trevas, tratar-se do cão chupando manga.
A mãe, coitada, nada teve a ver com a semente do mal.
Embarrigou-se do vento em noite de bebedeira. Logo depois do parto, a pobre
mulher teve o ventre seco e morreu de colapso sem explicação. Findou-se,
simplesmente, no dia em que trouxe à luz a pequena diaba. Indigente, sem pai ou
qualquer parente presente, Demolina foi parar no colo de assistente social, cinquentona
viúva, solitária, cheia de boa intenção. A mulher, Iracema, até que teve
dúvida. Por fim, não resistiu e tomou para si o mal em corpo de criança.
Adormecida, a fêmea do capeta cresceu na criança até o corpo
feito de mulher. No aniversário de 18 anos, a menina comum se transformou da
noite para o dia. Dona Iracema, a mãe adotiva, soube logo pela manhã a falta de
coração da sujeita. Do nada, como o ventre seco da progenitora morta, a
assistente social sentiu aperto no peito que fez arder a alma. Mesa posta para
duas, como de costume: pão e frutas em toalha bordada à mão. Ali, Demolina
fulminou Iracema: infarto. A mulher definhou sem a menor atitude da filha de
criação.
Herdeira da casa e de todos os pertences da viúva, Demolina
tratou enterro barato e botou tudo fora pelo dinheiro que apareceu, vindo das
mãos de enviado de irmão de dona Iracema. Um tio distante, pastor, que nunca se
enganou com a figura. Logo que a irmã apresentou a menina à família, Agenor foi
quem disse na lata: “Besteira. Isso aí não presta”. O homem juntou esposa, filha
recém-nascida e sumiu rumo ao Espírito Santo. “Não vamos ficar por perto para
ver crescer a desgraça”, foi como se despediu da irmã.
Iracema sepultada, Demolina ajeitou mudança e fez de
inferninho casa velha no Bairro Floresta. Lá, indecente, por seis meses, acabou
com a vida de todo sujeito casado que encontrou pela frente - chegou a enterrar
dois no fundo do quintal. A diaba saiu
do armário e decidiu também ferrar as moças. Virou ao avesso o quadril de ao
menos uma dúzia das mais fracas. Até que, por obra do destino, se engraçou com
a filha do tio pastor. A menina tinha acabado de chegar do Espírito Santo para
estudar medicina. Quando soube, Agenor não titubeou: comprou 38 na Grande
Vitória e descarregou tambor na mulher do capeta.
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